Dominguinhos dramatiza reprogramação do PRR. “Seis meses adicionais são fundamentais para concretizar investimentos”
Pedro Dominguinhos diz que execução no terreno das Agendas está “10 a 15 pontos acima” do reporte financeiro. Riopele “não se meteu em aventuras” e escolheu parceiros capazes de cumprir as metas.
O presidente da comissão nacional de acompanhamento do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) já avisou o Governo que “face aos constrangimentos burocráticos, ao atraso inicial e ao impacto das Agendas Mobilizadoras para a economia portuguesa, era desejável aproveitar o tempo todo que [há] ao dispor no PRR, ou seja, até junho de 2026, para concretizar” esses projetos.
“O que os consórcios têm de saber é se podem executar os investimentos no primeiro semestre de 2026. Esses seis meses adicionais são fundamentais para concretizar o investimento”, advertiu Pedro Dominguinhos, notando que as empresas não querem “correr o risco” se isso não for, entretanto, garantido.
A bem do interesse nacional – e não das agendas particulares -, sustentou, “como há motivos para estender o prazo, era desejável [as empresas] terem os seis meses adicionais e um processo de reprogramação do PRR” que depende do Executivo liderado por Luís Montenegro, frisou o responsável, durante a 7.ª edição da Fábrica 2030, uma conferência organizada pelo ECO na Alfândega do Porto.
Após seis meses iniciais para “assinar papéis”, Dominguinhos atesta que houve uma aceleração dos investimentos por parte das Agendas Mobilizadoras do PRR e que ela será sentida com “maior intensidade” no próximo ano. No entanto, assegura que “o que é reportado é inferior à execução física neste momento”, uma vez que os relatórios são trimestrais e há reportes que são deixados para mais tarde. “No terreno estamos com um investimento superior, entre 10 a 15 pontos percentuais acima. Face aos 33% de execução financeira, a execução [real] anda entre os 42% e os 45%”, contabilizou.
No caso da Riopele, o CEO assegurou na mesma conferência que o Projeto Lusitano, que nasceu em Vila Nova de Famalicão e que envolve um total de 17 parceiros numa aposta em soluções sustentáveis e energéticas para revolucionar a fileira têxtil está perto da execução dos 70%. “Não nos metemos em aventuras e só nos rodeámos de parceiros que consigam cumprir as mesmas metas”, notou José Teixeira, destacando que a empresa “não utiliza os fundos se eles não casarem com a estratégia”.
“Em dois a três anos, 100% do valor da nossa produção que era feita com gás natural passou a biomassa e vamos conseguir atingir valores superiores a 35% em energia elétrica que a Riopele gera com parques fotovoltaicos”, assegurou ainda o líder da gigante têxtil minhota, que espera atingir a neutralidade carbónica em 2027. José Teixeira não tem dúvidas de que o “PRR acelerou este investimento, mas salvaguarda que isso “é algo que vem da fundação da empresa”.
Não nos metemos em aventuras e só nos rodeámos de parceiros que consigam cumprir as mesmas metas.
Ora, a comissão de acompanhamento já visitou mais de 40 Agendas Mobilizadoras e ouviu os empresários envolvidos dizerem que aproveitaram os fundos da bazuca europeia para fazerem “investimentos que de outra forma não fariam”. No entanto, Pedro Dominguinhos avisou que “nem toda a investigação e desenvolvimento (I&D) dá o resultado esperado no imediato” e que esses são “processos particularmente exigentes”. Outra vantagem apontada por Dominguinhos foi o reforço da capacidade de contratação de recursos humanos altamente qualificados, incluindo provenientes do estrangeiro, que “pretende-se que fiquem para futuro” ao serviço das empresas nacionais.
Presente no mesmo painel com o tema “As Agendas Mobilizadoras Transformam a Economia?”, Jorge Nadais recordou que as agendas no âmbito da energia estão a ter dificuldades de execução. O partner da Deloitte justificou que estes constrangimentos estão relacionados com o facto de “os produtos na área de energia obrigarem a legislação que nem sequer existia, como é o caso do hidrogénio verde”. No entanto, apesar das dificuldades enumeradas, o responsável da consultora recordou que “apostar em projetos inovadores era a grande ambição do PRR”.
Questionado sobre os projetos que não serão concluídos dentro do prazo previsto, o partner da Deloitte sublinhou que as empresas ainda têm ano e meio para concluir as agendas do PPR. “Haverá certamente projetos que vão ficar concluídos, mas alguns não vão ficar concluídos. Porém, isso não depende de Portugal e será a Comissão Europeia a avaliar esse assunto”, completou.
Luís Ribeiro, administrador do Novobanco, está habituado a ouvir os empresários portugueses a comentar a falta de recursos humanos, sejam eles mais ou menos qualificados, mas também de “toda a burocracia na máquina do Estado” e de um “enquadramento fiscal adverso, seja no IRC, no IRS ou nas contribuições para a Segurança Social”. Por outro lado, lembrou que “os fundos que podem transformar a economia portuguesa não se esgotam no PRR”.
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