Crescimento económico abaixo de 2% este ano, mas acelera em 2025
Economistas preveem crescimento do PIB ligeiramente abaixo da meta do Governo para este ano, mas mostram-se otimistas que taxa será atingida em 2025. Contudo, alertam para riscos externos.
As expectativas de um crescimento mais intenso da economia portuguesa na segunda metade do ano parecem difíceis de cumprir, com os sinais relativos ao terceiro trimestre a levarem os economistas consultados pelo ECO a apontarem para uma subida do Produto Interno Bruto (PIB) na globalidade do ano ligeiramente abaixo dos 2% previstos pelo Governo. Contudo, mostram-se confiantes que em 2025 a taxa seja atingida.
Após um primeiro trimestre surpreendente, com uma expansão do PIB de 1,5% em termos homólogos e 0,8% em cadeia, o segundo trimestre manteve a taxa homóloga, mas foi de quase estagnação na comparação face aos três meses precedentes (0,1%), e os indicadores disponíveis sobre a evolução da economia no verão, quer em Portugal, quer na Zona Euro, aponta para que a recuperação seja moderada.
“O segundo trimestre foi muito fraco e os primeiros sinais do terceiro trimestre revelavam novo abrandamento”, assinala o diretor do gabinete de estudos do Fórum para a Competitividade, Pedro Braz Teixeira, em declarações ao ECO. O economista destaca, contudo, que as exportações de bens em julho “melhoraram muito, em parte por um efeito de ‘trabalhos por encomenda’, que terão correspondido, só neste mês, a cerca de 0,3% do PIB”.
“Não é ainda claro de que se trata, apenas se consegue deduzir que foram exportações para a Alemanha, de “fornecimentos industriais transformados”, e também não se sabe se se poderão repetir até ao final do ano”, refere.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), o indicador de confiança dos consumidores diminuiu em agosto, após ter registado em julho o valor máximo desde fevereiro de 2022 na sequência dos aumentos observados desde dezembro. Também os indicadores de curto prazo relativos à atividade económica na perspetiva da produção, disponíveis para junho, apontam para uma diminuição em volume na indústria, ainda que também registe uma aceleração em volume na construção e nominal nos serviços e para um aumento nominal na indústria.
Por sua vez, o indicador de clima económico, que sintetiza as questões relativas aos inquéritos qualitativos às empresas, diminuiu em junho e julho, após ter aumentado no mês anterior.
O economista e professor do ISEG, António Ascenção Costa, admite, em declarações ao ECO, que “provavelmente, tal como nos anos anteriores, o INE poderá rever em alta as estimativas de crescimento para os dois primeiros trimestres quando fechar as contas nacionais de 2022”, o que será conhecido a 23 de setembro. No entanto, considera que “não parece provável, com os dados atualmente disponíveis, que a economia venha a crescer a um ritmo mais intenso na segunda metade do ano”.
Ainda assim, por seu lado, Pedro Braz Teixeira considera ser “possível que haja surpresas positivas nas exportações que ajudem o crescimento no segundo semestre, apesar de uma conjuntura internacional em deterioração”.
Na Zona Euro, os indicadores apontam para uma economia a perder gás. Após um crescimento de 0,3% no segundo trimestre na comparação face ao primeiro trimestre, os analistas apontam agora para um aumento dos riscos negativos nas previsões do Produto Interno Bruto (PIB) em países como a Alemanha. O Banco Central Europeu (BCE) revelou-se menos otimista para o crescimento económico nos próximos anos face ao que previa em junho, enquanto mantém as expectativas para a inflação global.
Numa revisão em baixa face às projeções de junho, os economistas do BCE antecipam agora um crescimento do PIB da Zona Euro de apenas 0,8% em 2024, 1,3% em 2025 e 1,5% em 2026. Estas previsões representam uma redução de 0,1 pontos percentuais para cada um dos anos face às estimativas anteriores.
António Ascenção Costa destaca que “o crescimento da economia portuguesa está razoavelmente relacionado com o crescimento da área euro e se esta não cresce de uma forma robusta dificilmente o crescimento em Portugal poderá ser muito mais elevado”.
Crescimento do consumo e investimento podem ajudar
Para Pedro Braz Teixeira, é possível que haja surpresas positivas nas exportações que ajudem o crescimento no segundo semestre, “apesar de uma conjuntura internacional em deterioração”.
“É possível o crescimento deste ano ficar um pouco abaixo dos 2% e isso não comprometer o saldo orçamental de 2024. Por um lado, já estão executados 2/3 do ano e, por outro, há instrumentos orçamentais, como as cativações, para acomodar eventuais desvios”, aponta o economista.
Por seu lado, António Ascenção Costa destaca que, pelo lado da procura externa, há uma tendência para a desaceleração do crescimento da procura turística, que em geral é mais acentuada no trimestre de verão, e, por outro lado, “a continuação do decréscimo da produção industrial, relacionada com a exportação de mercadorias, também indicia fraqueza da procura externa, decorrente do fraco crescimento na Área Euro”.
“Só um crescimento do consumo privado substancialmente mais forte, e também do investimento, poderia justificar um crescimento do PIB mais forte na segunda metade de 2024”, argumenta o professor do ISEG, acrescentando que “a previsão do Governo sendo possível também pode estar a ser otimista”, apontando para uma taxa anual de 1,8%.
Já o coordenador do NECEP – Católica Lisbon Forecasting Lab, João Borges de Assunção, considera que “o crescimento de 2% previsto pelo Ministério das Finanças para este ano está próximo do limiar superior” da previsão da instituição, pelo que crê ser “exequível”.
“Porém o nosso cenário central está em 1,8% pelo que o risco é que o crescimento este ano seja um pouco mais fraco do que isso”, prevê.
Na última ronda de reuniões com os partidos políticos sobre o Orçamento do Estado para 2025 (OE2025), o Governo reafirmou a previsão de crescimento do PIB de 2% este ano e no próximo. Em abril, no programa eleitoral a Aliança Democrática apontava para um avanço do PIB de 2,5% em 2025, impulsionado pela procura interna, após a implementação das reformas propostas.
Crescimento de 2% em 2025 parece “realista”
Numa altura em que se desenha o cenário macroeconómico subjacente ao Orçamento do Estado, o economista Pedro Braz Teixeira assinala que “a previsão do PIB para 2025 é mais importante do que a para 2024”.
“Em relação a 2025, com as sucessivas descida de taxas pelo BCE, a conjuntura europeia poderia melhorar, ajudando as nossas exportações”, aponta, acrescentando que o crescimento também deverá ser suportado pelo consumo privado, “beneficiando da redução das taxas de juro pelo BCE, do alívio das tabelas de retenção do IRS e de transferências extra para os pensionistas”, e pelo investimento, ainda que assinale que este terá “mais dificuldade em acelerar devido à incerteza política em torno do OE2025 e da sobrevivência do Governo”.
“O problema são os riscos muito variados: desde as eleições nos EUA, os conflitos armados, etc”, refere.
Para António Ascenção Costa, em princípio, a manutenção da previsão de crescimento em 2% para 2025 afigura-se prudente. “A mais recente previsão de crescimento da Comissão Europeia para a Área Euro em 2025 situava-se em 0,8%, sendo a previsão de 2% para Portugal razoavelmente superior”, refere.
“Admite-se que o crescimento português possa continuar a ser impulsionado pelo crescimento do consumo privado e do investimento, o que pressupõe, neste último caso, um maior dinamismo na execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e contributos privados. Não esperaria grande impulso do lado da procura externa sem maior crescimento europeu”, aponta.
Um cenário também previsto por João Borges Assunção. “Relativamente a 2025 um cenário central em torno de um crescimento de 2% parece realista, até porque o ciclo de subida das taxas de juro parece ter passado o que poderá acomodar alguma deterioração na evolução da economia”, indica.
O coordenador do NECEP prevê “que se o consumo privado se revelar melhor que o esperado, devido às medidas do IRS por exemplo, é possível que durante alguns trimestres a economia portuguesa tenha um desempenho ligeiramente melhor que a Zona Euro”.
No entanto, considera que “será difícil a Portugal evitar eventuais abrandamentos se isso se verificar na Zona Euro e nos Estados Unidos”, uma vez que “o ambiente económico internacional está outra vez um pouco mais fraco”.
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