Declarações do autarca de Loures “não foram um bom momento”, admite Pedro Nuno Santos
Secretário-geral do PS condenou a aprovação, pelos socialistas, de uma recomendação do Chega que propunha o despejo dos participantes nos distúrbios das últimas semanas de habitações municipais.
Cinco dias após o presidente da Câmara de Loures, o socialista Ricardo Leão, ter afirmado que os participantes nos distúrbios em bairros da Grande Lisboa deveriam ser despejados de habitações municipais “sem dó nem piedade”, o secretário-geral do PS reagiu esta segunda-feira às declarações polémicas, reconhecendo que “não foi um bom momento” do autarca.
“Nenhum senhorio privado pode despejar cidadãos que foram condenados. Da mesma forma, um senhorio Estado também não o pode fazer. Mas mesmo que o pudesse fazer, era uma resposta profundamente errada”, sustentou Pedro Nuno Santos, que sublinhou que esta “é uma posição transversal a todos os autarcas do PS”.
Pedro Nuno Santos falava aos jornalistas, em declarações transmitidas pela RTP3, após uma visita ao bairro do Zambujal, no concelho da Amadora, de onde era natural Odair Moniz, o cidadão cabo-verdiano que morreu na madrugada de 21 de outubro após ser baleado por um agente da PSP, incidente que espoletou distúrbios em várias zonas da Grande Lisboa.
O líder socialista lembrou o “trabalho contínuo” de Ricardo Leão no município de Loures em matéria de apoios sociais. “Essa intervenção ao longo do tempo é que o caracteriza, não são momentos que todos nós temos”, realçou, assinalando que “todos os eleitos do PS, seja para a Assembleia da República, seja para órgãos municipais ou regionais, estão comprometidos com o cumprimento da lei, da Constituição, dos objetivos da reinserção social e, para além da lei, com os princípios do humanismo, do respeito pelo outro e da empatia”.
Não obstante, Pedro Nuno Santos criticou a viabilização da recomendação do Chega, com os votos a favor do PS e PSD locais, que propunha o despejo de habitações camarárias de quem comete crimes como aqueles que foram cometidos após a morte de Odair Moniz. “Acho que o PS em nenhum lado deve viabilizar moções do Chega, muito menos com aquele teor“, reiterou.
O secretário-geral do PS estava a ser criticado por não se posicionar sobre as polémicas declarações, mas, esta segunda-feira, defendeu-se dizendo que nenhum jornalista lhe perguntou sobre o tema na quinta-feira, dia marcado pela discussão do Orçamento do Estado para 2025 no Parlamento. Além disso, referiu que achou “melhor” falar nas visitas que está a realizar esta segunda-feira aos bairros “do que através de uma publicação nas redes sociais ou de declarações em on para jornais”.
Pedro Nuno Santos considerou ainda que o Estado “não está” a fazer tudo o que é preciso para resolver os problemas de exclusão e desigualdade social em vários bairros da Grande Lisboa. Embora não responsabilize “este Governo em particular”, nota que “houve programas com intermitência”, como é o caso do projeto “Bairros Saudáveis”, a que o atual Executivo pôs fim. “Isso depois paga-se”, atirou, apelando a uma segurança que vá “para lá da resposta repressiva”.
“Não é um acaso ou uma escorregadela”, atira BE
No entanto, o Bloco de Esquerda (BE) contraria o líder do PS. “Isto não é um acaso, não é uma escorregadela; é uma coerência infeliz do presidente da Câmara de Loures“, afirmou Fabian Figueiredo, que acusa Ricardo Leão de “fazer um mandato, do ponto de vista retórico, mas também do ponto de vista prático, apoiando-se no discurso e nas políticas da extrema-direita”.
Segundo o líder da bancada parlamentar bloquista, “quem conhece [Ricardo Leão], mesmo elementos do PS, sabe que isto não foi um lapso nem um momento menos bom“, porque “não é a primeira, nem a segunda, nem a terceira declaração pública que fez e que podia ter sido dita pelo Chega“.
Em declarações na Assembleia da República, Fabian Figueiredo deu outros dois exemplos de “declarações extremamente infelizes e graves” feitas pelo autarca de Loures. Uma em que “ameaçou cortar refeições escolares a crianças cujos pais se atrasam no pagamento” e outra “em que se gabou de fazer o maior despejo da história, de 550 pessoas”, disse o deputado do BE.
(Notícia atualizada às 12h43 com as declarações do líder parlamentar do Bloco de Esquerda)
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