Pedro Cabeços, um “pragmático” que percebe “muito de dívida pública” vai gerir a portuguesa
O profissional regressa a Portugal -- e ao IGCP -- após vinte anos a trabalhar em grandes bancos no estrangeiro. Uma experiência que "pode ajudar o Estado" na gestão da dívida nacional.
Vinte anos depois de ter saído da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública – IGCP, para abraçar uma carreira internacional, Pedro Cabeços regressa para assumir a liderança do instituto que gere a dívida pública portuguesa. “Pragmático”, “entusiasta” e de trato “muito fácil”, o gestor que conta com uma longa carreira no exterior, é o nome escolhido pelo ministro das Finanças Joaquim Miranda Sarmento para suceder a Miguel Martín, após o término do seu mandato, segundo avançou o ECO esta segunda-feira.
“Gosto muito dele. Percebe muito de mercado de dívida pública. É uma ótima escolha [para liderar o IGCP]”, adianta ao ECO João Moreira Rato, antigo presidente do IGCP, entre 2012 e 2014, e Senior Advisor da Morgan Stanley, onde Pedro Cabeço trabalhou entre 2009 e 2016, como diretor, enquanto responsável pela área de negócio de ‘flow’ de taxa de juro com responsabilidade pela Península Ibérica.
João Moreira Rato refere que se cruzou com Cabeços na Morgan Stanley, mas conhece-o “muito antes disso da banca [de investimento em Londres]”, onde o atual presidente do Instituto Português de Corporate Governance (IPCG) também trabalhou ao longo de 12 anos, em várias instituições, incluindo a Goldman Sachs, a Lehman Brothers e a Morgan Stanley, precisamente antes de vir assumir a presidência do IGCP, em 2012.m
“É muito focado nesta área [da dívida pública], esteve muito tempo fora e agora vai ter que se ajustar à Administração Pública em Portugal”, nota João Moreira Rato, destacando que Cabeços está a traçar uma trajetória semelhante à que ele próprio fez. “É bom as pessoas virem de fora. É bom sinal conseguir contratar pessoas que tiveram uma boa carreira fora. Pode ajudar o Estado“, destaca.
João Moreira Rato diz que Pedro Cabeços é “muito pragmático, muito prático, muito fácil de trabalhar“. Para o antigo CEO do IGCP, Cabeço “é um entusiasta, que trabalha muito bem em equipa“.
Com uma longa carreira internacional, onde passou pelo Société Générale, Morgan Stanley e Royal Bank of Scotland, onde esteve até final do ano passado, com responsabilidade pelo negócio de fixed income, também no mercado ibérico, Cabeços regressa a uma casa que conhece bem: foi trader da sala de mercados do IGCP, entre 2000 e 2004.
Cabeços vem assim substituir Miguel Martín, uma escolha surpreendente do anterior ministro Fernando Medina, que veio da concessionária de autoestradas Ascendi, e tinha sido administrador financeiro da Águas de Portugal entre 2016 e 2019, período em que coincidiu com o secretário de Estado socialista João Nuno Mendes quando era presidente daquela empresa pública.
Licenciado em Economia no ISEG e com MSc em Risk Management no ICMA Centre da Universidade de Reading (Reino Unido), o futuro presidente do IGCP vai assumir a liderança da agência que gere a dívida pública num momento em que a atividade da entidade regressa à normalidade depois de um ano marcado pela corrida aos certificados de aforro, que teve um “efeito disruptivo” na operação do IGCP, segundo adiantou o ainda presidente do IGCP no Parlamento, numa audição em setembro.
“No ano de 2023, a forte subida das subscrições dos certificados de aforro perturbou a atuação regular do IGCP e, por conseguinte, no ano passado o IGCP esteve em termos de emissão de Obrigações do Tesouro cinco vezes em mercado, quando o expectável são 10, e em Bilhetes do Tesouro esteve quatro vezes em mercado, quando é expectável 10 operações”, justificou Martín, acrescentando que este ano é de “regresso à normalidade”.
O presidente do IGCP, que enfrentou um período de subida de juros devido à política de agravamento de taxas do BCE, foi alvo de críticas pelas mudanças nos certificados de aforro, com o fim da antiga série, que pagava até um máximo de 3,5%, por uma nova linha, onde a taxa não vai além de 2,5%. Foi precisamente a alteração nos certificados que travou as subscrições recordes destes produtos no arranque de 2023.
O IGCP terá ainda ajudado o antigo Governo a colocar a dívida pública abaixo dos 100% do PIB e reduzir o stock da dívida em 2023.
Depois de dois anos marcados pela subida dos juros, 2025 deverá ser de queda das taxas, à boleia da política do BCE. No entanto, a dívida pública portuguesa enfrenta novos desafios, como a eleição de Donald Trump nos EUA, que poderá prejudicar a economia europeia.
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