Like & Dislike: Sai Constança, entra Jorge Gomes

Todos os organismos que estão no jogo do passa-culpas têm uma coisa em comum: são tutelados pela Administração Interna. A própria ministra já prometeu “tirar ilações”.

A época de incêndios nunca é fácil para nenhum ministro da Administração Interna, em nenhuma parte do mundo. A atual ministra não é exceção. No ano passado, em pleno mês de agosto, ficou associada a uma polémica (se calhar até injusta) porque foi fotografada pela revista Flash numa festa no Algarve quando o país começava a arder.

Este ano, depois da tragédia e dos incêndios na região Centro que provocaram 64 mortos e mais de 200 feridos, naturalmente que a ministra, pelo cargo que ocupa, é a quem se exigem todas as respostas.

A própria, em entrevista ao Diário de Notícia/TSF, quando confrontada com o cenário de virem a ser detetadas falhas e responsabilidades da tutela, respondeu: “Tiraremos as devidas ilações e eu tirarei naturalmente as devidas ilações.”

Nos últimos dias, temos vindo a assistir a um jogo degradante de passa-culpas e que envolve várias entidades que em comum só tem um aspeto: são todas tuteladas, direta ou indiretamente, pela ministra da Administração Interna.

1. António Costa tinha pedido o “cabal esclarecimento” e num despacho à ministra o próprio assume que o SIRESP falhou: “poder-se-á inferir que, desde as 19:45 do dia 17 de junho até ao dia 20 de junho, se verificaram falhas na rede SIRESP no Teatro de Operações.”

2. O SIRESP publicou um relatório esta terça-feira onde afirma que o sistema, pasme-se, “esteve à altura da complexidade do teatro das operações: Não houve interrupção no funcionamento da rede SIRESP”.

3. A Proteção Civil diz que houve falhas no SIRESP. Alguns jornais davam conta de que a “fita do tempo” das comunicações registadas pela Proteção Civil apontava para cerca de 10 falhas críticas no SIRESP durante as primeiras 48 horas do incêndio. Falhas essas que teriam deixado pelo menos 10 pessoas sem socorro.

Mas a Proteção Civil garante que as falhas foram supridas por “comunicações de redundância”.

4. O problema é que secretaria-geral do Ministério da Administração Interna aponta o dedo à Proteção Civil ao dizer que deveria ter solicitado “em tempo útil” uma estação móvel do sistema de comunicações.

5. E a secretaria-geral do Ministério da Administração Interna ao menos esteve bem? A Inspeção-Geral da Administração Interna diz que vai fazer uma auditoria (a pedido da ministra) para apurar se a secretaria-geral do MAI cumpriu as “obrigações legal e contratualmente estabelecidas” quanto às comunicações do SIRESP.

Para quem não percebeu, Costa culpa o SIRESP, o SIRESP diz que nada falhou, a Proteção Civil acusa o SIRESP, a secretaria-geral do MAI acusa a Proteção Civil, e agora a Inspeção-Geral da Administração Interna vai investigar a própria secretaria-geral do MAI.

Para quem prometeu tirar “ilações”, se calhar já é tempo de começar a tirar “ilações”.

E quem se segue? Fica uma sugestão. Jorge Gomes, o secretário de Estado da Administração Interna. Não foi só o abraço sentido que deu a Marcelo. Não foi só o facto de ter dado a cara desde o primeiro minuto. Não foi só pela coordenação que teve no chamado Teatro de Operações, informando constantemente os portugueses, mas sem sede de protagonismo. Não foi só pelas sucessivas atualizações que foi fazendo ao número de mortos: 19, 25, 39, 43, 58, 62, até aos 64. Não foi só a emoção que não conseguiu conter quando dava ao país as más notícias. Não foi porque um incêndio lhe destruiu a casa na década de 80 e foi o próprio, segundo conta o DN, quem tirou as filhas de casa. Não é por nada disto. É por tudo isto. Não é por um abraço ou por uma lágrima que se nomeia alguém ministro. Seria pieguice. Mas já vimos ministros serem nomeados por muito menos e sem merecer.

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Fotografia original por ANTÓNIO COTRIM/LUSA

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