Exclusivo Gigante americana dos chips investe 25 milhões em Portugal
Plano de expansão da Synopsys prevê contratação de 200 engenheiros “altamente qualificados" nos semicondutores, compra de equipamentos para laboratórios e aumento dos escritórios na Maia e em Oeiras.
A gigante Synopsys, líder mundial em soluções de EDA (Electronic Design Automation) e IP (Intelectual Property) para semicondutores, vai avançar com um investimento de 25 milhões de euros em Portugal nos próximos “três a quatro anos”, adiantou ao ECO o vice-presidente de engenharia do grupo norte-americano e responsável pela operação em Portugal, Célio Albuquerque.
O plano de expansão para este período prevê a contratação de, pelo menos, mais 200 engenheiros “altamente qualificados na área dos semicondutores”, a compra de novos equipamentos tecnológicos para os laboratórios de teste e ainda o alargamento dos escritórios localizados na Maia (Tecmaia) e em Oeiras (Lagoas Park), onde a multinacional fundada há 38 anos em Silicon Valley emprega atualmente 720 pessoas.
“Vamos alargar a gama que estamos a desenvolver em Portugal nas áreas de automotive, nas próximas gerações de produtos de mobile e também no sentido de especialização nas novas tecnologias que vão sendo lançadas na área dos semicondutores”, descreve o porta-voz da Synopsys, que diz encontrar no mercado nacional “uma ótima relação preço-qualidade na engenharia e também capacidade técnica e de gestão que tem permitido captar novas competências”.
Vamos investir à volta de 25 milhões de euros nos próximos três a quatro anos. Em Portugal encontramos uma ótima relação preço-qualidade na engenharia e também capacidade técnica e de gestão que tem permitido captar novas competências.
A entrada em Portugal aconteceu há 15 anos através da compra dos ativos que estavam nas mãos da norte-americana MIPS Technologies, que em 2007 tinha dado 147 milhões de dólares em dinheiro e cerca de cinco milhões de dólares em ações suas cotadas no Nasdaq para ficar com a Chipidea, fundada uma década antes por uma equipa liderada por José Epifânio da Franca. Desde essa altura, calcula já ter investido 25 milhões de euros no país, onde tem a mais relevante operação de engenharia a nível europeu.
“Faremos agora um investimento da mesma ordem de grandeza. Porquê a diferença de valores? Porque já estamos a crescer de uma forma mais acelerada e o custo das pessoas e também dos equipamentos tecnológicos para os laboratórios onde testamos as funcionalidades têm aumentado consideravelmente”, aponta o líder da equipa nacional, que se dedica ao desenho de interfaces para os chips, que são depois incorporados em equipamentos eletrónicos. Segundo a AICEP, esta é a maior empresa de engenharia eletrónica no país.
Com um total de 20 mil funcionários distribuídos por 125 escritórios a nível mundial, receitas anuais de 6,3 mil milhões de euros e 3.360 patentes registadas, a Synopsys emprega neste momento 420 pessoas na Maia e 300 em Oeiras, onde no ano passado expandiu o espaço de escritório para passar a ocupar um piso inteiro no Edifício 4 do Lagoas Park, num total de 1.300 metros quadrados.
Célio Albuquerque frisa que o recrutamento será feito para ambos os centros, embora haja “uma expectativa de crescer mais” no parque nortenho, em que já está a “discutir a possibilidade” de ocupar um quarto piso. “Um plano a três a quatro anos precisa de preparação”, justifica.
À caça de fabricantes para engrossar o cluster
Embora nos últimos anos o país tenha conseguido captar investimento estrangeiro de outras multinacionais como a Renesas, Aurasemi, Nanopower e, mais recentemente, a Monolithic Power Systems e a AMD/Xilinx — que juntaram-se às portuguesas SiliconGate, PICadvanced, PETsys Electronics, Powertools Technologies, Koala Tech, IOBundle ou IPblop –, ao todo, segundo contabilizou recentemente o Governo, existem apenas 20 empresas com atividade direta no setor da microeletrónica e dos semicondutores (12 em Lisboa, três no Porto, três em Setúbal e duas em Aveiro).
A par da Synopsys, o “porta-aviões” deste cluster em Portugal tem sido a subsidiária da também americana Amkor Technology, sediada no Arizona, que há pouco mais de sete anos comprou à Nanium, a empresa que nasceu da falência da Qimonda e era detida pelo Estado (18%, através da AICEP), pelo BCP (41%) e pelo Novobanco (41%). Com mais de 800 trabalhadores, a fábrica de Vila do Conde conta igualmente com um plano de expansão para a instalação de novas linhas e acaba de ser escolhida pela Amkor e pela Infineon para acolher um novo centro para o encapsulamento, montagem, assemblagem e teste de semicondutores, que deverá entrar em funcionamento no primeiro semestre de 2025.
O responsável da Synopsys, que tem projetos com a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), Instituto Superior Técnico (IST) e as Universidades de Aveiro, Minho e Nova de Lisboa, frisa que “o importante é criar talento” e que “haver mais estudo focado nesta área permite que mais empresas venham e que o ecossistema consiga alargar-se”. “Temos investido muito na educação. Há ainda poucas empresas em Portugal, o que faz com que o interesse dos alunos por esta área não seja muito forte. Temos de nos tornar mais visíveis para que entendam que há, de facto, um mercado e saídas profissionais”, acrescenta Célio Albuquerque, que entrou no ano 2000 para o projeto da Chipidea.
Há poucos meses, ainda com o anterior Governo, foi aprovada em Conselho de Ministros a Estratégia Nacional para os Semicondutores, prevendo um envelope financeiro de 121,1 milhões de euros até 2027, através da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e da Agência Nacional de Inovação (ANI), dos quais 39 milhões para aplicar já este ano.
Na resolução publicada em janeiro, o Executivo dava letra de lei à previsão de que a procura mundial de chips irá duplicar até ao final da década, ultrapassando um valor de mercado de um trilião de dólares, e que “estão no centro de fortes interesses geoestratégicos e da corrida tecnológica mundial”.
Queremos muito atrair o fabrico de semicondutores para Portugal. Geralmente são investimentos de grande dimensão, são esses que compensam nesta área.
Foi de Silicon Valley que chegou há duas semanas o presidente da AICEP, já depois de em março ter viajado para o Japão e para a Coreia do Sul em missões de angariação de investimento para esta área, onde abordou várias empresas e associações de fabricantes.
Em declarações ao ECO, Filipe Santos Costa assegura que a diplomacia económica está a fazer “um grande esforço para a atração de mais indústrias da fileira dos semicondutores”, incluindo na produção. “Queremos muito atrair o fabrico de semicondutores para Portugal. Geralmente são investimentos de grande dimensão, são esses que compensam nesta área”, destaca.
O governo da Coreia do Sul acaba de anunciar um pacote de auxílio financeiro de cerca de 7 mil milhões de euros destinados a reforçar a sua indústria de semicondutores. Nas reuniões que teve nas últimas semanas com os potenciais investidores asiáticos, o líder da AICEP apresentou como principais argumentos a disponibilidade de “solo industrial viável para licenciamento ambiental e empresarial”, de “talento com uma excelente relação preço-qualidade” e de “eletricidade verde a bom preço” para uma atividade de manufatura que é muito intensiva em termos energéticos.
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