Inflação afasta portugueses do turismo “cá dentro” em julho
Associações do setor defendem que preços dos serviços, preferência por destinos internacionais ou redução do período de férias levaram à queda de 2,4% nas dormidas de residentes em julho.
As estatísticas definitivas da atividade turística em julho só serão conhecidas no final da semana, mas a estimativa rápida desse mês aponta para um decréscimo homólogo de 2,4% nas dormidas de turistas nacionais, invertendo a tendência de subida registada em maio e junho. Ao ECO, associações do setor justificam este cenário com a inflação e o preço dos serviços, incluindo do alojamento, que estão a influenciar as opções orçamentais das famílias portuguesas no momento de escolher o destino e o número de dias de férias. Não obstante, os números relativos a agosto, a ser divulgados no final deste mês, serão fundamentais para a análise do verão como um todo.
De acordo com os dados divulgados a 30 de agosto pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), apenas as regiões da Grande Lisboa e a Península de Setúbal registaram um aumento do número de dormidas de residentes em julho – de 2,7% e 1,8%, respetivamente –, tendo caído no resto do país, com destaque para a Madeira (-8,1%), seguida do Oeste e Vale do Tejo (-5,8%) e do Algarve (-4,2%). A descida de 2,4% no total das dormidas do mercado interno (2,7 milhões) traduziu-se, em números concretos, em menos 66.704 dormidas de turistas nacionais do que no mesmo mês do ano passado.
Para a secretária-geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), a inflação, que “tem vindo a impactar no orçamento das famílias há já algum tempo” e era, em julho, de 2,5%, é um dos motivos na base deste decréscimo. “Apesar de não ser um problema exclusivo dos portugueses, é um facto que no nosso país tem tido um impacto muito acentuado“, sustenta Ana Jacinto, em declarações ao ECO.
A esse fator somam-se os preços dos serviços turísticos, incluindo do alojamento, que, segundo a responsável da AHRESP, têm um “enorme peso na tomada de decisão dos turistas, em particular do nacional – que, na generalidade, terá menor poder de compra face a turistas de outros mercados“.
A Associação Portuguesa de Hotelaria, Restauração e Turismo (APHORT) acrescenta que a escolha de “destinos estrangeiros” ou “a redução da duração de período de férias”, enquanto “opções orçamentais das famílias”, também podem estar na origem da queda nas dormidas de residentes em julho.
No entanto, ambas as associações sublinham a necessidade de conhecer as estatísticas referentes a agosto – cuja estimativa rápida será publicada a 30 de setembro – para poder traçar um retrato do setor no verão, visto ser o mês de eleição para as férias da maioria dos portugueses. Ana Jacinto antecipa, ainda assim, que “a procura terá melhorado face a julho“. “Do que sabemos por parte dos nossos empresários, (…) estamos confiantes que o setor continuará a crescer, tanto pela aposta na diversificação de mercados como na diversificação e qualificação da oferta que continuará a atrair turistas com diferentes motivações e origens”, afirma a responsável da AHRESP.
Com as dormidas de residentes em queda, o turismo em Portugal no mês de julho, em plena época alta para o setor, foi “compensado” pelo aumento de 4,2% das dormidas ao nível do mercado externo, para 6,3 milhões, mais 255.351 comparativamente a um ano antes. Ainda assim, este número denota um abrandamento face a junho, mês em que as dormidas de não residentes cresceram 5,5% em termos homólogos, num total de 5,6 milhões.
Dormidas mensais nos estabelecimentos de alojamento turístico
Essa desaceleração verificou-se, também, nos dados totais da atividade turística em julho: os 3,2 milhões de hóspedes e os nove milhões de dormidas registados equivalem a crescimentos de 1,5% e 2,1%, respetivamente, em relação ao mesmo mês de 2023, mas, comparando com o ritmo de crescimento de junho, houve um abrandamento de 5,3 e 2,9 pontos percentuais, na mesma ordem.
Restauração e similares com “sinais mais preocupantes”
Ao ECO, Ana Jacinto realça que a AHRESP mantém debaixo de olho “a evolução do mercado e as constantes mudanças no perfil dos turistas”, tendências que “todos os agentes turísticos terão de acompanhar por forma a ajustar a sua oferta aos novos hábitos de consumo e às novas necessidades da procura”.
Porém, os “sinais são mais preocupantes” no que diz respeito ao setor da restauração e similares. “Pelo seu perfil, maioritariamente de micro dimensão, e pela maior dependência do mercado interno, algumas empresas têm demonstrado dificuldades, existindo algum desânimo e incerteza quanto aos próximos meses, com o término da época alta“, sustenta a responsável.
A associação aponta como “constrangimentos” à gestão dos negócios do setor a “elevada carga fiscal”, os “elevados custos operacionais” e os “encargos financeiros” decorrentes de empréstimos contraídos devido ao impacto da pandemia de Covid-19, necessários “para fazerem face a necessidades de investimento e adaptação dos seus estabelecimentos”.
Além disso, a “diminuição dos consumos por parte do mercado nacional, em particular, tem impactado de forma crescente a faturação e a performance de muitas empresas da restauração“, acrescenta a secretária-geral da AHRESP.
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