Coworks continuam a expandir (também) fora de Lisboa
Apesar de no setor tecnológico o regresso ao escritório estar a ganhar terreno, o setor de cowork continua a expandir, dentro e fora de Lisboa. E há novos operadores a entrar no mercado.
O escritório até pode estar a ganhar peso no modelo de trabalho das tecnológicas, mas no setor dos coworks esse regresso à empresa não está a afetar o negócio, com taxas de ocupação na ordem dos 80%. E não falta investimento a ser feito na indústria, com novos operadores a entrar no mercado. Gaia (em julho) e Alvalade (em outubro) vão receber um cowork da rede Sitio, a LACS tem previsto para este ano um investimento de 2,5 milhões de euros para “novas aberturas e remodelações” e um novo espaço em Lisboa ou Porto estão igualmente nos planos da espanhola Monday, que acaba de entrar em Portugal. O primeiro abre no “terceiro trimestre” no Marquês de Pombal.
“Temos prevista a abertura de, aproximadamente, dois espaços por ano durante os próximos três anos. Entre as cidades, estamos a considerar repetir em Lisboa e também abrir possivelmente no Porto”, adianta Xavi Bassons, CEO da Monday, ao ECO. “Desta forma, no final de 2026, atingiríamos uma carteira de seis centros que, traduzidos em superfície, significariam um total de cerca de 18.000 metros quadrados e capacidade para mais de 3.000 colegas de trabalho, aproximadamente”, acrescenta.
O primeiro espaço da rede espanhola em Portugal tem abertura prevista no “terceiro trimestre” no centro de Lisboa. O espaço no Marquês de Pombal terá 4.500 metros quadrados — distribuídos por 11 andares e capacidade para quase 600 utilizadores — e será o maior da rede Monday, já com presença em várias cidades do outro lado da fronteira e Andorra. A empresa não revela o montante de investimento previsto no espaço no qual, diz, está a ser feita uma “renovação completa”.
O operador espanhol, o mais recente a entrar no mercado nacional, não se mostra preocupado com o aparente recuo do modelo de trabalho híbrido (-6,9%) no setor tecnológico e o aumento do presencial (+3%), apontados pelo recente estudo “Global Tech Talent Trends 2024”, da Landing.Jobs.
“O mercado está a crescer em popularidade e os escritórios flexíveis tornaram-se uma opção cada vez mais atrativa para empresas de todas as dimensões, sendo uma tendência que está claramente em ascensão e que tem um longo caminho a percorrer”, aponta o CEO da Monday. Na “maioria” dos nove espaços da rede em Espanha e Andorra a taxa de ocupação “ultrapassa os 90%”. “Esperamos manter esta tendência no mercado português ou atingir os 100%”, aponta Xavi Bassons.
Porto ganha novos coworks
Miguel Ricardo considera que outros fatores poderão ter maior impacto no desenvolvimento da indústria. “Embora as variações nos modelos de trabalho possam influenciar a dinâmica do mercado de coworking, o verdadeiro impulso para o crescimento deste setor virá da migração das empresas dos escritórios tradicionais para o modelo de trabalho flexível”, aponta o general manager da rede Sitio.
O setor tecnológico nacional também está a atrair mais trabalhadores internacionais a instalar-se no país. Num ano, o número de profissionais do setor tech imigrantes aumentou de 10,6%, para 15,7%, aponta o “Global Tech Talent Trends 2024”. E, com 21%, o Porto é a região do país com maior representatividade destes profissionais. Sinal de que a região tem vindo a tornar-se um polo mais atrativo para os profissionais. Será este também fator de decisão para a instalação de mais coworks na região?
“Temos sentido cada vez maior procura na zona Norte, com os nossos espaços no Porto a estarem perto dos 100% de ocupação. Para dar resposta a essa procura abrimos o espaço de Guimarães em novembro e iremos abrir Gaia em julho”, adianta Miguel Ricardo.
“O espaço de Gaia é um prédio novo com fachada toda em vidro e numa excelente localização, mesmo em frente ao El Corte Inglês e ao metro. O edifício com 2.200 m2 terá capacidade para 370 postos de trabalho, divididos entre uma zona de open space e escritórios privados com capacidades que vão de quatro pessoas a pisos inteiros para 50 pessoas”, descreve o responsável.
E há planos para a abertura em outubro de um novo espaço a Sul, no bairro de Alvalade, em Lisboa. “O novo espaço de Alvalade está a ser alvo de uma remodelação total. Este edifício com 2.200 m2 terá capacidade para 270 postos de trabalho e um grande espaço de eventos”, diz. “O objetivo é juntar no mesmo espaço startups, scaleups e corporate criando assim uma comunidade forte com grande capacidade de colaboração e inovação e crescimento, onde as empresas em diferentes estágios podem beneficiar mutuamente.”
O novo cowork irá juntar-se ao espaço da Sitio já existente em Alvalade, um dos três coworks existentes no bairro de Lisboa a receber o hub de Web3 da Unicorn Factory de Lisboa, que abriu na semana passada, tal como avançou o ECO.
Além destas aberturas, “por enquanto” no Sitio não há planos para reforçar a rede com novos espaços. “Continuamos a estudar oportunidades, mas ainda não temos nada fechado”, admite Miguel Ricardo. O gestor não revela valores de investimento, mas em outubro passado, adiantava que, até 2025, a rede contava investir até 5 milhões de euros na sua expansão.
“Após a inauguração do Avila Spaces Parque das Nações em janeiro, não temos planos de abertura este ano”, refere, por seu turno, Carlos Gonçalves, CEO do Avila Spaces. Neste momento, a rede de coworks — com espaços no Saldanha, Av. da República e Parque das Nações — apresenta uma “taxa global de ocupação de escritórios de cerca de 80%”. Valor que o CEO classifica de “bastante positivo, considerando que o espaço do Parque das Nações foi inaugurado no início do ano.”
Lisboa a perder terreno?
“Apesar de o Porto apresentar várias vantagens, acreditamos que Lisboa continua a ser o destino preferido para a maioria dos profissionais tech face à qualidade de vida, dinâmica do ecossistema de empreendedorismo e oferta de trabalho, nomeadamente de empresas multinacionais”, comenta Carlos Gonçalves. “Não prevemos investimento em novas aberturas e temos orçamentada uma verba de 200.000 Euros para remodelações das unidades existentes”, assegura.
“Lisboa continua a ser altamente atrativa apesar da subida do custo de vida ter contribuído para o abrandamento da procura. É conhecido que a cidade, como muitas outras pelo mundo fora não se preparou atempadamente para o aumento da procura de habitação no seu centro urbano e a escassez de oferta residencial a preços comportáveis é agora uma barreira à fixação de alguns novos negócios. Em todo o caso o mercado de escritórios flex representa aproximadamente 5% do stock total de escritórios na cidade e tanto o Heden como os principais concorrentes tem taxas de ocupação muito altas”, aponta Manuel Bastos, cofundador & managing partner do Heden.
Apenas com espaços em Lisboa, para já não há planos de expandir a rede Heden a outras cidades. “Há algum tempo que estudamos a expansão para outras cidades portuguesas mas ainda não temos nada de concreto para anunciar”, admite Manuel Bastos. Nem aberturas adicionais. “Este é um ano de consolidação e preparação de futuros investimentos após as aberturas em Alvalade (1.800 m2) e Chiado (640 m2)”, garante o managing partner do Heden. O espaço no centro de Lisboa acolhe o escritório da Tb.lx, empresa de produtos digitais da Daimler Truck AG.
Em fase de expansão, este ano a LACS praticamente duplicou a área face a 2023, de 16.000 m2 para 30.000 m2. Desde o final do ano passado abriu no Porto. “Após o sucesso que tem sido a aposta em Lisboa e Cascais, a aposta no Porto revelou-se também ela acertada, pois o nível de procura tem superado as expectativas tanto a nível de quantidade, como a nível do tipo de empresas que se querem instalar no LACS Porto”, afirma Martim de Botton, CEO do LACS. “Existe uma procura por parte empresas tecnológicas, como é o caso da NTT Data que é um membro do nosso edifício, mas temos também empresas como A Bola ou até como a Ordem dos Advogados do Porto”, revela.
“Enquanto há uns anos a procura por espaços de trabalho flexível era feita por empresas do ramo mais tecnológico e até por nómadas digitais, após a pandemia o tipo de procura inverteu e todo o tipo de empresas começaram a olhar para o LACS como uma opção a ter em conta”, reforça.
Em abril, a rede abriu um novo espaço em Lisboa, na zona de Santos. “Temos perspetivas de continuar a crescer, pois não só temos clientes que pretendem aumentar os seus espaços atuais, como também novos clientes em pipeline que gostaríamos de acomodar e que fruto da alta taxa de ocupação dos nossos edifícios ao dia de hoje se torna complicado. A título de exemplo, o edifício de Santos, recentemente inaugurado, tem já uma taxa de ocupação de 80%”, diz.
“No seguimento do que temos feito ao longo dos últimos anos, pretendemos continuar a apostar em edifícios únicos e com áreas superiores a 4.500 m2”, adianta ainda.
“Para este ano estimamos um investimento de 2.500.000 euros para novas aberturas e remodelações. Para além da abertura do LACS Santos, na Av. 24 de Julho e do LACS Porto, na Av. da Boavista, estamos também a investir nos três outros edifícios num projeto de fit out a cargo do Studio Astolfi e que permitirá aos nossos membros terem ainda mais conforto”, revela.
Embora Diogo Fabiana reconheça que “o Porto tem vindo a ganhar destaque, não só junto dos profissionais tech, mas também no universo do empreendedorismo em geral”, a rede Idea Spaces está ainda concentrada em Lisboa — apresentando taxas de ocupação de 85% –, e, por agora, a região Norte não faz parte dos planos de expansão.
“Neste momento, estamos focados em investir na reorganização da empresa, procurando ajustá-la às atuais e futuras necessidades do mercado, com foco na sustentação do nosso propósito enquanto espaço de cowork dedicação à colaboração e proximidade aos membros, a um nível pessoal e profissional, que melhore efetivamente a sua qualidade de vida”, refere o chief innovation officer e partner do Idea Spaces.
O mais recente espaço a juntar-se à rede foi o NOW Beato, em março do ano passado. O projeto ainda aguarda data de reabertura. “A aquisição do NOW (Beato) mostrou-se um desafio, pois deparámo-nos com obstáculos estruturais que nos levaram a recuar nesta abertura”, começa por referir Diogo Fabiana.
“Durante as intervenções no espaço deparamo-nos com condicionantes que não nos permitiam garantir os standards de qualidade, serviços e experiência que desejamos. Desta forma, estamos em diálogo com o proprietário para compreender o que é possível fazer, quando é que é possível fazer, e como é possível fazer para avaliarmos a manutenção ou (re)lançamento da marca NOW naquela localização ou noutra”, clarifica quando questionado sobre os planos para o espaço.
“Acreditamos que o mercado nacional está a aproximar-se do seu nível de maturidade, sendo que a entrada de novos concorrentes nos obrigam a sermos melhores e a inovar, mas também a olharmos para novas formas de atrair investimento e empresas estrangeiras”, diz quando questionado sobre a entrada de um novo operador no setor.
“O mercado do cowork será, certamente, regularizado em breve, o que levará a uma redefinição do mercado em si e, muito provavelmente, a ajustes profundos de alguns dos players do mercado“, continua.
“A tendência de conversão de escritórios tradicionais em escritórios flex continuará a acentuar-se na próxima década e não faltará capacidade ao mercado português para viabilizar o crescimento dos principais operadores atuais e dos que venham a chegar”, considera Manuel Bastos, cofundador do Heden.
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