BRANDS' CAPITAL VERDE Mobilidade elétrica: «É preciso pisar o acelerador para cumprir metas ambientais»
São cada vez mais os portugueses que optam pela compra de veículos eletrificados, mas autonomias reduzidas e preços elevados continuam a ser obstáculos. Até junho, vendas aumentaram 14%.
Só desde o início deste ano, o carregamento de veículos elétricos e híbridos plug-in na rede pública nacional permitiu poupar mais de 45 mil toneladas de CO2. O número pode parecer baixo, mas ganha outra dimensão quando se considera que seriam necessárias mais de 742 mil árvores com mais de dez anos para reter a mesma quantidade de CO2. Ainda assim, há muito a fazer para que a mobilidade elétrica permita alcançar os objetivos de redução de emissões estabelecidos pela União Europeia (UE): até 2030, um corte de 55%.
A nível nacional, a ambição passa por eletrificar o maior número possível de veículos ligeiros e chegar ao final desta década com 36% do parque automóvel verde, segundo as metas definidas pelo Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050. Portugal tem registado um aumento consistente na venda de elétricos e híbridos plug-in ao longo dos anos, tendo batido sucessivos recordes na comercialização destes automóveis.
Enquanto em 2010 existiam apenas 986 veículos ligeiros eletrificados no país, em 2020 eram já mais de 64 mil. No final de 2023, o parque nacional contava com 228.140 automóveis, sendo que perto de 69 mil foram vendidos entre janeiro e dezembro. Este ano, e de acordo com números da UVE – Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos, o primeiro semestre dá sinais animadores: 33.432 veículos, um aumento de 14% face ao período homólogo de 2023.
Vantagens na carteira e no ambiente
Mas afinal é ou não vantajoso trocar um carro movido a gasolina ou gasóleo por um eletrificado? Se optar por um veículo totalmente elétrico, vai perceber que a forma como é feito o carregamento é decisiva para o apuramento dos custos. Carregar num dos 8.810 pontos de carregamento da rede pública tem um custo consideravelmente superior quando comparado a utilização doméstica.
Vamos a casos práticos, partindo dos cálculos da UVE atualizados com valores do mercado de eletricidade no final de junho e partindo de um consumo de 15,7 kWh/100 quilómetros. Se considerarmos um preço de 0,49€ por kWh no carregamento da rede pública, o custo para percorrer 100 quilómetros seria de 7,68€.
"Uma das maiores barreiras na aquisição de veículos elétricos é o investimento inicial, que na maioria dos casos continua a ser muito superior ao da compra de um veículo a combustão. O nível de autonomia destes automóveis continua a ser também uma das principais desvantagens apontadas pelos consumidores”
Já se o ‘abastecimento’ for feito em casa, em regime de tarifa simples e com um preço de 0,20€ por KWh, a fatura é de 3,14€ para os mesmos 100 quilómetros. Caso o carregamento ocorra em ambiente doméstico, em regime de tarifa bi-horária com um preço de 0,13€ por KWh, são precisos apenas 2,07€ para percorrer uma centena de quilómetros.
Mas há outras vantagens, nomeadamente fiscais. Os veículos elétricos não pagam Imposto Único de Circulação (IUC) e estão ainda isentos do Imposto Sobre Automóveis (ISV) – no caso dos híbridos plug-in, o ISV tem um desconto de 75%. Vale a pena lembrar que caso a aquisição seja feita por uma empresa, é possível deduzir o IVA na compra de carros 100% elétricos até 62.500€, assim como o IVA sobre a eletricidade para o carregamento. Além dos benefícios ambientais com a redução de emissões com a utilização dos carros elétricos, os custos de manutenção são também consideravelmente mais baixos.
Autonomia continua a ser obstáculo
Uma das maiores barreiras na aquisição de veículos elétricos é o investimento inicial, que na maioria dos casos continua a ser muito superior ao da compra de um veículo a combustão. No entanto, o nível de autonomia destes automóveis continua a ser também uma das principais desvantagens apontadas pelos consumidores, ainda que o número de quilómetros percorridos tenha vindo a aumentar à medida que a tecnologia evolui. Muitos carros elétricos de gama média já oferecem autonomias a rondar os 350 quilómetros, enquanto apenas os veículos de gama alta apresentam valores entre os 600 e 800 quilómetros.
Por outro lado, ainda que Portugal conte com 8.810 pontos de carregamento, o país precisa de continuar a investir na expansão da rede, em especial fora dos grandes centros urbanos de Lisboa, Porto e Algarve. Até 2050, o território nacional terá de contar com um total de 82 mil pontos de carregamento, mas ainda antes, até 2025 e de acordo com o previsto no Plano de Recuperação e Resiliência, deverá ter pelo menos 15 mil. A instalação de carregadores em condomínios já é obrigatória para a nova construção, mas um grande desafio para os edifícios mais antigos.
Carros chineses mais taxados
De acordo com o Mobility Consumer Index 2023 da consultora EY, 55% dos consumidores diz que o seu próximo carro será um elétrico. A tendência da mobilidade elétrica está para continuar, com a consultora EV Volumes a prever para este ano mais de 17,8 milhões de veículos eletrificados em todo o mundo, 25% acima dos números registados em 2023.
Para este crescimento têm contribuído as marcas chinesas que chegaram em peso aos mercados ocidentais, com a BYD a conquistar um crescimento exponencial – só em 2023, a empresa vendeu mais de 1,5 milhões de automóveis, pouco abaixo dos 1,8 da Tesla, que é líder mundial.
As taxas aduaneiras extraordinárias agora aplicadas aos veículos elétricos chineses podem afetar a transição para a mobilidade elétrica e prejudicar os consumidores europeus
Em consequência de uma investigação da Comissão Europeia sobre subsídios estatais concedidos pelo governo chinês às marcas daquele país, desde 5 de julho deste ano que a UE aplica penalizações fiscais aos automóveis produzidos na China. São direitos compensatórios, um tipo de tributação sobre bens importados para compensar a subsidiação pública. Para já, os fabricantes afetados são a BYD Auto (17,4%), Gelly (19,9%) e SAIC Motor (37,6%).
Segundo dados avançados pela Comissão Europeia, os veículos chineses, que hoje têm uma penetração de 8% no mercado comunitário, custam menos 20% do que os automóveis europeus. O risco, porém, é que as taxas aduaneiras extraordinárias agora aplicadas aos veículos elétricos chineses possam afetar a transição para a mobilidade elétrica e prejudicar os consumidores europeus.
João Amaral, Chief Technology Officer & Country Manager Portugal da Voltalia
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