Corrida a Bruxelas menos concorrida mas com maior pressão da extrema-direita sobre von der Leyen
No último debate entre spitzenkandidat, von der Leyen defrontará menos adversários mas não escapa a um aumento da pressão depois do piscar de olhos aos conservadores europeus.
A corrida à presidência da Comissão Europeia estreitou-se e ficaram candidatos pelo caminho. Inicialmente eram sete, mas esta quinta-feira Ursula von der Leyen vai apenas debater contra quatro spitzenkandidat para garantir um segundo mandato em Bruxelas. Fora deste confronto ficaram os candidatos do Identidade e Democracia (ID) e da Aliança Livre Europeia (ALE), por não respeitarem as regras que obrigam a que cada família política nomeie um candidato oficial para a eleição da presidência da Comissão Europeia, e ainda os Europeus Conservadores Reformistas (ECR) que se manifestaram contra o sistema de spitzenkandidat.
Assim, esta quinta-feira, a presidente da Comissão Europeia irá defrontar Nicolas Schmit do Partido dos Socialistas Europeus (PES), Terry Reintke dos Verdes Europeus (candidata parceira de Bas Eickhout), Sandro Gozi do Renovar Europa (que integra o trio de candidatos composto por Raul Romeva e Marie-Agnes Strack-Zimmermann) e Walter Baier da Esquerda Europeia, num debate transmitido pela União Europeia de Radiodifusão. De fora ficaram Anders Vistisen, do ID, e Maylis Roßberg, da ALE, que participaram no primeiro debate.
Em cima da mesa, estarão os temas ligados à economia e emprego, defesa e segurança, clima e ambiente, democracia, imigração e fronteiras e inovação – assuntos que marcam a atualidade e o futuro da União Europeia numa altura em que as tensões geopolíticas se agravam um pouco por todo o mundo. Mas o foco (e pressão) estará sobretudo sobre von der Leyen.
“Podemos esperar que os partidos de esquerda pressionem o [Partido Popular Europeu] PPE sobre a sua posição relativamente à colaboração com a ERC. Esta é a maior vantagem de que dispõem para fazer campanha contra Ursula von der Leyen”, afirmam ao ECO Liza Saris e Maria Martisiute do European Policy Center, um think tank político com sede em Bruxelas, fundado em 1997. Aos olhos da dupla, “desde o início, o apoio a von der Leyen tem sido bastante escasso” e o primeiro debate entre candidatos não ajudou a sua causa.
No primeiro confronto a sete, em Maastricht, a candidata principal da família política do PSD admitiu estar disponível para negociar com a bancada dos Conservadores e Reformistas Europeus (ECR, na sigla em inglês), na próxima legislatura no Parlamento Europeu. Este grupo partidário integra partidos populistas e nacionalistas europeus, como o Lei e Justiça (PiS) da Polónia, o Vox de Espanha e o francês Reconquista, de Eric Zemmour, sendo liderado por Georgia Meloni, primeira-ministra de Itália e líder dos Irmãos de Itália.
“Existe o risco de que a ligação entre Meloni e von der Leyen possa efetivamente conduzir à normalização da extrema-direita no seio do PPE e não só. Este é um padrão a que já temos vindo a assistir noutros países europeus”, referem as duas politólogas do European Policy Center. Um dos exemplos mais recentes aconteceu nos Países Baixos, depois de o Partido Popular para a Liberdade e Democracia (VVD) liderado por Mark Rutte – liberais – ter formado um acordo de governação com Partido da Liberdade (PVV), liderado por Geert Wilders – extrema direita.
“Com este novo Governo, torna-se claro para von der Leyen aquecer as suas ligações, uma vez que os partidos ECR terão uma palavra a dizer no Conselho que se irá reunir para o cargo de Presidente da Comissão. Será que Ursula von der Leyen conseguirá tornar-se Presidente sem o apoio dos partidos e qual o custo desse apoio?”, questionam as politólogas.
O piscar de olhos de von der Leyen ao ECR não agradou os socialistas europeus que divulgaram uma carta de repúdio, assinada por todos os líderes do PSE, incluindo Pedro Nuno Santos, o homólogo espanhol Pedro Sánchez, o ex-responsável pelo Pacto Ecológico Europeu (Green Deal), Frans Timmermans, e o spitzenkandidat pelos socialistas, Nicolas Schimt.
“Nunca cooperaremos nem formaremos uma coligação com a extrema-direita. Isto também significa: nenhuma cooperação ou alianças com o ECR ou a ID no Parlamento Europeu“, lê-se na carta.
A rejeição da bancada centro-esquerda no Parlamento Europeu desempenha um papel chave para a reeleição. Para segurar um segundo mandato, von der Leyen precisa não só do apoio dos líderes europeus que fazem parte da sua família partidária, como também dos dirigentes socialistas, uma vez que a eleição para o presidente da Comissão Europeia terá que ser suportada, em primeiro lugar, pelos 27 chefes do Conselho Europeu e posteriormente aprovada por uma maioria absoluta no Parlamento Europeu.
“Os sociais-democratas desempenham um papel crucial como atual parceiro de poder do PPE. Se von der Leyen não for capaz de lhes conceder posições-chave na próxima Comissão, os líderes dos partidos sociais-democratas poderão retirar o apoio à sua candidatura“, alertam Liza Saris e Maria Martisiute, admitindo estarem “curiosas” em relação à estratégia que será levada a cabo pelos sociais-democratas.
Embora o debate tenha ganho maior importância devido à polémica, certo é que os debates entre os spitzenkandidat tendem a ter “muito pouco impacto na afluência às urnas ou na escolha dos partidos” nas eleições para o Parlamento Europeu, devido à baixa adesão dos telespetadores (e interesse geral por eleições a nível europeu). Os cabeças de lista estão cientes disso e portanto, deverão usar esta oportunidade para lançar soundbytes.
“Como se trata do último debate antes das eleições, todas as famílias políticas tentarão obter algumas frases fortes para impulsionar a campanha”, apontam as analistas do European Policy Center.
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