Investimentos no Setor Segurador: Desafios e Oportunidades para uma Transição Verde
Helena Chaves Anjos, especialista em gestão de riscos nos seguros, prepara o futuro analisando e classificando os investimentos do setor à luz das novas regulamentações e exigências.
O setor segurador europeu encontra-se hoje numa complexa intersecção entre o risco financeiro e a responsabilidade ambiental. O último estudo da EIOPA sobre o alinhamento dos investimentos das seguradoras com os objetivos climáticos revela um cenário desafiante: apenas 4,5% dos investimentos diretos em ações e obrigações corporativas estão em conformidade com os critérios da Taxonomia da UE para sustentabilidade, subindo para 10,7% nos investimentos em setores não financeiros (EIOPA, Factsheet 4 Novembro) 1. Estes dados refletem avanços moderados, mas sugerem um enorme potencial para que o setor segurador adote um papel mais influente e determinante na transição climática.
Apesar dos progressos, o setor enfrenta obstáculos ainda significativos. A falta de dados padronizados e a complexidade dos critérios de avaliação tornam difícil e complexo o alinhamento das carteiras de ativos e estratégias de negócio com os objetivos climáticos. O último parecer do supervisor Europeu, nesta matéria, destaca, contudo, que os incentivos regulatórios poderão acelerar a inclusão de ativos sustentáveis nos portfólios das seguradoras, paralelamente, à mitigação de risco de perda nos ativos relacionados com os combustíveis fósseis, numa fase de adaptação das estratégias de investimento, na transição para a economia verde. A proposta constante do parecer do supervisor, será de refletir nos requisitos de capital adicional para estes ativos, um suplemento de 17% para ações e 40% para obrigações relacionadas com os combustíveis fósseis, visando prevenir a vulnerabilidade financeira de ativos de transição potencialmente obsoletos (Parecer EIOPA, 7 Novembro) 2.
Além disso, as seguradoras têm a oportunidade de fortalecer a resiliência económica através de investimentos em setores mais sustentáveis, como sejam o setor das energias renováveis e infraestruturas ecológicas, mais alinhados com os critérios de sustentabilidade. Esta alteração contribui não só para compromisso do setor segurador com a sustentabilidade, mas oferece, igualmente, uma plataforma para inovar produtos que permitam a mitigação dos riscos climáticos ao promover a proteção ambiental.
Nesse sentido será de destacar os seguintes elementos no parecer, em epígrafe, deste supervisor:
Tratamento Prudencial dos Riscos dos Ativos e Risco de Subscrição Não-Vida
Risco de Ativos de Combustíveis Fósseis:
- Suplemento de capital de 17% para ações e 40% para obrigações em ativos fósseis, refletindo os riscos de transição associados a políticas de descarbonização;
- Estes ativos são considerados mais vulneráveis em cenários de transição abrupta, apresentando reações, potencialmente, mais adversas nos momentos de stress comparativamente a outros setores.
Riscos de Subscrição Não-Vida:
- Medidas de adaptação climática, como proteções contra inundações, entre outras defesas, têm demonstrado impacto importante na redução do rácio de sinistralidade, tornando os portfólios mais rentáveis e menos vulneráveis à volatilidade e alterações climática;
- O supervisor salienta também a importância dos ajustamentos nos módulos de risco de prémio e risco de reservas e de catástrofe no quadro do regime prudencial da Solvência II, para capturar com maior precisão os impactos das alterações climáticas nas reservas e nos prémios do ramo Não-vida;
- Produtos com medidas de adaptação climática tendem a reduzir a volatilidade nas perdas e a melhorar a previsibilidade da sinistralidade, contribuindo para a sustentabilidade de longo prazo dos produtos de seguro do ramo Não-vida.
Por sua vez, o risco associado aos imóveis, apresenta-se com uma relevância significativa, no âmbito do parecer do supervisor, pelo facto da valorização dos ativos imobiliários e imóveis, estarem fortemente relacionados com a eficiência energética, com a sua localização territorial, e com a evolução das políticas públicas e privadas de descarbonização, na fase de transição económica.
Riscos de Imóveis e Risco Energético:
- Os imóveis, ao emitirem gases de efeito estufa, constituem um risco de transição para o mercado imobiliário, de acordo com a necessidade de descarbonizar, com a avaliação da eficiência energética dos edifícios a ser chave para mitigar os choques futuros relacionados com consumo de energia;
- O risco de imóveis é fortemente influenciado pela localização, idade e eficiência energética. Edifícios com rótulos energéticos baixos apresentam uma maior vulnerabilidade, sendo a diversificação nos portfólios das seguradoras essencial para mitigar estes riscos específicos;
- A análise do risco imobiliário indica um aumento no risco de imóveis com baixa eficiência energética, especialmente de acordo com os desenvolvimentos da Diretiva de Desempenho Energético dos Edifícios, aguardando-se, à data, mais dados para uma análise mais precisa.
O aumento da frequência de eventos climáticos extremos está a gerar pressões, em particular, nos prémios e reservas do ramo Não-vida, bem como no mercado imobiliário, exigindo uma atualização dos requisitos prudenciais que reflitam de forma mais precisa os riscos de adaptação climática. A questão central para o setor segurador não se limita à gestão preventiva de riscos, mas à capacidade de transformar esses riscos em oportunidades de negócio para um crescimento sustentável. A forma como as seguradoras alinham os seus investimentos, incluindo os imóveis, e os seus produtos com as práticas ambientais e sustentáveis será determinante para a resiliência financeira e sustentável do setor.
Por fim, é de assinalar o lançamento de relatório da Nações Unidas, no que respeita aos planos de transição climática para as seguradoras, na edição da COP29, em Baku, Azerbaijão, no passado dia 14 de novembro 3, com recomendações expressas às seguradoras para aprimorarem suas capacidades de medição e gestão de riscos climáticos, investindo em modelos mais sofisticados de avaliação de risco climático, incluindo a integração de fatores relacionados com os riscos de biodiversidade e riscos da natureza. Além disso, de acordo com o foco na governação de riscos e no aumento da transparência das práticas das seguradoras, a destacar a recomendação para aumentar a recolha e divulgação de dados climáticos, para permitir uma supervisão de riscos eficaz, fomentando um maior compromisso entre os vários intervenientes.
Concluindo, uma integração consistente da governação e supervisão do tratamento prudencial dos riscos climáticos, na componente dos ativos e dos passivos, aquando da definição dos planos de transição das seguradoras, revela-se fundamental para garantir a resiliência do setor, alinhando as melhores práticas de gestão de riscos, no quadro dos desafios regulatórios de supervisão, na preparação das estratégias de adaptação e mitigação das mudanças climáticas, nomeadamente, na avaliação de riscos e apuramento da posição de capital e solvência, assegurando a estabilidade e sustentabilidade financeira do setor a prazo.
1 Fonte: EIOPA, News, 4 November 2024, Factsheet, EIOPA factsheet shows increasing share of green investments in EU insurers’ portfolios.
2 Fonte: EIOPA, News Article, 7 November.2024: EIOPA recommends a dedicated prudential treatment for insurers’ fossil fuel assets to cushion against transition risks.
3 Fonte: COP29, UN, Nov 2024 | Insurance, Net Zero Insurance, Publications, November 14th 2024.
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