Se leilão offshore português não avançar em 2024, “competimos noutros países”

Rodriguez Sanchez, da Ocean Winds, empresa que junta a EDP Renováveis e a Engie para investimentos na área da energia eólica offshore, afirma que pode virar-se para outras geografias.

O CEO da Ocean Winds, Bautista Rodriguez Sanchez, afirma que a decisão sobre o momento certo para apostar na energia eólica no mar — eólica offshore — é sobretudo política. Quanto ao leilão português, a empresa diz-se pronta para avançar, tendo já alguns pré-acordos com a cadeia de valor. No entanto, caso o país não avance com o leilão este ano, a OW tem outras geografias na calha, afirma.

“Se Portugal lançar o leilão no muito curto prazo, ótimo. Se esperarem alguns anos, para nós não é terrível, porque isto é uma indústria global. Então, se a oportunidade estiver em Portugal, competimos em Portugal. Se em Portugal, em 2024, nada acontecer, competimos noutros países da Europa, ou mesmo fora da Europa”, indica Rodriguez Sanchez, em entrevista ao ECO/Capital Verde, ressalvando que a empresa preferia um lançamento “tão cedo quanto possível”.

Embora remeta a decisão do momento certo para o leilão para o Governo, o responsável da OW expõe os pesos que considera estarem em jogo em cada um dos lados da balança. “No futuro poderei ter [energia eólica offshore] mais barata, mas talvez possa perder na dimensão industrial” ou “pagar um pouco mais agora pela eletricidade, mas introduzir um grande motor para a minha economia“, contrapõe. Na sua visão, “há oportunidades enormes para captar unidades para o país”, que se estendem ao longo da cadeia: portos, navios e fabricantes de componentes.

Estamos prontos para competir quando o Governo lançar o leilão.

Entrando mais tarde no mercado, não é certo se ainda será necessário desenvolver indústria à volta deste setor, pois esta pode ir-se estabelecendo noutras localizações. “É um tema de estratégia política, acelerar ou não”, conclui.

OW “pronta”. Viana é a área preferida

A OW está já presente com um projeto de eólico offshore flutuante, que foi pioneiro no mundo, ao largo de Viana do Castelo. “Todas as áreas são interessantes”, diz, mas Viana do Castelo “é uma clara referência”. A OW já se debruçou, contudo, sobre todas as áreas, e o líder é perentório: “Estamos prontos para competir quando o Governo lançar o leilão“.

A prontidão passa por já ter alguns acordos pré-estabelecidos com empresas da cadeia de valor. Rodriguez Sanchez não especifica quem são estes parceiros, mas admite que alguns são portugueses.

Quanto à modalidade do leilão que prefere, o CEO da Ocean Winds afirma que “é mais fácil” licitar tudo em conjunto: áreas, tarifas, interconexões. Mas reconhece que pode sair mais caro do ponto de vista do país promotor, pelo que considera, novamente, “uma decisão política”. De qualquer forma, refere que a empresa tem experiência nos dois tipos de leilão (sendo a segunda hipótese sequencial, atribuindo primeiro as áreas e depois as restantes componentes), pelo que, qualquer que seja a opção tomada, não será um obstáculo para o OW.

Cadeia de valor é “dificuldade”, mas rombo como o da Orsted “não existirá”

Construir uma cadeia de valor a uma velocidade equivalente àquela a que a energia eólica offshore se quer dissipar “é, hoje, uma das principais barreiras” a que as metas de capacidade sejam alcançadas atempadamente. Para Bautista Rodriguez Sanchez, as metas que têm vindo a ser avançadas globalmente “são realistas” na sua dimensão, mas não tanto no horizonte temporal. “O grande desenvolvimento no offshore deverá ser uma realidade, mas os timings podem ser, por vezes, otimistas“, indica.

Para a Europa, que considera um mercado “mais maduro” que os Estados Unidos, acredita que seja atingida a capacidade pretendida dentro de dez anos. Do outro lado do Atlântico, a América do Norte “passou por tempos difíceis nos últimos dois anos”, mas já vê recuperação.

O grande desenvolvimento no offshore deverá ser uma realidade, mas os timings podem ser, por vezes, otimistas.

Um contratempo emblemático foi o caso da Orsted, que desistiu de dois projetos ao largo da costa dos Estados Unidos, o que lhe custou mais de 3 mil milhões de euros, motivada por custos agravados do projeto. Acabou, uns meses depois, por também anunciar a desistência do leilão português, onde era uma das interessadas.

A OW tem três projetos nos Estados Unidos, um em desenvolvimento e dois numa fase inicial. Bautista Rodriguez Sanchez reconhece que a empresa também teve de pagar penalizações na ordem das dezenas de milhões de euros – e não milhares de milhões como o concorrente – para desistir de um projeto, mas os três que tem anunciados mantêm-se de pé. “Em princípio, todos os projetos que temos estão a desenvolver-se no tempo normal e nas condições de mercado, financeiras, macroeconómicas que há agora. Far-se-á ou não, mas não terão esses problemas”, assegura, afirmando que até ao momento não registaram problemas porque não fecharam compromissos “demasiado cedo”.

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