Editorial

Trump é uma oportunidade para a Europa

A escolha dos americanos é clarificadora, por isso o que os europeus têm agora pela frente são escolhas. O relatório Draghi vai ter de ser a agenda da UNião Europeia para os próximos anos.

Os americanos fizeram as suas escolhas de forma inequívoca, Donald Trump teve uma vitória clara, surpreendente na dimensão, e que lhe confere uma legitimidade política inquestionável (até no chamado ‘voto popular’ Trump ganhou). Agora, mais do que procurar explicações ou culpados, chegou o tempo de uma oportunidade para a Europa. E para pegar a sério no relatório Draghi.

Haverá muitas explicações para a vitória contundente de Trump. Todo o processo que levou à escolha de kamala Harris, o facto de o Partido Democrata ter andado a enganar os eleitores sobre as condições de Biden, a inflação que retirou rendimentos aos americanos, um (mau) programa conhecido de Trump por oposição ao discurso negativo e sem agenda de Harris. Os democratas vão ter tempo para refletir. Os europeus, especialmente os europeus, têm de começar a agir já (e já vamos tarde).

A política económica protecionista de Trump vai conduzir a uma guerra comercial e de blocos. Haverá muitas consequências, a inflação desde logo nos EUA, a desglobalização que já estava em curso, um impacto negativo no crescimento económico global. Mas é neste novo mundo que a Europa tem de disputar o seu espaço. E não vale a pena considerarmos que há um caminho ideal para garantir a afirmação económica (e a independência) da União Europeia, há o caminho necessário.

Uma leitura fina do relatório Draghi permite-nos considerar que o pressuposto essencial para os próximos anos foi mesmo a vitória de Trump. Não é isso que lá está escrito, mas o que o antigo presidente do BCE e primeiro-ministro italiano defende, a estratégia é de uma certa intervenção dos Estados, a criação de grandes empresas globais capazes de concorrerem com americanos e chineses, mais endividamento público europeu, proteção de setores estratégicos para garantir a defesa e independência da Europa, investimento em defesa. A Ucrânia, por exemplo, depende da Europa agora mais do que nunca. E haverá Europa para a defender?

Há cerca de 25 anos, era publicado ‘O fim da história e o último homem’, e os europeus convenceram-se de que este era o quadro mais favorável às democracias liberais — e ao modelo social de mercado. O último homem, afinal, pode ser Trump e autocratas e ditadores como Putin, Orbán e outros que tais. Os princípios que julgávamos adquiridos mudaram, as políticas realistas vão regressar em força.

A Europa não pode deixar de defender os princípios do multilateralismo, do comércio livre, da concorrência de mercado, até porque isso é condição para o crescimento económico europeu, ao contrário dos EUA e da China, que têm mercados domésticos robustos, mas não vão ser esses as regras do jogo global. E vão obrigar as escolhas. O aumento do investimento em segurança e defesa vai custar investimento numa outra área qualquer, provavelmente daquelas que os europeus mais defendem, a saúde e a educação. É uma oportunidade para a Europa, se a Europa a souber jogar.

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