Ex-presidente da Águas de Portugal recusa ter cedido a pressão de Medina
José Furtado, ex-presidente da Águas de Portugal, reconheceu a legitimidade de Medina pedir um dividendo extra de 100 milhões. Mas sentiu-se "confortável" com a promessa de aumento de capital.
“Não me deixo pressionar, não admito ingerências e interferências”, assegurou o antigo presidente da Águas de Portugal (AdP), José Furtado, a propósito da intervenção do ministro Fernando Medina para a empresa pública pagar um dividendo extraordinário de 100 milhões de euros ao Estado. José Furtado e a sua equipa não estavam “confortáveis” com a redução dos fundos próprios que esse pagamento iria provocar. Mas considerou como “boa solução” o aumento de capital no mesmo montante que havia sido prometido pelo então primeiro-ministro António Costa, como mostra a troca de emails divulgada pelo ECO em primeira mão.
No final do ano passado, com o objetivo de baixar a dívida pública para um rácio inferior a 100% do PIB, o anterior ministro da Finanças, Fernando Medina, solicitou à AdP a distribuição de um dividendo extraordinário de 100 milhões de euros, pagamento que José Furtado tinha reservas em fazer porque iria descapitalizar a empresa.
“De facto não estava confortável com a redução dos fundos próprios”, disse o ex-presidente da AdP na comissão de orçamento, finanças e administração pública.
Assegurando que nunca cedeu a pressões, José Furtado admitiu que houve uma “tensão” nas interações com a tutela por causa deste tema naquilo que chamou de “exercício das duas legitimidades”: da gestão da empresa e do ministro. Mas, no final, ele próprio e a sua equipa consideraram como “boa solução” a operação de capitalização que tinha sido prometida para este ano.
“Chegou-se a uma solução que compatibiliza o interesse do acionista e o interesse corporativista da instituição”, destacou o gestor. Em maio deste ano, José Furtado acabou por apresentar a sua demissão a ano e meio de terminar o seu mandato, justificando a sua decisão com a vontade de “abraçar novos desafios profissionais”.
“Não faz sentido descapitalizar a AdP”
Embora já tenha saído da empresa, José Furtado deu conta dos desafios e das exigências de investimento que a AdP e o setor da água enfrentam. E que, por isso, “não faz sentido descapitalizar a empresa”, pelo contrário, argumentou. “O compromisso acionista valoriza a capacidade de captação de recursos no mercado, ajuda a melhorar o poder negocial, para o acesso ao financiamento ser assegurado”, referiu, admitindo que isso se traduz em tarifas mais competitivas para o consumidor final.
“Cada euro é um euro para estar na AdP perante as necessidades de investimento que existem“, afirmou. Para José Furtado, esta questão não se põe no lado da liquidez de tesouraria de empresa, mas antes no lado da robustez do capital. “O grupo recorre ao mercado com base no seu balanço”, adiantou.
Foi neste contexto que, segundo explicou, António Costa “percebeu os argumentos” apresentados por José Furtado e “assumiu que haveria um aumento de capital para que a AdP não fosse penalizada” nas diligências que ia ter neste ano de 2024.
“Ou entregava ou saía”
Já no final da audição, José Furtado admitiu que caso António Costa não tivesse prometido um aumento de capital na AdP que se teria demitido imediatamente da liderança do grupo. “Entendia que não devia fazê-lo [pagar 100 milhões extra] e então teria de tirar consequências disso”, afirmou.
“Se surgia uma determinação do acionista, pelo princípio de boa gestão, estava em fim de linha. Significava que a relação acabou. Tinha duas hipóteses: ou entregava [os 100 milhões] ou saía“, esclareceu logo depois. José Furtado viria a apresentar a demissão em abril com a mudança de Governo e, entretanto, foi convidado para liderar a nova Sociedade de Garantia Mútua.
(Notícia atualizada às 18h39)
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