Nuno Garoupa, um economista dedicado ao Direito

  • Helena Garrido e Paula Nunes
  • 12 Junho 2017

É um dos poucos investigadores e especialistas portugueses no domínio da interligação entre a Justiça e a Economia e dos que conhece melhor esse universo em Portugal.

Está no “top 5″ dos economistas portugueses. Estudou em Portugal, doutorou-se no Reino Unido e pós-doutoramentos nos Estados Unidos. Regressou aos Estados Unidos onde está agora na Universidade de Direito do Texas depois de ter liderado a Fundação Francisco Manuel dos Santos entre 2014 e 2016, uma interrupção de três anos em Portugal, depois de ter passado boa parte da sua vida após a licenciatura fora do país.

Nuno Garoupa, 47 anos, é um cidadão global que se sente hoje estrangeiro em Portugal e português nos países onde tem estudado e ensinado. É assim com todos os emigrantes, diz. A sua formação começou em Portugal na Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, no curso de 1988/92, e aprofundou-se no Reino Unido onde se doutorou na Universidade de York para depois rumar aos Estados Unidos onde esteve nas escolas de Direito de Harvard, Berkeley e Stanford. A economia do Direito, as instituições da Justiça e a comparação entre as políticas da Justiça são as suas principais áreas de investigação.

Vê-se como um liberal, defensor de uma sociedade em que o Estado é regulador e não dirigista e intervencionista. Não é esse o Estado que vê em Portugal e tem publicado recentemente alguns ensaios sobre esta matéria. Um dos seus últimos artigos foi sobre a proposta de reforma da supervisão e regulação do setor bancário que, tal como defende na entrevista que dá ao Eco, manifesta sinais preocupantes de governamentalização. Para Nuno Garoupa a classe política e a sociedade estão profundamente marcadas pela filosofia pombalista com dois séculos.

Tem sido um critico da política seguida na era da troika mas por considerar que Pedro Passos Coelho não foi tão longe como poderia ter ido em matéria de reformas, que foi uma oportunidade perdida para modernizar o país. É uma critica, diz, à direita da política de Passos Coelho, nada tem a ver com as criticas da esquerda.

O seu raciocínio é marcado pela disciplina de quem está habituado a investigar. Quando se lhe pergunta na entrevista ao ECO, por exemplo, se Portugal devia reestruturar a dívida ou sair do euro, a resposta segue o caminho da racionalidade sem preconceitos de partida. Reestruturar a dívida podia ser uma boa solução se fossemos completamente livres — o que designa tecnicamente como optimização livre. Mas estamos submetidos a restrições ou regras da Zona Euro e dos investidores, o que altera o efeito, podemos por isso acabar por ser negativo. Quanto à saída do euro, admite a hipótese de ser positivo no longo prazo, mas transforma-se em negativo quando olhamos para o caminho que se tinha de fazer para chegar lá. O que o leva a recordar a frase de Keynes: “no longo prazo estamos todos mortos”.

Bisneto do general Domingos de Oliveira que foi presidente do Conselho de Ministros entre 1930 e 1932, antecessor de Oliveira Salazar, Nuno Garoupa elege-o como a personalidade histórica que mais admira. Uma genealogia que posiciona Garoupa no universo das elites portuguesas.

Participante ativo nas redes sociais, designadamente no Facebook, Nuno Garoupa tem uma visão do seu país a partir do estrangeiro que é surpreendente pelo que afirma como tendo considerado mais chocante na sua experiência de três anos no país (2014 a 2016) depois de ter estado fora praticamente desde 2007. A desigualdade de género foi o que mais o surpreendeu especialmente por ver com frequência as mulheres a serem identificadas como a mulher de alguém.

O seu lema de vida? Ceder no acessório para vencer no essencial. A sua entrevista ao ECO é um guião para quem quer perceber quais as escolhas que implicitamente está a fazer, quando reivindica mais e mais legislação para resolver problemas pontuais, ou quando dá o seu apoio a reguladores que não exercem ou não conseguem exercer a sua independência.

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