Centeno aponta para Fed e diz que BCE também pode descer juros de forma rápida
Fed não precisou de choque nos dados económicos para fazer um corte substancial, diz Centeno. Dados positivos sobre a inflação, e negativos sobre o investimento, podem levar a novo corte em outubro.
O maior risco que o Banco Central Europeu (BCE) enfrenta atualmente é o de “undershoot” na política monetária, ou seja, fazer menos que o necessário, afirmou, esta quinta-feira, Mário Centeno, sugerindo que os mais recentes dados económicos poderão justificar uma aceleração nas descidas das taxas de juro.
“Dada a posição em que nos encontramos atualmente, no ciclo da política monetária, temos de minimizar o risco de undershooting, porque esse é o principal risco”, disse o governador do Banco de Portugal e membro do conselho de governadores do BCE disse, em entrevista ao Politico.
O BCE cortou, na semana passada, as taxas de juros pela segunda vez este ano, mas a presidente da instituição, Christine Lagarde, sinalizou que o próximo corte poderá acontecer apenas em dezembro, pois o intervalo de cinco semanas até à próxima reunião, em outubro, é curto.
Ao Politico, Centeno afirmou que discorda dessa visão. “Não acho que cinco semanas seja um período de tempo curto”, disse. “Fui ministro das Finanças e tinha de tomar decisões às 7h30 da manhã, 7h45, 8h15. Cinco semanas é muito tempo para voltarmos aos dados, para os analisarmos de novo, para avaliarmos o que cada dado nos está a dizer”.
O governador do Banco de Portugal apontou para o outro lado do Atlântico como exemplo, nomeadamente o corte de 50 pontos base nas Federal Funds Rates anunciado pela Reserva Federal na quarta-feira. Para Centeno, a Fed não precisou de uma grande alteração nos dados económicos para mudar de tom, acabando por optar por uma forte redução.
“Os dados mais recentes para os EUA foram piores do que o esperado para o mercado de trabalho, mas não foi um grande choque”, disse Centeno.
Investimento privado é maior preocupação
“Já temos novas informações”, sublinhou Centeno, apontando para os dados divulgados na segunda-feira, que mostraram um crescimento mais lento dos salários no primeiro semestre do ano. “Esta desaceleração do crescimento dos salários é uma boa notícia para a inflação”.
Por outro lado, o do crescimento, os dados sobre a confiança dos investidores na Europa e, em especial, na Alemanha, revelaram “uma descida acentuada, muito abaixo das expectativas”, acrescentou.
Centeno salientou que, embora a inflação tenha corrido praticamente como esperado desde o início de 2023, o investimento ficou muito aquém do que o BCE esperava, minando a dinâmica de crescimento.
“Se compararmos a previsão atual com a nossa previsão no início do verão de 2023, reduzimos as expectativas de crescimento do investimento em 80%”, afirmou.
“É isso que mais me preocupa na Europa neste momento. O investimento não está a aumentar – apesar do impulso do Next Generation EU, o investimento público está a crescer na maioria dos nossos países, mas o investimento privado não está a seguir o exemplo”, lamentou.
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