BRANDS' CAPITAL VERDE Hidrogénio é a peça que falta para o puzzle da transição energética
Tecnologia é apontada como promissora para a jornada da descarbonização e pode ser a solução para um dos maiores desafios das energias renováveis: a intermitência da produção.
Portugal é frequentemente apontado como um promissor produtor de energias renováveis, em grande medida pelas suas características naturais: é rico em exposição solar, com disponibilidade hídrica e muito vento. A junção destes fatores pode muito bem tornar o país num dos principais produtores de energia verde na Europa e torná-lo particularmente atrativo para a instalação de indústrias com grandes necessidades energéticas. Mas há desafios que ainda não foram ultrapassados e cuja resposta pode ser encontrada na produção de hidrogénio a partir de fontes renováveis, um aliado essencial para cumprir a meta da neutralidade carbónica até 2045.
O que é e como se produz?
Apesar da produção de hidrogénio não estar dependente das condições meteorológicas, a ambição de obter hidrogénio – e utilizar este como substituto ou para o fabrico de combustíveis (hidrocarbonetos) – baseia-se na capacidade de usar o sol, a chuva ou o vento para proceder à quebra de moléculas de água para se obter hidrogénio e oxigénio. Assim, com a utilização do processo de eletrólise (através de eletrolisadores) esta divisão de moléculas de água em hidrogénio e oxigénio é conseguida através da eletricidade. Se essa eletricidade tiver origem em fontes renováveis, é possível produzir o chamado hidrogénio verde – livre de emissões e sem impactos negativos no ambiente. Na teoria, nada que seja muito complicado. Na prática, temos que conseguir casar os momentos em que existe eletricidade renovável disponível para produzir e armazenar, o que quer dizer que poderemos ter períodos sem qualquer produção. Nesse aspeto, e para comparação, nada diferente do uso habitualmente fazemos do automóvel durante o dia, muitas vezes restrito a menos de duas horas das 24 do dia…
Que vantagens nos oferece o hidrogénio verde?
Para lá da produção verde com base em energias renováveis, o hidrogénio permite resolver alguns dos principais desafios das tecnologias hoje utilizadas para a produção de energia. Um deles é a sazonalidade da geração, ou seja, a produção de renováveis nem sempre coincide com a procura. Por exemplo, numa casa com painéis fotovoltaicos, a energia é produzida durante o dia quando as pessoas estão fora quando normalmente o consumo é mais reduzido. Se a energia não for armazenada, como por exemplo numa bateria, terá de ser injetada na rede ou então será desperdiçada.
Enquanto o armazenamento de energia fotovoltaica, eólica ou hídrica recorre a utilização de baterias ou a barragens com capacidade de bombagem – cuja aquisição e manutenção tem naturalmente custos -, o hidrogénio verde pode armazenado ou distribuído para consumo na rede, respondendo às necessidades de consumo quando for necessário, dado que o gás tem uma inércia na distribuição que facilita o casamento entre a procura e oferta.
Que aplicações tem?
O hidrogénio verde tem sido apontado por vários especialistas como a peça que falta no puzzle da transição energética, já que permite apoiar diretamente os esforços de descarbonização das atividades industriais que exigem grandes quantidades de energia, que se baseiam em processos que requerem temperaturas elevadas ou mesmo que necessitam de hidrogénio (quase metade da produção é feita pela reforma a vapor, a partir de gás natural, dado origem à emissão de CO e CO2) ou hidrocarbonetos. Aliás, de acordo com dados da Agência Internacional de Energia (AIE), a utilização de hidrogénio verde permitiria poupar 830 milhões de toneladas de CO2 só pela forma como é produzido.
Mas este gás renovável tem grande potencial transformador se aplicado ao setor dos transportes, nomeadamente na aviação, no transporte marítimo ou pesado rodoviário. No que toca ao transporte pesado de mercadorias, existem múltiplos projetos baseados em hidrogénio. A Keyou, empresa alemã cofundada por um engenheiro português, está a converter frotas de camiões movidos a diesel em motores capazes de funcionar à base de hidrogénio, permitindo poupanças avultadas em combustível e alavancando a descarbonização.
Portugal está a apostar em hidrogénio?
Desde 2020 que está definida a Estratégia Nacional para o Hidrogénio, que estabelece metas concretas a médio prazo. O objetivo, lê-se, é promover “a introdução gradual do hidrogénio verde enquanto pilar sustentável e integrado numa estratégia mais abrangente de transição para uma economia descarbonizada”. Entre as metas a cumprir até 2030, destaque para a injeção de 10% a 15% de hidrogénio verde nas redes nacionais de gás natural, assim como a instalação de 2 GW a 2,5 GW de capacidade instalada em eletrolisadores e a criação de 50 a 100 postos de abastecimento de hidrogénio. Se olharmos aos objetivos setoriais, a estratégia aponta para que 2% a 5% do consumo de energia na indústria venha do hidrogénio, 1% a 5% nos transportes rodoviários, 3% a 5% no transporte marítimo doméstico e 1,5% a 2% no consumo final de energia do país.
O Plano de Recuperação e Resiliência tem uma verba prevista de 185 milhões de euros para apoiar e incentivar o crescimento do mercado de hidrogénio.
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