Preços do gás natural toca máximos de abril de 2023. E pode vir aí mais subidas

Um inverno rigoroso e reservas mais baixas do que no ano anterior estão a pressionar os preços da matéria-prima.

Os preços do gás natural têm estado em trajetória ascendente e esta segunda-feira estavam a tocar máximos de abril de 2023. Os níveis de armazenamento e o inverno rigoroso são as razões mais indicadas entre os analistas consultados pelo ECO/Capital Verde. Apesar de os preços ainda estarem longe dos vistos na última crise energética, já são suficientes para causar transtorno junto de empresas e consumidores, e há margem para que continuem a subir.

Os preços do Title Transfer Facility, o contrato de gás natural negociado nos Países Baixos e que é referência para a Europa, atingiu, esta segunda-feira, os 58,75 euros por megawatt-hora (euros/MWh), ao nível de fevereiro de 2023, confirma o Banco Carregosa, com base nos dados da Bloomberg. De acordo com a plataforma ICE, estes mesmos contratos fecharam nos 58,34 euros/MWh, ainda em linha com níveis de fevereiro de há dois anos.

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De acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE), curvas de futuros de meados de janeiro sugeriam que os preços do TTF subiriam 30% em 2025, em comparação com os níveis de 2024.

A tendência ascendente a que temos assistido nos preços do gás TTF reflete, em larga medida, preocupações sobre os níveis de reservas de gás europeias, à medida que o inverno avança“, escreve a Aleasoft, apontando que o armazenamento europeu está agora em cerca de 50%, que compara com os 68% do mesmo período do ano anterior.

O economista sénior do Banco Carregosa, Paulo Rosa, afirma que estes níveis caíram devido a “um inverno mais rigoroso que o previsto”, no qual “a procura por aquecimento aumentou, em particular no norte e oeste da Europa.

Além disto, parte do setor industrial recuperou da crise de 2022 e 2023 e retomou níveis mais altos de produção, continua a Aleasoft, aumentando a utilização de gás. “Se as reservas caírem demasiado, isso significa que a Europa vai precisar de comprar mais gás no verão para preencher as reservas e estar preparada para o próximo inverno” o que “exerce uma pressão para o aumento dos preços”, explica a casa de análise.

Henrique Valente, da ActivTrades, acrescenta duas variáveis à equação: a produção interna de gás na Europa tem vindo a diminuir e, no início de janeiro, houve a interrupção do fornecimento de gás russo através da Ucrânia.

“As perspetivas para este ano indicam que os preços do gás podem continuar elevados”, aponta Henrique Valente. “Com base nas tendências históricas e na atual trajetória ascendente, espera-se que os preços possam continuar a subir nos próximos meses“, embora uma melhoria na capacidade de armazenamento e uma economia europeia mais fraca possam “atenuar aumentos significativos”, reforça Paulo Rosa.

O mesmo analista afirma que, se as restrições de oferta persistirem, o preço do TTF pode atingir os 60-65 euros por megawatt-hora (eur/MWh). Já um inverno mais ameno, uma desaceleração económica mais acentuada e um fornecimento reforçado de LNG podem estabilizar os preços entre os 45 e os 55 euros/MWh.

A Aleasoft assinala uma “situação atípica”: os futuros do gás para o verão estão a cotar a níveis mais altos do que os contratos para o inverno, quando geralmente o inverno apresenta maior pressão dada a maior procura para fins de aquecimento. “Esta curva pouco usual indica que os traders esperam competição forte por LNG nos próximos meses“, à medida que a Europa restabelece as reservas, “colocando uma pressão adicional em alta nos preços”, afere a mesma fonte.

Mas o que será decisivo para a evolução dos preços este ano? “Muito vai depender das condições meteorológicas no resto do inverno”, indica a Aleasoft. Ao mesmo tempo, “a grande questão é quão agressivamente a Europa vai precisar de preencher as suas reservas” – se estas estiverem baixas em abril, deverá assistir-se a um “disparar” na procura no verão, “o que deverá manter os preços acima dos níveis típicos sazonais”.

Se o reabastecimento for insuficiente na primavera e no verão, os preços podem manter-se elevados“, alerta Paulo Rosa. O economista sénior do Banco Carregosa assinala ainda que do lado geopolítico, as disputas comerciais em curso, nomeadamente a tarifa imposta pela China sobre o LNG dos Estados Unidos, podem perturbar as cadeias de abastecimento e aumentar a volatilidade.

Competitividade e consumidores afetados

Os preços caíram mais de 90% desde os seus máximos históricos e desde março de 2023, sublinha Henrique Tomé, analista da XTB, relativizando os níveis atuais, face aos da crise energética. “Apesar de os preços estarem a negociar a níveis crescentes, não estamos a aproximarmo-nos dos níveis recorde que se verificaram nesse período“, complementa a Aleasoft. Mas isso não significa que não existam impactos.

O aumento dos preços do gás tem um impacto significativo na economia europeia“, afirma o analista da ActivTrades, apontando como consequências dos preços uma inflação mais persistente e um impacto negativo na competitividade das indústrias intensivas em energia, como a química e metalúrgica.

Por um lado, estas empresas podem querer realocar-se, com impacto económico associado, ou também podem repassar os custos elevados para os consumidores, resultando em preços mais altos para bens e serviços.

Em adição, os preços da eletricidade tendem a seguir os preços do gás, na medida em que, nas horas em que é necessário recorrer a este recurso para responder às necessidades de consumo, é o gás que define o preço de toda a eletricidade vendida naquela hora. “A subida dos preços da energia reduz o rendimento disponível das famílias, afetando o poder de compra e enfraquecendo o consumo geral“, alerta Paulo Rosa.

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