Merkel defende que “é importante” os líderes europeus “não terem medo” de Donald Trump
Merkel apela aos líderes europeus que sejam "francos" com futuro presidente dos EUA na próxima era de relações bilaterais. E sobre a Rússia, reconhece "potencial assustador" do uso de armas nucleares.
Numa rara entrevista concedida à BBC, três anos depois de ter deixado a chancelaria alemã, Angela Merkel deixou um conjunto de recomendações aos líderes europeus numa altura em que Donald Trump está prestes a regressar à Casa Branca, dando início a uma nova era na relação bilateral entre os Estados Unidos e a União Europeia (UE).
“É muito importante saber quais são as nossas prioridades, apresentá-las claramente e não ter medo, porque Donald Trump pode ser muito franco”, afirmou antiga chanceler alemã. “Ele exprime-se com muita clareza. E se [os líderes políticos fizerem] isso, há um certo respeito mútuo. Foi essa a minha experiência”, partilha.
Mas os desafios dos líderes políticos vão muito além da futura relação entre os EUA e a UE. Além de o bloco europeu estar a encetar esforços para recuperar a perda de competitividade para o mercado externo, as tensões geopolíticas sobem de tom, aumentando o risco do uso de armas nucleares na sequência da guerra na Ucrânia. Ademais, internamente, tanto a Alemanha como a França tentam resistir à instabilidade política, isto num altura em que pela Europa fora se assiste a uma viragem à direita radical – até mesmo no Parlamento Europeu.
É perante este cenário que Angela Merkel admite que quando os líderes mundiais que conhece bem lhe pedem conselhos, ela responde e ajuda de bom grado. No entanto, não o faz por saudades do poder político que tinha. Sobre isso, a antiga chanceler garante à BBC que não sente falta. “De todo”, assegura.
Armas nucleares? “Potencial é assustador”
Embora apele aos líderes europeus que não tenham receio de lidar com Donald Trump, o mesmo não diz sobre um eventual confrontação com Vladimir Putin – sobretudo numa altura em que a ameaça do uso de armas nucleares sobe de nível.
“Temos de fazer tudo o que for possível para evitar a utilização de armas nucleares”, afirma a antiga chanceler alemã, recordando a relação que teve com o Kremlin, tema que aborda a fundo no seu mais recente livro de memórias, Liberdade.
“Não devemos ficar paralisados pelo medo, mas também temos de reconhecer que a Rússia é a maior ou, juntamente com os EUA, uma das duas maiores potências nucleares do mundo. O potencial [do uso de armas nucleares] é assustador”, diz, garantido à BBC que durante os 16 anos enquanto chanceler alemã, que fez tudo ao seu alcance para garantir meios pacíficos de cooperação com a Rússia. E, na verdade, Putin deu início à sua invasão em grande escala da Ucrânia poucos meses depois de Merkel ter deixado o cargo.
O início da guerra obrigou que a Europa revisse, profundamente, as políticas energéticas. Sobretudo porque foi durante o mandato de Merkel que a Alemanha e as suas grandes indústrias consumidoras de gás tornaram-se dependentes de Moscovo. A Alemanha construiu dois gasodutos diretamente ligados à Rússia: Nord Stream 1 e 2, que estão atualmente desativados.
Merkel explicou à BBC que, na altura, tinha dois motivos para construir os gasodutos (decisão de grande discórdia entre os homólogos europeus): preservar os interesses comerciais alemães, mas também a manutenção de laços pacíficos com a Rússia. Uma estratégia, admite, que acabou por falhar.
A indústria alemã foi desproporcionadamente afetada pelas sanções contra a energia russa, sendo agora forçada a procurar outros fornecedores que vendem este combustível mais caro. Uma nova era nas relações da Europa com a Rússia começou “de forma lamentável” após a invasão em grande escala da Ucrânia, diz Merkel.
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