Altri. Princípio do fim de uma união acionista ou novo ciclo de investimentos?
As empresas controladas por Paulo Fernandes, João e Pedro Borges de Oliveira, Domingos Vieira de Matos e Ana Mendonça, filha do falecido Pedro Mendonça, têm vindo a perder ativos.
A Ramada Investimentos acordou, esta semana, a venda da Ramada Aços e das suas subsidiárias a Pedro Borges de Oliveira por 70 milhões de euros. O empresário, que integra o núcleo de acionistas da Ramada e de outros negócios na bolsa portuguesa, passa a controlar sozinho este segmento de negócio. Esta operação surge apenas alguns meses após a venda dos ativos da Cofina à Expressão Livre e dos mesmos acionistas terem aceitado vender as suas posições na OPA da Greenvolt lançada pela KKR.
Dos quatro negócios – Altri, Ramada, Greenvolt e Cofina – que Paulo Fernandes, João e Pedro Borges de Oliveira, Domingos Vieira de Matos e Ana Mendonça, filha do falecido Pedro Mendonça, controlam juntos, apenas um segue sem alterações: a Altri. Estes ramos empresariais formam um núcleo acionista histórico num conjunto de importantes empresas da bolsa portuguesa, com a papeleira à cabeça. No entanto, com exceção da Altri, todas as outras empresas controladas por esta união empresarial, formada nos anos 80, têm vindo a perder ativos.
A última cotada a perder ativos foi a Ramada. Pedro Borges de Oliveira, através da sociedade que controla as suas participações, a 1 Thing Investments, e que em janeiro superou a fasquia dos 10% na Greenvolt, comprou a Ramada Aços e as subsidiárias que esta controla direta e indiretamente: Universal – Afir, Planfuro Global, Ramada Solar e Blau Stahl. A sociedade 1 Thing detinha uma participação qualificada de 10,004% do capital social e dos direitos de voto da Ramada Investimentos. O presidente do Conselho de Administração, Pedro Borges de Oliveira, é simultaneamente administrador da Ramada Investimentos e da Ramada Aços.
Pedro Borges de Oliveira é, aliás, dos cinco empresários que formam esta união, o que detém a participação mais baixa na Ramada Investimento. Domingos Vieira de Matos, através da Livrefluxo, controla 12,162%, a Promendo Investimentos, de Ana Mendonça, filha de Pedro Mendonça), tem 18,9% do capital, a Actium Capital (Paulo Fernandes), detém 15,64%, e a Caderno Azul (João Borges de Oliveira), surge com 20,67%, segundo a informação disponibilizada no site da empresa.
A Ramada Investimentos controla um conjunto de empresas que, no seu conjunto, exploram dois segmentos de negócio distintos: o segmento Indústria, que inclui as atividades aços especiais e Trefilaria [Socitrel], assim como a atividade relacionada com a gestão de investimentos financeiros relativos a participações em que o Grupo é minoritário; o segmento imobiliário, vocacionado para a gestão de ativos imobiliários.
Além da Ramada, que fica sem uma parte dos ativos, estes acionistas já tinham vendido, no ano passado, os ativos da Cofina à Expressão Livre. Domingos Vieira de Matos, Paulo Fernandes e João Borges de Oliveira, os três acionistas da Cofina SGPS, também seguiram para a nova fase da Cofina Media, entretanto nomeada Medialivre e que foi comprada por quadros do grupo (MBO).
No caso da Greenvolt, todos os acionistas de referência da empresa concordaram vender as suas posições à norte-americana Kohlberg Kravis Roberts (KKR), num total de 60,86% do capital da empresa liderada por João Manso Neto. Destas quatro empresas, apenas a Altri mantém a sua estrutura de negócios inalterada.
“As alterações nas estruturas de acionistas são comuns em grupos empresariais de grande escala e podem ser motivadas por diversas razões estratégicas ou até mesmo pessoais”, refere Henrique Tomé. Para o analista da XTB, “no caso da Altri e a venda da participação na Ramada a Pedro Borges de Oliveira, tais movimentos podem refletir uma reorientação nas estratégias de investimento, necessidades de liquidez, ou mudanças nas relações internas entre os acionistas”, o que não significa o fim de uma parceria acionista, “mas antes uma adaptação às necessidades e oportunidades do mercado”.
O analista reconhece, porém, que “após as vendas recentes de participações na Cofina, Greenvolt e Ramada, podemos presenciar uma nova reconfiguração acionista também na Altri. Mudanças significativas como estas em um grupo de empresas frequentemente sinalizam ajustes estratégicos mais amplos dentro dos núcleos acionistas.”
Aquele núcleo [de empresários] tem apresentado uma história de sucessos muito baseados em expertise, visão de negócio e liderança, quando numa perspetiva de especialização e de competências os seus acionistas optam por assumir o controlo maioritário de um ou conjunto de ativos detidos, algo que é muito comum em grupos de empresas, sobretudo, nas economias mais dinâmicas.
Para João Queiroz, head of trading do Banco Carregosa, “aquele núcleo [de empresários] tem apresentado uma história de sucessos muito baseados em expertise, visão de negócio e liderança”, notando que, “numa perspetiva de especialização e de competências os seus acionistas optam por assumir o controlo maioritário de um ou conjunto de ativos detidos, algo que é muito comum em grupos de empresas, sobretudo, nas economias mais dinâmicas”. “É prematuro afirmar que a alienação daquelas cotadas representa o fim definitivo do núcleo acionista da Altri na realização de parcerias, quando poderão estar a iniciar um novo ciclo de diversificação, de novos investimentos ou de adicionar novas competências que acrescentem valor ao atual mix de ativos ao núcleo atual”, aponta.
Uma história de investimentos e desinvestimentos
Esta parceria de negócios começou a ser desenhada nos anos 80, quando Paulo Fernandes e João Borges de Oliveira, parceiros de negócios, se juntaram a Vieira de Matos na Cortal, uma empresa de mobiliário.
Já Pedro Mendonça, pai de Ana Mendonça, entrou neste núcleo aquando da fusão com a Seldex, empresa de móveis criada por Ernesto Mendonça e posteriormente assumida pelo filho Pedro, em 1976. Com a criação da Cortal-Seldex, entretanto vendida à Haworth, Pedro Mendonça e Paulo Fernandes ficaram a partilhar a administração.
Através da Cofina – sociedade que se mantém, mas agora com a liquidez gerada pela venda dos ativos de media – , os cinco sócios realizaram muitos negócios ao longo dos últimos anos, passando por várias áreas de negócio. Fundada em 1990, a Cofina detinha participações em empresas de media, pasta de papel, aços, entre outros. Foi apenas em 2005 que foi realizado o spin off das participações fora do setor de media (Altri), ficando a Cofina, exclusivamente, com os ativos de imprensa.
Até aos dias de hoje foram muitas as empresas por onde este grupo de empresários, todos oriundos da região de Águeda/Aveiro, passou, desde a Lusomundo, passando pelo capital da SIC e TVI, até à Base Holdings, uma empresa ligada à saúde, vendida à Unilabs, em 2017. Passou ainda pelo capital da Crisal e da Vista Alegre. Além das vendas foram acumulando-se as aquisições: Celtejo, EDP Bioeléctrica, Celbi, Celulose do Caima.
Também a presença nas empresas foi mudando, com os empresários a retirarem-se gradualmente de funções executivos nas cotadas, colocando José Pina na liderança da Altri e Manso Neto na Greenvolt. Mudanças que, segundo os analistas, não implicam o fim desta união de empresários. “Nada indicia que o núcleo de acionistas se desagregue e possa adicionar volatilidade àquelas cotadas”, conclui João Queiroz.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Altri. Princípio do fim de uma união acionista ou novo ciclo de investimentos?
{{ noCommentsLabel }}