Exclusivo Grupo Amorim pressiona Estado a vender participação na Galp
Maior acionista da Galp tem enviado cartas à Parpública a dar conta de que desde 2017 já devia ter alienado a participação de 8,2% na petrolífera nacional, que está avaliada em cerca de mil milhões.
O maior acionista da Galp GALP 0,38% está a pressionar o Estado para vender a sua participação na petrolífera portuguesa, atualmente avaliada em cerca de mil milhões de euros a preços de mercado.
Nos últimos anos, o grupo Amorim tem enviado várias cartas à Parpública, defendendo que já deveria ter vendido as suas ações correspondentes a 8,2% do capital da petrolífera nacional e que se encontra em incumprimento desde, pelo menos, 2017, de acordo com as informações recolhidas pelo ECO junto de duas fontes próximas do assunto.
Em causa está a quinta fase de reprivatização da Galp, desencadeada pelo governo chefiado por José Sócrates, ainda em 2008.
No âmbito dessa operação, a Galp realizou em 2010 uma emissão de obrigações que tinha as ações da petrolífera — detidas pela Parpública, segundo maior acionista — como ativo subjacente.
Com uma maturidade de sete anos, quem adquiriu aqueles títulos de dívida ficou com duas opções no final do prazo: converter as obrigações e passar a deter as ações da Galp ou pedir o reembolso dos títulos em dinheiro.
Em 2017, a maioria dos investidores optou pela segunda via, obrigando a Parpública a desembolsar cerca de 885 milhões de euros. Na altura, o jornal Público noticiou que apenas três obrigacionistas optaram por receber as ações em troca, representando um total de 10.512 títulos da Galp.
Para o grupo Amorim, que controla 36,69% da Galp juntamente com a Sonangol, a Parpública deveria ter vendido as ações no mercado, entendendo que foi isso que determinaram as regras da quinta fase de reprivatização da Galp.
Em concreto, o decreto-lei 185/2008 de 19 de setembro indica que “as ações reprivatizadas (…) que não sejam utilizadas pela Parpública para proceder à permuta ou reembolso das obrigações sejam objeto de dispersão mediante alienação em mercado regulamentado”.
A quinta fase da reprivatização avançou dois anos depois, através de resolução do Conselho de Ministros, quando se previa a saída do Estado do capital da Galp no Programa de Estabilidade e Crescimento 2010-2013 no âmbito das medidas de correção da dívida pública, através de um programa de reprivatizações no setor energético – EDP e REN também integraram esta lista, empresas das quais o Estado já saiu.
Contactadas pelo ECO, nenhuma das partes quis comentar. O Ministério das Finanças não respondeu até à publicação deste artigo sobre quais são os planos para a participação pública na Galp.
Galp valoriza, mas pouco
Fonte: Refinitiv
Galp já rendeu 270 milhões em dividendos
A Galp tem sido uma importante fonte de rendimentos para a Parpública. Desde 2017, quando era suposto ter alienado a sua participação, a petrolífera já rendeu 270 milhões de euros à entidade que gere as participações financeiras do Estado, a um ritmo de cerca de 30 milhões por ano. Dentro dos ativos da carteira da Parpública, só a Águas de Portugal entrega mais dinheiro.
Neste mesmo período, as ações valorizaram cerca de 3%, sendo que o desempenho é positivo apenas por causa da evolução registada este ano (avanço de 20%), graças sobretudo à descoberta de petróleo na Namíbia.
Assim sendo, a participação de 8,2% da Parpública na petrolífera nacional regista atualmente um valor de mercado de 980 milhões de euros – a Galp está avaliada em cerca de 11 mil milhões na bolsa, onde 55% do capital se encontra disperso.
Até setembro, a petrolífera liderada por Filipe Silva registou lucros de 890 milhões de euros, correspondendo a uma subida de 24% em comparação com o mesmo período do ano passado.
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