Galamba é “contra a utilização de um cêntimo do PRR para painéis fotovoltaicos”

O antigo secretário está contra a concessão de apoios para a instalação de painéis fotovoltaicos e deixou críticas ao Governo por deixar a eletrificação da indústria fora das medidas para a economia.

João Galamba, ex-secretário de Estado da Energia, criticou esta quinta-feira a utilização de fundos europeus para a instalação de painéis fotovoltaicos, durante a Conferência Energy 2024, organizada pelo ECO. Lamentou também a ausência da eletrificação da indústria no pacote do Governo para acelerar a economia.

“Sou contra a utilização de um cêntimo do PRR para painéis fotovoltaicos”, afirmou João Galamba, orador do painel “Roadmap para as Metas da Transição Energética”, em que participaram também Nuno Ribeiro da Silva, professor universitário e antigo presidente da Endesa em Portugal, e Luís Pinho, CEO da Helexia Portugal.

Para o ex-secretário da Energia, “os apoios aos painéis solares não fazem sentido porque têm um período de payback curto”, ou seja, o investimento paga-se em poucos anos. Também Luís Pinho criticou “a utilização de apoios em tecnologias que não necessitam de apoios”, dando como exemplo o uso do PRR para investimento em fotovoltaico. Para o CEO da Helexia Portugal, o dinheiro deveria ser usado “para tecnologias que necessitam de apoio inicial, como o lítio, o hidrogénio e o armazenamento que ainda têm custos inviáveis”.

Nuno Ribeiro da Silva, professor universitário e antigo presidente da Endesa em Portugal, João Galamba, ex-secretário de Estado da Energia e Luís Pinho, CEO da Helexia PortugalHugo Amaral/ECO

Para João Galamba, “neste momento o grande desafio é ter políticas de eletrificação da economia. Só é possível eletrificando consumos que hoje não são elétricos e criar novos consumos”. E apontou que a eletrificação da indústria “é uma área que não está em curso”. O ex-secretário de Estado deixou mesmo críticas ao Governo por ter deixado esta dimensão de fora do pacote para a economia: “Quer o PNEC (Plano Nacional de Energia e Clima) quer o Programa Acelerar a Economia são omissos. Não fala nem de energia nem de descarbonização, o que é extraordinário, e muito menos em eletrificação da indústria”.

 

A Indústria é o setor mais sensível a uma otimização, mais que os serviços e as famílias. São os atores da procura mais sensíveis e ansiosos de novidades, porque é o setor mais exposto a bens transacionáveis e à competitividade.

Nuno Ribeiro da Silva

Professor universitário e antigo presidente da Endesa em Portugal

“A Indústria é o setor mais sensível a uma otimização, mais que os serviços e as famílias. São os atores da procura mais sensíveis e ansiosos de novidades, porque é o setor mais exposto a bens transacionáveis e à competitividade”, assinalou Nuno Ribeiro da Silva. O antigo presidente da Endesa em Portugal criticou a estrutura de impostos sobre a energia, que nos EUA são “muito mais competitivos que a Europa”. “A Europa adotou os serviços e produtos energéticos como vaca leiteira”, atirou.

Nuno Ribeiro da Silva salientou ainda que com as renováveis “Portugal e Espanha têm uma oportunidade histórica de passar para uma situação em que há um novo paradigma em que temos condições muito favoráveis” e atrair investimentos industriais. Sem interligação de redes que permita exportar através dos Pirinéus, “não vai a energia ter com eles, vêm eles buscar a energia”, acrescentou.

Luís Pinho alertou que a transição para as energias renováveis e a redução da utilização de gás vai exigir investimentos elevados, que podem “fazer os preços da energia subir”, defendendo que deve existir transparência sobre esse cenário.

João Galamba fez um “mea culpa” em relação ao hidrogénio verde. “Sou hoje menos entusiasta”, afirmou, apontando que a utilização estará reservada sobretudo para o transporte, nomeadamente o marítimo. “Tenho hoje uma visão em que atribuo uma relevância muito menor ao hidrogénio”, disse. Nuno Ribeiro da Silva também considerou a visão do PNEC para o hidrogénio “pouco focada e demasiado otimista”, defendendo uma revisão do plano que olhe para o que correu mal e o que correu bem.

O ex-secretário de Estado da Energia criticou ainda a falta de ambição do PNEC na bombagem de água, ao prever apenas 300 megawatts. “Quanto mais peso da bombagem tivermos, mais fácil é reciclar a água e fazer face à variabilidade hídrica”.

(Notícia atualizada às 13h28)

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