Tarifas e política energética de Trump ameaçam resultados da Galp, dizem analistas
Os resultados da Galp podem ser penalizados se Trump agravar as taxas aduaneiras à União Europeia. Descida da cotação do petróleo devido a um aumento de produção nos EUA também terá impacto.
As margens de lucro da Galp podem sofrer na sequência da imposição de tarifas aduaneiras que o presidente norte-americano, Donald Trump, prometeu aplicar a produtos europeus, indicam os analistas consultados pelo ECO/Capital Verde. O impacto tanto pode ser direto, caso as taxas incidam sobre combustíveis fósseis, como indireto, tendo em conta o eventual efeito negativo na economia europeia.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reiterou este domingo que a União Europeia não irá escapar à imposição de tarifas aduaneiras, por parte da maior economia do mundo, sobre os seus produtos. Isto, depois de ter anunciado tarifas de 25% sobre os seus maiores parceiros comerciais, México e Canadá, embora acabasse por adiar a entrada em vigor desta ação por um mês, até 1 de março. No caso do Canadá, o petróleo exportado para os Estados Unidos é uma exceção, e só será taxado em 10%. A China também não escapou a novas tarifas, de 10%.
Os Estados Unidos importaram, em 2023, 9,7 milhões de barris de petróleo e produtos derivados a partir de Portugal, de acordo com dados da Administração de Informação de Energia (EIA, na sigla em inglês).
A Galp reconhece os Estados Unidos como um dos seus principais mercados de exportação. “Os EUA, particularmente a Costa Leste, continuaram a ser um dos destinos mais significativos para a exportação de componentes pesados da gasolina, aproveitando a sua posição do outro lado do Atlântico”, lê-se no Relatório e Contas relativo a 2023. No mesmo, a empresa afirma que “o fuelóleo, a gasolina e o gasóleo foram os principais produtos exportados, representando 31%, 22% e 12% das exportações totais, respetivamente, maioritariamente para os EUA, Espanha e Gibraltar“.
Em 2023, a venda de produtos petrolíferos resultantes das atividades de refinação e comercialização da Galp totalizou 14,8 milhões de toneladas (mton). Deste volume, 7,1 mton foram vendidas à área Comercial da Galp, 3,4 mton a outros operadores e 3,7 mton foram exportadas, aponta o relatório. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, a Galp (através da empresa Petrogal) é a segunda maior exportadora portuguesa para os Estados Unidos, em valor exportado.
Já na última atualização com dados comerciais partilhados pela Galp, publicada no início desta semana e que diz respeito ao quarto trimestre do ano passado, a petrolífera nota uma quebra de 15% nas margens de refinação.
O analista da XTB, Vítor Madeira, observa que “de momento, não parece existir grande reação no preço das ações da empresa” às ameaças de tarifas por parte dos Estados Unidos. “Embora as ações estejam a cair, estas quedas podem ser associadas às quedas no preço das matérias-primas energéticas”, completa.
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No entanto, “tarifas sobre produtos energéticos podem aumentar os custos operacionais, reduzindo as margens de lucro da Galp“, afirma Henrique Valente, representante de Contas da ActivTrades. Na ótica deste analista, o impacto direto na Galp dependerá da natureza específica das tarifas e dos produtos visados. “Se as tarifas incidirem sobre produtos energéticos ou relacionados, a Galp poderá enfrentar desafios adicionais, como aumento de custos ou restrições comerciais”, sustenta.
Desaceleração económica na Europa pode pesar
“A guerra comercial pode contribuir para a desaceleração do crescimento europeu, reduzindo a procura por combustíveis e afetando as receitas da Galp“, aponta, por outro lado, Henrique Valente, acrescentando que a imposição de tarifas por parte da UE, em retaliação, pode ainda “distorcer o mercado energético e impactar negativamente a competitividade da empresa”.
O economista sénior do Banco Carregosa, Paulo Rosa, corrobora que “a imposição de tarifas adicionais pelos EUA sobre produtos europeus poderá afetar a economia da União Europeia, incluindo Portugal” e que “uma redução na atividade económica europeia pode levar a uma menor procura por combustíveis e outros produtos energéticos, pressionando as margens de lucro da Galp“.
Já a favor da empresa está a sua expansão geográfica. “A Galp tem expandido as suas atividades, apostando em novas geografias, como a Namíbia. Essa estratégia de diversificação pode ajudar a reduzir os efeitos negativos resultantes das políticas comerciais dos EUA“, entende Paulo Rosa.
O economista do Banco Carregosa indica que, de acordo com o economista-chefe para a Europa do Goldman Sachs, Sven Jari Stehn, uma tarifa de 10% sobre todas as importações dos EUA vindas da União Europeia poderia eliminar um ponto percentual do crescimento da zona do euro. Numa abordagem mais cautelosa, Paulo Rosa sublinha que o impacto real da imposição de tarifas na economia europeia dependerá de vários fatores, incluindo as respostas políticas e económicas da União Europeia e dos seus Estados-membros.
Por fim, a “incerteza gerada por uma guerra comercial pode dificultar o planeamento estratégico da empresa e afetar a confiança dos investidores“, afere Henrique Valente.
Mais oferta de petróleo e gás pressiona preços
Além da ameaça de tarifas, Donald Trump avançou com uma política energética que fomenta a exploração e produção de petróleo, o que pode também pressionar a empresa. “Caso o plano do presidente Donald Trump com o ‘drill baby drill’ [aposta na exploração e produção de energias fósseis] aumente exponencialmente a produção de petróleo e gás, isto pode provocar uma pressão descendente sobre os preços“, assume também Vítor Madeira, somando a este fator a “pressão” que Trump tem exercido junto da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP) para que estes aumentem a produção, e desta forma os preços baixem. A desaceleração económica de mercados-chave, como a China, também pode exercer pressão sobre os preços da energia, acrescenta ainda Henrique Valente.
Olhando ao efeito na petrolífera portuguesa, caso o preço das matérias-primas caia nos mercados internacionais, “surge a possibilidade de provocar quedas nas margens da Galp, e assim, obter piores resultados“, afirma o analista da XTB. Paulo Rosa concorda que “para a Galp, preços mais baixos do petróleo podem resultar em margens de lucro reduzidas nas suas operações de exploração e produção (upstream)”.
Ainda assim, o economista sénior do Banco Carregosa observa que, como empresa integrada, a Galp também atua na refinação e distribuição (downstream), “áreas que podem beneficiar de custos mais baixos do petróleo bruto“. A diversificação da petrolífera no campo das energias renováveis constitui também novas fontes de receita menos expostas à volatilidade dos preços dos combustíveis fósseis.
Numa nota positiva, apesar das intenções de Trump “de aumentar a produção de petróleo e gás através da desregulamentação ambiental”, as grandes empresas petrolíferas “preferem adotar uma postura cautelosa, apostando na estabilidade financeira, em vez de expandir a produção de forma agressiva”, ressalva Henrique Valente. Um fator que contraria eventuais futuras quedas significativas da matéria-prima, apesar das políticas da Casa Branca.
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