Luz Saúde: Venda direta e IPO no retalho como opções para levantar capital

A dona do Hospital da Luz está a avaliar outras opções para financiar o crescimento, depois de ter anunciado a suspensão da operação para regressar à bolsa devido a condições de mercado "adversas".

Depois de não conseguir reunir as condições necessárias para avançar com a oferta pública inicial (IPO, na sigla anglo-saxónica) com um preço que reconheça o valor da empresa, o grupo Fidelidade tem em cima da mesa duas alternativas, sabe o ECO.

As novas opções para levantar capital que estão a ser equacionadas pela empresa incluem, segundo o ECO apurou, a venda direta de uma posição minoritária – a Fidelidade pretende manter a maioria do capital da Luz Saúde – a um investidor institucional, ou a realização de um IPO destinado a investidores particulares.

Menos de duas semanas depois de ter revelado o seu plano para voltar à bolsa, através da emissão de novas ações junto de investidores institucionais, nacionais e estrangeiros, a gestora de unidades de saúde privadas informou que, “devido às condições de mercado atualmente adversas, a Luz Saúde S.A. (‘Luz Saúde’) e a sua acionista maioritária Fidelidade – Companhia de Seguros S.A. (‘Fidelidade’) decidiram não iniciar o roadshow e o processo de bookbuilding para o IPO da Luz Saúde na bolsa de valores Euronext Lisbon”.

A Luz Saúde e a Fidelidade adiantam, no mesmo comunicado, que vão continuar a monitorizar “as condições de mercado e a evolução favorável das avaliações do setor da saúde e poderão considerar a possibilidade de retomar o processo de IPO num contexto propício a uma transação bem-sucedida e que reconheça o valor da empresa“.

O processo e os contactos internacionais abriram novas opções e avenidas de crescimento interessantes, as quais definitivamente vale a pena serem consideradas, tanto pela Luz Saúde como pela Fidelidade, uma vez que suspendemos a opção de IPO.

Isabel Vaz

CEO da Luz Saúde

A CEO do grupo de saúde referiu que, apesar do contexto de mercado ter piorado fruto da maior volatilidade, resultando “numa janela ‘sub-óptima’ para prosseguirmos com o nosso IPO”, “o processo e os contactos internacionais abriram novas opções e avenidas de crescimento interessantes, as quais definitivamente vale a pena serem consideradas, tanto pela Luz Saúde como pela Fidelidade, uma vez que suspendemos a opção de IPO”, diz Isabel Vaz.

Pedro Lino, CEO da Optimize, lamenta a decisão de adiar a operação, uma vez que a gestora estava interessada em comprar ações da empresa. Para o mesmo responsável, na base da suspensão da operação “deverá ter estado o diferencial de avaliação do mercado e a expectativa do acionista“.

A nossa avaliação apontava para um valor próximo dos 800 milhões de euros e não os mil milhões indicados pela empresa. Este deve ter sido o maior entrave e não a instabilidade dos mercados até porque após uma correção, os mercados regressaram às subidas”, considera Lino.

A nossa avaliação apontava para um valor próximo dos 800 milhões de euros e não os mil milhões indicados pela empresa. Este deve ter sido o maior entrave e não a instabilidade dos mercados até porque após uma correção, os mercados regressaram às subidas.

Pedro Lino

CEO da Optimize

“Há uma questão no IPO, que é a falta de particulares. Um terço do capital [a dispersar em bolsa] deveria ser entregue ao mercado de retalho“, destaca António Seladas, num comentário à suspensão da operação. O analista de ações da AS Independent Research refere que a inclusão do retalho no IPO, além de dar liquidez ao título, poderia ainda suportar os preços da operação. “É o retalho que faz subir as avaliações“, justifica.

Já quanto à venda de uma percentagem do capital a um investidor, Seladas considera que uma das alternativas em cima da mesa para a Luz Saúde “é recorrer a um fundo private equity“. João Queiroz, head of trading do Banco Carregosa, também admite que a empresa pode “equacionar captar investimentos de fundos de private equity, capital de risco ou outros investidores institucionais”.

“Tal poderia fornecer à empresa acesso a recursos significativos mas geralmente envolve ceder algum grau de controlo acionista e estratégico. A viabilidade deste cenário depende da atratividade da Luz Saúde como investimento para os Fundos, da sua capacidade de gerar retornos e das condições do mercado de private equity“, explica.

Volatilidade pressiona sentimento

A Luz Saúde tem vindo a preparar ao longo do último ano a operação de regresso ao mercado de capitais, contudo não ter conseguido um preço considerado satisfatório e o aumento da volatilidade nos mercados levou a empresa a adiar a operação.

O reajustamento das expectativas em relação à política monetária norte-americana, associado ao aumento das tensões no Médio Oriente nas últimas semanas têm aumentado a instabilidade nos mercados.

O VIX, o chamado índice do medo, que mede a volatilidade do mercado de ações com base nas opções do índice S&P 500, calculado e divulgado em tempo real pelo CBOE, sobe perto de 9% desde a véspera da divulgação dos planos da Luz Saúde para o seu IPO.

“Nesta operação específica, a Luz Saúde encontra um ambiente em que os receios do mercado podem estar intensificados pelo recente acréscimo de volatilidade observada nos mercados, e em que provavelmente as indicações preliminares poderiam sugerir maior conservadorismo nas avaliações no IPO da Luz Saúde, podendo estar abaixo das expectativas dos acionistas, e/ou que não resultaria vantajosa nem equitativa operação, quando as perceções de risco resultam mais enviesadas, obtendo-se esta decisão prudente e adaptada às condições de mercado”, justifica João Queiroz, head of trading do Banco Carregosa.

António Seladas também admite que a empresa “teve algum azar”, com a inflação nos Estados Unidos a revelar-se mais persistente e a atrasar o início da descida de juros no país. Ainda assim, para o analista, as “condições de mercado adversas não é argumento” para cancelar o IPO, remata.

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