COP29: O desafio de equilibrar inflação e transição energética

  • Paulo Monteiro Rosa
  • 22 Novembro 2024

Um dos avanços desta COP foi a ratificação de um quadro no âmbito do Acordo de Paris, estabelecendo uma entidade, sob égide da ONU, para regulamentos e comércio internacional de créditos de carbono.

A transição energética e as políticas climáticas têm como questão central o equilíbrio entre os custos económicos de curto prazo, que afetam a inflação e o custo de vida, e os benefícios ambientais e económicos no longo prazo. A expectativa é que os ganhos futuros compensem os investimentos iniciais e os sacrifícios financeiros necessários para a transição.

A migração para fontes renováveis ​​exige investimentos iniciais elevados, resultando sobretudo no aumento dos custos da eletricidade e dos transportes. Por outro lado, as regulamentações ambientais tendem a encarecer produtos, especialmente em setores intensivos em combustíveis fósseis, como o cimento, o aço e o transporte aéreo.

Ao nível das infraestruturas, projetos como a expansão de redes de energia renovável, o desenvolvimento de transportes públicos sustentáveis ​​e as iniciativas de adaptação às alterações climáticas requerem investimentos significativos, particularmente em metais industriais essenciais, como o cobre, podendo resultar no aumento dos investimentos e dos preços dos metais industriais.

Os efeitos na inflação são reais e substanciais. O aumento dos custos energéticos e de produção é frequentemente transferido para os consumidores, resultando numa inflação mais elevada e, muitas vezes, persistente. Recentemente, os aumentos nos preços da energia, impulsionados pela transição e segurança energética, ilustraram este fenómeno, tornando a inflação mais resiliente. Nas economias avançadas, este impacto é especialmente grave para famílias de baixos rendimentos, em que uma parte significativa do rendimento é destinada a energia e bens essenciais.

Todavia, a médio e longo prazo, espera-se que a transição energética crie oportunidades significativas. Espera-se uma estabilização dos preços, o acesso a energia mais barata e sustentável e um aumento geral da qualidade de vida. Espera-se que os benefícios de uma economia descarbonizada, mais sustentável e resiliente, consigam superar os desafios iniciais.

Assim, a COP29, realizada em Baku, Azerbaijão, desempenha um papel crucial na definição do futuro económico global, particularmente no que diz respeito ao financiamento climático e à transição energética. O principal objetivo das negociações é estabelecer um novo compromisso de financiamento climático para apoiar os países no desenvolvimento na adaptação às alterações climáticas e na transição energética, diminuindo progressivamente a dependência dos combustíveis fósseis.

No entanto, as discussões enfrentam desafios. Alguns países produtores de petróleo demonstram resistência a compromissos mais ambiciosos, dada a sua forte dependência económica dos combustíveis fósseis. A escolha de Baku como sede da COP29 foi alvo de críticas devido à dependência do Azerbaijão do petróleo e do gás, bem como às preocupações relacionadas com direitos humanos e corrupção. Por outro lado, a realização desses eventos em países produtores de petróleo pode ser uma estratégia para integrá-los no debate global sobre a transição energética.

Tal como aconteceu na COP28, realizada no Dubai, Emirados Árabes Unidos, em 2023, a transição energética continua a ser um tema controverso. Estima-se que o novo objetivo de financiamento climático atinja um bilião de dólares anuais até 2030. Contudo, as negociações permanecem difíceis, com divergências sobre o montante total e a distribuição entre doações e empréstimos.

Um dos avanços mais significativos desta COP foi a ratificação de um quadro no âmbito do Artigo 6.4 do Acordo de Paris, estabelecendo uma entidade, sob a égide da ONU, para regulamentos e comércio internacional de créditos de carbono. Esta medida pode desbloquear recursos financeiros avultados, sobretudo para os países em desenvolvimento, permitindo-lhes acelerar a transição energética.

Embora no curto prazo a transição energética acarrete aumentos de preços que impactam as populações mais vulneráveis, a médio e longo prazo espera-se que os benefícios sejam significativos. Espera-se que os benefícios superem os custos. A redução dos prejuízos provocados pelas catástrofes climáticas e a criação de economias mais sustentáveis ​​e resilientes, são argumentos sólidos que justificam os custos iniciais.

Em suma, sem esta transição, os custos associados ao aquecimento global poderão ser ainda mais elevados, acentuando desigualdades e prejudicando o bem-estar das populações. Assim, talvez a questão não seja apenas “se compensa”, mas sim “como gerir a transição” para que os benefícios cheguem mais rapidamente à população.

 

  • Paulo Monteiro Rosa
  • Economista Sénior, Banco Carregosa

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