De “sinónimo de austeridade” ao “profissionalismo”: As reações dos partidos à escolha de Maria Luís Albuquerque para a Comissão Europeia
PAN e Livre vão propor que Maria Luís Albuquerque seja ouvida no Parlamento português. À direita somam-se elogios, à esquerda critica-se a escolha.
A escolha da antiga ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque para comissária europeia pelo Governo recebeu apenas a saudação do CDS-PP, que lhe elogiou a competência e o profissionalismo, e do PSD, os partidos que suportam o Executivo minoritário de Luís Montenegro. À esquerda sucederam-se as críticas, recordando o percurso da antiga governante social-democrata durante o Governo de Pedro Passos Coelhos e intervenção da troika, período de austeridade económica.
O PAN foi o primeiro partido a reagir à indicação da antiga ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque para comissária europeia. O nome foi anunciado esta quarta-feira pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro, justificando com o curriculum da antiga governante durante o Executivo de Luís Montenegro.
A deputada única do PAN, Inês Sousa Real, considerou que “a escolha é mais uma vez sinónimo da política conservadora do PSD”. “Maria Luís Albuquerque é sinónimo de austeridade, é sinónimo da troika, que os portugueses não esqueceram. Quando ouvimos o primeiro-ministro falar dos desafios que a Europa enfrenta são desafios que se respondem com economia verde”, disse.
A parlamentar adiantou que o PAN irá propor que Maria Luís Albuquerque seja ouvida no Parlamento para que explique aos deputados “a visão” que “vai levar para a Comissão Europeia em nome de Portugal”.
Pelo Livre, Jorge Pinto afirmou que o perfil “surpreende” o partido. “Está há vários anos afastada da vida política nacional e conhece-lhe muito pouco sobre o pensamento europeu e aquilo que se conhece é muito mau”. Para o Livre, a antiga ministra “estará sempre” associada ao “período de austeridade europeia”, anunciando que também irá chamar Maria Luís ao Parlamento, para que seja ouvida antes da audição no Parlamento Europeu.
Um discurso adotado também pelo PCP. Para Paula Santos, a indicação da antiga ministra das Finanças de Passos Coelho “só gera preocupação e inquietação”. Maria Luís Albuquerque foi membro do Governo do PSD e CDS no período das troikas. Um período de má memória para os trabalhadores e os portugueses. Teve responsabilidades sérias no corte dos salários, no corte das pensões, na destruição dos serviços públicos”, reagiu. O partido não se oporá à audição proposta pelo Livre, caso exista essa possibilidade.
Maria Luís é também uma má gestora de fundos públicos. Todos nos lembramos da comissão de inquérito dos [contratos] swaps, das decisões que custaram centenas de milhões ao erário público e que beneficiaram a banca.
O passado de Maria Luís Albuquerque também foi assinalado pelo Bloco de Esquerda. “Legitimou todas as políticas e a visão do centro europeu de que a crise das dívidas soberanas se resolvia empobrecendo pessoas e forçando milhares de portugueses à emigração, sobretudo de jovens”, disse o deputado Fabian Figueiredo. “Maria Luís é também uma má gestora de fundos públicos. Todos nos lembramos da comissão de inquérito dos [contratos] swaps, das decisões erradas que custaram centenas de milhões ao erário público e que beneficiaram a banca”, acrescentou.
Dossiês lembrados também pelo vice-presidente do PS, Pedro Delgado Alves, que destacou que “o perfil do ponto de vista técnico eventualmente pode representar o que o Governo deseja, mas politicamente está diametralmente num campo distinto das opções e prioridades do que penso que a União Europeia te neste momento”. O socialista criticou ainda o Governo não ter consultado previamente o maior partido da oposição, quebrando a tradição, tendo sido informado “apenas minutos antes” do anúncio.
PSD esperava “sentido de Estado”
Coube ao deputado social-democrata António Rodrigues refutar as críticas. “Achamos muito injustas por duas razões. Primeiro, porque o perfil de Maria Luís Albuquerque fala por si, quer o perfil académico quer profissional quer político. Exerceu funções num período muito difícil para o país e sempre se saiu otimamente nas suas funções”, defendeu.
“Por outro lado, achamos que a oposição está a laborar num erro, porque está a partidarizar algo que é consensualizado na sociedade portuguesa. Recordo que no passado houve comissários europeus que foram apoiados por partidos distintos dos que estavam a nomeá-los”, assinalou, dando os exemplos de António Vitorino, apoiado pelo PSD, e Durão Barroso, apoiado pelo PS. “E era isso que esperávamos hoje, que houvesse sentido de Estado”.
Questionado sobre o facto de o PS apenas ter tido conhecimento da escolha minutos antes do anúncio, António Rodrigues referiu que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, pretendia ter uma equipa com mais mulheres, e considerou que “Maria Luís Albuquerque cai perfeitamente nesse perfil e todos já especulavam sobre a escolha”.
O líder do CDS-PP, Paulo Núncio, saudou a escolha da antiga ministra. “É uma pessoa extremamente competente, extremamente profissional e com enorme sentido de Estado”, justificou, considerando ter sido uma “excelente escolha” não só pela “capacidade pessoal, mas também pela “experiência política” num “dos momentos mais difíceis” da história do país.
O centrista referia-se ao facto de Maria Luís Albuquerque ter desempenhado funções durante a intervenção da troika, num governo PSD/CDS-PP. “Deve ser lembrada como uma governante que ajudou Portugal a sair de uma bancarrota que foi deixada pela esquerda”, argumentou. Questionado pelos jornalistas sinalizou ainda que o partido foi ouvido antes do anúncio.
Por sua vez, a líder parlamentar da Iniciativa Liberal, Mariana Leitão, defendeu que “mais importante do que a pessoa é que seja alguém que tenha visão reformista, que queira mudar a União Europeia”.
Já o líder do Chega, André Ventura, considerou que Maria Luís “tem um curriculum sólido” e que o país não vai ficar “mal representado”. No entanto, lamentou “que o Governo não tenha querido consolidar o nome de Maria Luís Albuquerque, nomeadamente à direita”, por “arrogância”.
(Notícia atualizada às 16h20, com posição do Chega)
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