Os grandes negócios de 2025 que podem dar novo fôlego ao M&A
Depois de um ano que desiludiu, Portugal tem de mostrar que consegue fechar grandes transações. É unânime entre 'advisors' que as maiores de 2025 serão as vendas da TAP e do Novobanco.
Portugal está longe dos recordes de 2021 e 2022 no mercado transacional, mas ainda existe esperança de um novo ímpeto quando se virar a página do calendário. Isto porque as perspetivas gerais para o mercado de fusões em aquisições (M&A) no próximo ano são de “otimismo moderado”, citando a expressão utilizada por alguns assessores contactados pelo ECO. Desde logo, porque existem vários negócios por fechar nos meses que se seguem.
As estrelas do ano estão na banca e aviação, embora haja outros setores a ter em conta. O diretor e responsável de M&A da Howden Portugal diz que empresas de infraestruturas e saúde tiverem um 2024 “relativamente ativo”, pelo que deverá continuar. “O imobiliário, por seu turno, continua a ser o grande motor das transações em Portugal. Destacam-se os investimentos na área da hotelaria, o que se manterá em 2025. Por outro lado, regressaram as operações de retalho, tendência que já se tinha observado em 2023, mas que se consolidou ao longo deste ano e que se deverá igualmente manter”, acrescenta Francisco Alvim.
O relatório “2025 M&A Outlook” do Goldman Sachs antevê que, em 2025, os maiores desafios, como a regulação e a política monetária incerta, sejam resolvidos, “pelo menos de forma geral” e gerem um ambiente de maior confiança para as empresas negociarem entre si. De facto, 47% dos clientes do banco disseram que os maiores impulsionadores de decisões de M&A no próximo ano serão o crescimento estratégico e junção de novas capacidades (por exemplo, unidades de negócio extra).
Os banqueiros de investimento contactados pela Reuters estimam que as transações de M&A mundiais ultrapassem os 4 biliões de dólares (3,8 biliões de euros) em 2025, o valor mais alto em quatro anos à boleia das promessas do presidente eleito dos Estados Unidos de menos regulação e menos impostos às empresas.
“Depois de um ano marcado por muitas eleições, tanto nos Estados Unidos como na Europa, incluindo em Portugal, espera-se o retorno a uma certa estabilidade política, o que sempre é positivo do ponto do investimento”, assinala Francisco Alvim.
TAP
É um dos maiores negócios em Portugal anunciados para 2025, embora se arraste há mais de um ano, quando o anterior Governo aprovou o diploma que definiu a alienação de, pelo menos, 51% do capital da empresa de aviação, reservando até 5% para os trabalhadores. O Executivo liderado por Luís Montenegro – entretanto no poder – manteve os planos de venda, mas foi mais além ao defender que o ideal era uma privatização total do capital caso haja garantia de que o hub de Lisboa se mantém.
O plano do Governo é iniciar e concluir o processo de privatização no próximo ano, disse o ministro das Infraestruturas, durante a discussão na especialidade do Orçamento do Estado para 2025, em novembro. Miguel Pinto Luz avançou que houve mais de 12 manifestações de interesse na TAP de players nacionais e estrangeiros, onde se incluem IAG, Air France-KLM e Lufthansa, cujas reuniões públicas. O caderno de encargos será preparado até março, de acordo com o Expresso.
Na opinião do advogado Diogo Leónidas Rocha, esta é sem dúvida uma das transações de referência em 2025. Questionado sobre o mercado, explicou que ainda enfrenta períodos de “grande incerteza”. “Apesar dos efeitos do Covid-19 parecerem estar mais distantes, a instabilidade geopolítica provocada pela guerra da Ucrânia veio a afetar as cadeias de produção e distribuição na Europa. O conflito do Médio Oriente de dimensões ainda imprevisíveis, e o facto de as economias motor da Europa encontrarem-se estagnadas, não parece igualmente ajudar a tão esperada retoma do mercado de M&A”, argumentou ao ECO o sócio da área Corporate na J+Legal.
E mais empresas do Estado
Importa lembrar que o Governo criou um grupo de trabalho para proceder ao levantamento das empresas do Setor Empresarial do Estado (SEE) consideradas estratégicas para perceber quais poderão ser objeto de venda de participações. O relatório que daí surgir vai entregue até ao dia 31 de março de 2025.
“Impõe-se uma reavaliação dos ganhos de eficiência e de qualidade resultantes da manutenção e exploração das atividades abrangidas pelo SEE em moldes empresariais públicos ou de uma participação estatal, na perspetiva da reconfiguração da dimensão do Estado e do princípio da eficiência que deve presidir à sua presença e ação”, lê-se no despacho do Secretário de Estado do Tesouro e das Finanças publicado a 11 de dezembro.
A Caixa Geral de Depósitos, o grupo Águas de Portugal, a RTP e a Companhia das Lezírias estão de fora desta análise.
Novobanco
O fim antecipado do Acordo de Capital Contingente (CCA) do Novobanco, no início do mês, abriu novas portas para o futuro da instituição financeira que em 2017 foi vendida ao fundo norte-americano Lone Star. É outra das operações que tem suscitado atenção pública, nomeadamente pela hipótese de uma Oferta Pública Inicial (IPO – Initial Public Offering).
Na sequência do CCA, que o Governo caracterizou como “bom” e capaz de “normalizar” o banco e reduzir encargos estatais, se tudo correr como planeado, o processo começa em maio, apurou o ECO.
Em setembro, fontes avançaram à agência Reuters que a Lone Star estaria a considerar quer um IPO quer uma venda. Segundo o Negócios, o BCE poderá autorizar a operação de redução de capital até ao final de abril ou ao início de maio, portanto – a avançar – o IPO aconteceria só a partir de meados de 2025.
“Seria bom que esta oportunidade fosse aproveitada por players portugueses, pese embora tudo indique que se irá avançar com IPO”, disse ao ECO o administrador executivo da Touro Capital, Miguel Vodrazka de Miranda, que antecipa um ano com atividade de M&A.
Depois de um 2024 marcado pela redução do custo diferencial entre a oferta e a procura (spread bid-ask) e de um maior alinhamento de expectativas de preço entre compradores e vendedores, é expectável que o mercado reacenda, denota Miguel Vodrazka de Miranda. “A evolução deste spread será crucial para o número de transações a ocorrer. Para 2025, e face ao cenário complexo que se avizinha, manter-se-á a procura incessante de oportunidades de crescimento e de consolidação, bem como por ativos com balanços robustos, que ofereçam resiliência e potencial de crescimento, com especial destaque para setores como a indústria, energias renováveis, saúde, tecnologia, sustentabilidade e defesa”, explicou o executivo da Touro Capital.
Outro dos negócios que ficará fechado em março ou abril de 2025 é a recém-anunciada aquisição da empresa espanhola Cacesa (Compañia Auxiliar al Cargo Expres) pelos CTT – Correios de Portugal por um valor de 104 milhões de euros. Por volta dos mesmos meses, estará a Luz Saúde a rubricar o acordo com o fundo C2 MedCapital para controlar mais nove unidades de saúde no Algarve, Lisboa, Porto e Covilhã.
Internacional
- Fusão Honda-Nissan
Lá fora, destaca-se o acordo para criar o gigante dos automóveis entre as fabricantes japonesas Honda, Nissan e Mitsubishi. O plano é assinar o acordo definitivo para a integração (incluindo o plano de transferência de ações) em meados de 2025. seguindo-se uma assembleia geral extraordinária só em abril de 2026. - Bosch paga 8 mil milhões
A empresa alemã Bosch, que emprega mais de 7 mil pessoas em Portugal, fez o maior negócio da sua história com a Johnson Controls: a aquisição da unidade internacional de Aquecimento, Ventilação e Ar Condicionado (AVAC) para edifícios residenciais e comerciais. A compra destes ativos, por oito mil milhões de dólares (7,4 mil milhões de euros), só deverá estar concluída em junho ou julho de 2025. - Mars e ‘Pringles’
A Mars, que tem marcas de chocolates como M&M’s e Snickers, também avançou para a sua maior aquisição de sempre – a da Kellanova por 35,9 mil milhões de dólares (cerca de 33 mil milhões de euros) – e vai gerar uma importante concentração no mercado dos salgados e guloseimas a nível internacional. A operação está prevista de ser concluída na primeira metade do próximo ano.
Não é mera impressão: o fluxo de negócio entre os Estados Unidos e a Europa cresceu no último ano, representando quase metade (44%) do volume de transações entre as principais regiões do mundo pelos cálculos do Goldman Sachs.
É o caso da proposta de venda da britânica DS Smith à International Paper por 9, 8 mil milhões de dólares ou do fundo de private equity Clayton Dubilier & Rice, que está em negociações com a farmacêutica Sanofi para comprar 50% do seu negócio de medicamentos de venda livre (não estão sujeitos a receita médica). A empresa que está no meio destas conversas é a Opella, a terceira maior do mundo neste mercado de consumer health, com um portefólio de 100 marcas, como Dulcolax, Buscopan, (Bisolvon) Mucosolvan, Allegra, Doliprane, Novanight, entre outras. É considerado um dos maiores negócios do ano em França e está a causar alarme sobre quantos despedimentos daí poderão vir – uma movimentação na saúde a ter em atenção em 2025.
Sobre os fundos de private equity, o administrador executivo da Touro Capital referiu que, apesar do poder de fogo (dry powder) “considerável” e de haver interesse que esse capital chegue à economia rapidamente, “é possível que adoptem posturas mais conservadoras e aguardem por um contexto mais favorável para as suas aquisições – talvez com maior incidência no segundo semestre”. “Haverá um aumento de parcerias entre fundos, aumento de transações em coinvestimento com outros investidores, bem como o uso de estruturas financeiras mais flexíveis”, estimou Miguel Miranda.
“Investidores não dependentes de recurso ao financiamento, tais como private equities, fundos de pensões e fundos de investimento, poderão posicionar-se de forma oportunista e mais vantajosa, embora pressionados por múltiplos de transação mais elevados e exigências mais intensas relacionadas com fatores ESG”, completa Diogo Leónidas.
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