Ministro admite “enorme pressão” no arranque do passe ferroviário. CP “será ressarcida até ao último cêntimo”

  • Joana Abrantes Gomes
  • 9:45

Miguel Pinto Luz reconhece maior pressão do lado da procura com o lançamento do novo passe ferroviário verde. CP "até pode vir a ganhar se mais portugueses comprarem o passe”, aponta o governante.

No dia em que entra em vigor o Passe Ferroviário Verde, que substitui o Passe Ferroviário Nacional, o ministro das Infraestruturas e da Habitação reconhece que “vai haver pressão” do lado da procura nesta primeira fase da medida. No entanto, diz que é “um bom sinal” para a ferrovia portuguesa. Quanto às preocupações expressas pela comissão de trabalhadores da CP, Miguel Pinto Luz frisou que a operadora “será ressarcida até ao último cêntimo daquilo que hipoteticamente poderá vir a perder”.

As primeiras semanas serão de enorme pressão, mas será um melhor serviço para todos os portugueses“, disse o governante, em declarações reproduzidas pela CNN Portugal na estação de Santa Apolónia, em Lisboa, onde esteve esta manhã para comprar o novo título de transporte, que tem um custo de 20 euros por mês.

Para Pinto Luz, “era bom” que a estação estivesse “mais cheia” de pessoas neste primeiro dia. Porém, confia que “a partir de agora a procura vai aumentar”, sendo que os estudos realizados pela CP preveem que a medida abranja quase 30 milhões de passageiros por ano. Só a venda do cartão CP+, necessário para adquirir o novo passe ferroviário, triplicou desde setembro face à média mensal observada entre abril e agosto, como noticiou o Público.

“As medidas foram modeladas ao longo dos últimos meses para garantir que temos a oferta necessária para a procura que vem”, afirmou, apontando como exemplos os factos de o novo passe estar disponível apenas para a segunda classe dos intercidades e a necessidade de reserva apenas nas 24 horas anteriores à viagem neste serviço.

Ainda assim, Miguel Pinto Luz promete que o Governo vai estar “atento” ao que vai acontecer para poder “trabalhar em medidas para mitigar” a pressão em algumas linhas. Para isso, vai ser “essencial” adquirir mais comboios, frisou, acreditando que no próximo ano serão entregues as 22 novas automotoras compradas aos suíços da Stadler. Porém, lamenta o atraso no concurso público para a aquisição de outras 117 automotoras, que está pendente nos tribunais há cerca de um ano.

O ministro considera “legítimas” as dúvidas expressadas pela comissão de trabalhadores da operadora ferroviária quanto à capacidade da empresa para responder ao pico de procura, mas reitera que “a CP será ressarcida até ao último cêntimo daquilo que hipoteticamente poderá vir a perder”. “Até pode vir a ganhar se aumentarmos a base de pagantes, se mais portugueses comprarem o passe”, antecipa.

No início do mês, o Governo anunciou, em briefing do Conselho de Ministros, que a empresa vai ser compensada em 18,9 milhões de euros anuais, via contrato de serviço público com o Estado, pela perda de receita que vai ter com a entrada em vigor do Passe Ferroviário Verde. Um valor que, no entender da comissão de trabalhadores, é insuficiente, apesar de, segundo o presidente da CP, ter sido “rigorosamente calculado pelos serviços comerciais e financeiros [da transportadora]”. Além disso, Pinto Luz recordou que estes cálculos foram feitos perante “o pior cenário”.

“É uma mudança de paradigma. É claro que nem todos os portugueses vão ter este passe. Outros vão ter os passes metropolitanos ou outros passes, outros vão usar o Alfa Pendular. Mas a Europa e Portugal têm uma ambição clara da redução das emissões de gases de carbono. Só podemos fazer uma coisa: andar menos de transporte individual e andar mais de transporte público”, apelou ainda o ministro.

O passe ferroviário verde, que entrou em vigor esta segunda-feira, permite viajar nos serviços regionais e inter-regionais, bem como nos comboios urbanos de Coimbra, Lisboa e Porto e em viagens em segunda classe nos intercidades. Neste último caso, a reserva do lugar deve ser feita nas 24 horas anteriores à partida, sendo que só é permitido reservar um lugar por viagem, até um máximo de duas viagens diferentes por dia.

Nos urbanos de Lisboa e Porto, o passe será válido apenas nas linhas não abrangidas pelos passes intermodais metropolitanos — respetivamente, o Navegante e o Andante, ambos com um preço de até 40 euros. Assim, o novo título de transporte ferroviário abrange somente a linha Carregado — Azambuja em Lisboa e os percursos Vila das Aves — Guimarães, Paredes — Marco de Canaveses, Paramos — Aveiro e Lousado — Braga no Porto.

Fora do âmbito deste novo passe ficam os serviços do Alfa Pendular, Internacional Celta, primeira classe nos comboios intercidades e inter-regionais e nos urbanos de Lisboa e Porto dentro das áreas metropolitanas.

O valor mensal de 20 euros não está sujeito a acumulação de descontos e a validade do título de transporte — que tem de ser carregado no Cartão CP+ — é de “30 dias consecutivos a partir da data da sua aquisição”.

(Notícia atualizada pela última vez às 10h37)

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