Escola 42 estima investir dois milhões por ano em Lisboa e Porto
A escola de programação sem professores e horários, muda-se esta quinta-feira para o agora Beato Innovation District, o antigo Hub Criativo do Beato, em Lisboa. Tem capacidade para 800 alunos.
Depois de vários anos a funcionar na Penha de França, em Lisboa, a escola 42 abre esta quinta-feira portas no Beato Innovation District. Com 1.200 metros quadrados de área na Factory, a escola de programação tem capacidade para 800 alunos. O projeto, que tem uma segunda escola no Porto, em quatro anos já recebeu sete milhões de euros de empresas e mecenas. “Estimamos que nos próximos anos, o investimento seja apenas operacional e ande à volta de dois milhões de euros por ano para a 42 Porto e 42 Lisboa“, adianta Vanessa Zdanowski, Diretora Executiva da 42 em Portugal, ao ECO.
“A mudança da 42 Lisboa para o novo espaço foi motivada pela nossa visão em contribuir e amplificar o ecossistema de inovação tecnológica que acreditamos ter encontrado no Beato Innovation District”, começa por referir a diretora executiva. “A chegada de uma escola de software development vem fechar o círculo do hub tecnológico, contribuindo com a vertente de educação a um local já repleto de empresas e startups. Esta integração fortalecerá ainda mais o ecossistema, proporcionando um ambiente onde educação, inovação e empreendedorismo caminham lado a lado, beneficiando tanto os alunos como a comunidade empresarial envolvente”, argumenta.
A operar em Portugal desde 2021, com a abertura da primeira escola 42 em Lisboa, o projeto, desde 2022 com um segundo espaço no Porto, já recebeu mais de 50 mil candidaturas e 1.500 alunos das mais diversas nacionalidades e backgrounds que procuram um modelo de ensino que assenta num método de aprendizagem gamificado e que promove a aprendizagem sem salas de aula, sem horários e sem professores. Destes, 60 já terminaram o curso.
“Desde que abriu portas em Portugal, a Escola 42 tem vindo a desenvolver uma ligação próxima com o ecossistema empresarial. São frequentes os encontros dos alunos com profissionais de variadíssimas empresas. Não só na 42 através de tech talks e workshops, mas também nas empresas, quando os alunos são convidados a visitar os escritórios e a participarem em diversas atividades no âmbito do negócio. Em ambos os casos, são ótimas oportunidades para darem a conhecer as suas skills, o expertise desenvolvido ao longo do curso e enriquecerem a sua rede de contactos”, diz.
Sinergias que a responsável acredita que se vão intensificar no agora designado Beato Innovation District, o antigo Hub Criativo do Beato, que acolhe na Factory startups e scaleups como a Sixt; MicroHarvest; o Interactive Technologies Institute (ITI), a Midwich Portugal, a Inetum ou a Unicorn Factory Lisboa, projeto promovido por Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa.
“Acreditamos que no Beato Innovation District haverá ainda mais sinergias neste sentido, e estamos entusiasmados para vermos os alunos integrarem este ecossistema de inovação tecnológica com o seu característico sentido de constante aprendizagem”, considera a responsável. “Estamos a antecipar uma série de iniciativas com os nossos vizinhos. Teremos seguramente a participação dos nossos alunos em eventos culturais, hackathons, workshops e meetups, proporcionando-lhes oportunidades únicas de networking e inspiração para concretizarem as suas ideias.”
Impacto económico estimado de 460 milhões
O projeto tem como ambição ter 300 alunos graduados por ano. Para aceder ao curso, que demora em média 18 meses a concluir, é necessário passar dois testes online e completar a “piscine”, um bootcamp de 26 dias intensivos nas instalações da 42, em que os candidatos aprendem as bases de programação. Não é necessário formação específica em programação para candidatar-se. Aliás, mais de metade dos alunos da 42 não frequentaram o ensino superior, mais de 20% tem 30 anos de idade e mais de 30% são estudantes internacionais, aponta um estudo realizado pela Boston Consulting Group (BCG) para a 42.
Com base na evolução salarial dos alunos que acabaram a formação – de uma média de 13,2 mil euros de salário médio bruto anual de entrada na 42 para 50 mil euros (salário médio bruto dos engenheiros de software) –, do aumento de produtividade, do consumo privado e dos impostos cobrados (devido ao aumento dos salários), a escola estima que, em dez anos, tenha um impacto económico de mais e 460 milhões na economia nacional, com uma média de 8 milhões no PIB por cada turma de formados.
“O impacto económico em mais de 460 milhões de euros foi calculado por uma consultora independente que produziu o nosso relatório de impacto relativo aos primeiros três anos de atividade. E este cálculo dá-nos apenas a perspetiva do impacto direto que advém do incremento salarial estimado. Ou seja, são valores retributivos efetivamente pagos em Portugal para funções que os nossos alunos graduados passam a ter acesso quando terminarem o curso. Estes níveis salariais são já um reflexo da qualidade percebida e da relevância do nosso programa”, aponta Vanessa Zdanowski que, destaca ainda, a taxa de empregabilidade dos alunos. “Até à data praticamente todos os nossos alunos já se encontram a trabalhar.”
“Temos consciência de que a saída de talentos para o exterior também é uma realidade e o papel da nossa escola é o de capacitar e apoiar os alunos para que realizem os seus objetivos. Estamos comprometidos em formar profissionais competentes e preparados para enfrentar os desafios globais, contribuindo para um futuro melhor tanto em Portugal quanto além-fronteiras”, refere quando questionada sobre o impacto efetivo na economia portuguesa face à conhecida saída de talento jovem qualificado para o exterior.
Com a Inteligência Artificial com um impacto estimado de 30% dos empregos em Portugal, segundo a OCDE, a responsável da 42 não receia o impacto desta tecnologia nos alunos. Pelo contrário.
“O impacto da Inteligência Artificial nos nossos alunos é positivo, proporciona-lhes uma vantagem competitiva até. Não nos podemos esquecer que o curriculum da 42 desenvolve em profundidade competências técnicas que os alunos utilizarão no desenvolvimento de código aplicado à IA. Após o common core, oferecemos, entre outras, uma especialização em IA e algoritmos, com projetos práticos focados em IA, machine learning e data science, munindo-os das competências específicas para estarem na vanguarda da inovação tecnológica, contribuindo para o progresso e a transformação digital em Portugal e no mundo”, acrescenta.
Foco é Lisboa e Porto
Para já não há planos para mais escolas 42 a nascer no país. “Não temos mãos a medir, mas não há planos para abrir novas unidades da 42 em outras localidades além de Lisboa e Porto. É certo que temos uma elevada procura, substancialmente acima da nossa capacidade instalada. Para ter uma ideia, passarão pelas nossas ‘piscines‘ de verão (fase final do processo seletivo de novos alunos) cerca de 600 candidatos, estando pelo menos mais 300 em lista de espera”, adianta.
“Estamos focados em consolidar e fortalecer os campi, garantindo que a qualidade da formação e os recursos disponíveis atendam às expectativas e necessidades dos nossos alunos”, diz. “Temos planos para avançar ainda este ano com um novo programa de especialização que irá complementar o curso core da 42 e pretende revolucionar o desenvolvimento de software para um setor crítico da nossa economia portuguesa, mas ainda não podemos contar mais”, afirma, sem adiantar mais detalhes.
Manter o projeto, com os atuais dois espaços, exige investimento das empresas e mecenas, já que a oferta de formação é gratuita. “Os parceiros da 42, entre empresas do setor privado e social e filantropos individuais, tornaram esta viagem possível através da contribuição de mais de sete milhões de fundos desde 2020, quando abrimos portas em Portugal. Estimamos que nos próximos anos, o investimento seja apenas operacional e ande à volta de dois milhões de euros por ano para a 42 Porto e 42 Lisboa”, remata.
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