Cortes do BCE vão “normalizar” lucros da banca, mas “não há espaço para subir comissões”, diz CEO do BPI

Forte concorrência no setor não deixa espaço para os bancos aumentarem comissões para combater quedas nos lucros após cortes de juros pelo BCE, diz ao ECO João Pedro Oliveira e Costa.

Os lucros “momentâneos”, e não “excessivos”, dos bancos numa altura de taxas de juro elevadas vão inevitavelmente “normalizar” com a inversão da política monetária do Banco Central Europeu (BCE), mas num ambiente altamente competitivo a solução para manter rentabilidade não pode passar pelo aumento de comissões, diz João Pedro Oliveira e Costa, CEO do BPI.

“Não há espaço para [aumentar] comissões. Não só a concorrência entre os bancos é muito feroz, mas com os novos entrantes, não vejo possibilidade de aumentar comissões”, vinca o gestor, em declarações ao ECO. “Sinceramente, nós [BPI] não vamos seguir essa estratégia e aconselharia vivamente a não seguir essa estratégia”.

João Pedro Oliveira e Costa adianta que no banco controlado pelo catalão Caixabank poderá eventualmente até “haver alguns casos em que vamos ter mesmo de rever algumas tabelas de algum de alguns serviços“.

O CEO do BPI falava à margem de um evento de um evento da IBM em Lisboa na quinta-feira após o BCE ter anunciado um corte de 25 pontos base nas taxas de juro, o segundo em dois meses e que vai pressionar os lucros dos bancos.

“Claramente vai acontecer aquilo que nós temos vindo a dizer que haveria de acontecer, ou seja, tivemos um período muito largo de taxas de juro negativas, onde a rentabilidade de capitais próprios era muito baixa e extraordinariamente baixa comparando com qualquer setor”, recorda. “Depois assistimos nos últimos três anos, a uma valorização maior das carteiras, nomeadamente das carteiras de crédito, através da margem financeira e agora vamos assistir novamente a uma baixa dessa mesma, nessa mesma dimensão“.

“Acredito que a margem financeira dos bancos, é inevitável, não há hipótese, vai acabar por baixar”, sublinha.

Quando se fala em lucros excessivos, eu acho que são lucros momentâneos que vão acabar por ser normalizados para valores mais baixos.

João Pedro Oliveira e Costa

CEO do BPI

Explica que se olharmos numa visão longa, para os últimos dez ou 15 anos, podemos ver “uma certa normalização” daquilo que deverá ser dos resultados dos bancos. “No entanto, os bancos vão continuar, felizmente, depois da grande limpeza que tiveram, da grande eficiência que fizeram, a ter rentabilidades mais de acordo com aquilo que é a exigência do retorno de capital agora do que aquilo que foi no período anterior, mas mais baixo do que nós estamos a verificar agora”.

Segundo o CEO do BPI, “por isso quando se fala em lucros excessivos , eu acho que são lucros momentâneos que vão acabar por ser normalizados para valores mais baixos”.

BCE reagiu “um bocadinho tarde”

João Pedro Oliveira e Costa explica a decisão do BCE com o facto de a inflação estar a descer mais do que esperado, mas também com sinais de forte abrandamento de crescimento económico no centro da Europa, nomeadamente na Alemanha.

“E, por isso, eu vejo isto como uma tentativa de criar um estímulo para que a economia europeia crie algum fôlego para voltar a crescer”, diz ainda. “Acho que é importante perceber que o BCE, obviamente sendo um banco central, tem a sua autonomia, mas no meu ponto de vista, reage um bocadinho tarde, tal e qual como da última vez, também subiu as taxas de juro um bocadinho tarde“.

Questionado sobre a causa desse atraso nas descidas, responde: “há uma certa prudência”.

“Temos de ver também que as instituições são feitas por pessoas e há uma visão mais ortodoxa da evolução da inflação, está se muito centrado no tema da inflação, que eu percebo que seja um dos fatores a controlar, mas neste momento, o problema é que nós vivemos num mundo global, onde temos uma Europa envelhecida, com uma capacidade de inovação mais baixa que os seus principais blocos concorrentes, nomeadamente os Estados Unidos e a China“, frisa.

“Claramente temos que ser muito mais competitivos e muito mais ágeis, e vemos nos Estados Unidos, por exemplo, a Reserva Federal é muito mais rápida na reação nas decisões de subidas e descidas de taxas, e esse tipo de intervenção é que era necessário e importante”, adianta.

Para o CEO, a principal mensagem, “que é um forte alívio, vai ser já, está a começar a ser um forte alívio para as famílias e para as empresas“, disse.

“A minha expectativa é que as taxas de juro vão se centrar no próximo ano nos 2%, já se aproximam dos 3% claramente, as Euribor mais longas já passaram claramente abaixo dos 3% nos 12 meses, abaixo dos 2,70”, frisa. “Por isso iremos continuar a sentir esse alívio e acho que são boas notícias para as famílias”.

Na impossibilidade de os bancos aumentarem comissão, a concorrência terá de ser feita no campo da qualidade. “Onde temos que trabalhar na qualidade de serviço, numa maior capacidade de atendimento do cliente com valor acrescentado e isso fazer com que nós ganhamos quota de mercado, é a única hipótese que eu vejo num mercado tão concorrencial, tão evoluído, porque a verdade é que o sistema financeiro português, felizmente, é bastante evoluído”, conclui.

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