“Vamos investir muito mais em deeptech”, diz vice-presidente da Portugal Ventures

Até outubro, o mercado nacional viu subir 75% o investimento face a 2023. Apesar de Portugal representar menos 5% do total de investimento na Europa "é um caminho prometedor", diz Teresa Fiúza.

“Estamos a investir muito e vamos investir mais em deeptech“, assegura Teresa Fiúza, vice-presidente da Portugal Ventures, na Web Summit Lisboa, cimeira tecnológica a decorrer até 14 de novembro na FIL.

Teresa Fiúza mostrou-se “otimista” quanto à evolução do investimento no ecossistema europeu, mas mais entusiasmada com o crescimento do investimento em Portugal. Até outubro, o mercado nacional registou uma subida de 75% face a todo o ano de 2023. Apesar de Portugal representar menos 5% do total de investimento na Europa “é um caminho prometedor”, considera a responsável da sociedade de capital de risco do Banco Português de Fomento durante o painel “A global view of venture capital” (Uma visão global sobre venture capital), com Magdi Amin (African Renaissance Ventures) e Rodrigo Comazzeto (Crescera Capital).

“A UE criou muitos incentivos, em termos fundos específicos, investigação e colocação de startups em contacto com empresas maiores. Portanto, também estamos muito otimistas em relação ao futuro. Para a Europa é importante dar prioridade às clean tech, deeptech. Estamos a investir muito e pretendemos investir muito mais em deeptech“, diz. “Em termos gerais achamos que é difícil (obter investimento) para tickets maiores. Em termos de estágio inicial, tudo está bem. Os investidores continuarão a investir em estágios iniciais”, disse ainda responsável no painel sobre a evolução do investimento.

“Para Portugal estou otimista para a Europa e temos de ter sempre alguma contenção no otimismo porque temos também o tema da regulação, por exemplo. Que é fundamental, mas que se for exagerada põe-nos a correr em pistas diferentes do que nos EUA”, alerta Teresa Fiúza, ao ECO à margem do painel. “Não estou a dizer que há (excessiva regulação), mas que temos de ter cuidado para que não haja. Até sabermos exatamente o que aí vem temos que ser moderados“, clarificou quando instada pelo ECO.

A excessiva regulação foi um dos obstáculos apontados por Mario Draghi no seu relatório para a Comissão Europeia sobre como dinamizar a economia do continente.

“A realidade (é que) as startups concorrem no mercado global e eu não posso ter as minhas startups a concorrer com menos oportunidades do que as outras. Mas também dá confiança quer aos investidores, quer aos utilizadores, saber que há regulação. Temos é de encontrar a conta certa. Porque em IA, por exemplo, sempre o tema mais mais quente, estamos a trabalhar com dados, muitas vezes confidenciais, e portanto, como utilizadores e dadores desses dados temos de ter confiança no sistema que os vai tratar e a regulação ajuda”, reforça.

Papel do investidor público

Europa e Portugal têm de apostar mais em deeptech, defende a vice-presidente da Portugal Ventures. E o investidor público tem aqui um papel relevante. “Enquanto continente, mas também enquanto país, temos necessidade de desenvolver mais tudo o que tem a ver com deeptech. São normalmente projetos mais difíceis do ponto de vista do investidor privado, sobretudo porque são mais lentos e demoram mais tempo a chegar ao mercado. Por isso, a parte pública, isto é, nós, enquanto investidor público — mas também o Banco Português de Fomento, a ANI, o IAPMEI — temos que conjugar esforços para fazer com que isto possa acontecer de uma forma mais natural para as nossas startups, para depois virem os privados pegar em projetos e levá-los ao next level. Somos os primeiros degraus de uma escada“, diz.

Teresa Fiúza exemplifica o papel dinamizador do investidor público. “Tivemos há pouco tempo o exit de uma startup, por acaso investida pela Portugal Ventures, a CellmAbs, e o múltiplo é inimaginável. Se não tivessem tido este primeiro investimento público quando nasceram, não chegariam onde chegaram hoje, em que foram compradas pela BioNTech para fazer desenvolvimento de cura de dez linhas de investigação contra tumores sólidos. Foi um exit extraordinário”, diz com entusiasmo.

A biotecnológica especializada no tratamento de doenças graves como o cancro, e que surgiu em 2019 como uma spin-off da Universidade Nova de Lisboa, viu a sua propriedade intelectual adquirida pela alemã BioNTech SE, por um valor que poderá ultrapassar mil milhões de euros. Trata-se do maior exit de uma startup portuguesa, potenciado pelos investidores nacionais Portugal Ventures e Bionova Capital.

“Isto é deeptech. Quantas destas que estão aí [no mercado] que, se não as conseguirmos ajudar enquanto investidor público, se calhar não têm o mesmo caminho? É nisso que estamos a trabalhar”, vinca.

O Governo português, recorde-se, anunciou em julho criação de um fundo deeptech no ‘pacotão’ de 60 medidas para Acelerar a Economia, mas não são conhecidos mais detalhes. Aguarda-se para breve um anúncio.

Essa é uma das medidas que está a ser trabalhada com a nossa intervenção e sobre isso não gostaria de adiantar mais nada. Estou com expectativa de que seja brevemente anunciado”, disse António Dias Martins, diretor executivo da Startup Portugal, em recente entrevista ao ECO.

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