Ucrânia. Mais de 10 milhões de deslocados nos três anos de guerra
Há "mais de 2 milhões de casas na Ucrânia – 10% do parque habitacional – danificadas ou destruídas" pela guerra, segundo a agência da ONU para os refugiados.
Cerca de 10,6 milhões de pessoas foram forçadas a deixar as suas casas na sequência da guerra na Ucrânia, iniciada há três anos com a invasão da Rússia, disse esta terça-feira um representante da agência da ONU para os refugiados.
O valor representa quase um quarto da população ucraniana pré-guerra, avançou Philippe Leclerc, diretor para a Europa do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR), numa conferência de imprensa realizada esta terça-feira em Genebra, Suíça, para assinalar três anos da invasão da Rússia do país vizinho, a 24 de fevereiro de 2022.
“Só nos últimos seis meses, mais de 200.000 pessoas fugiram das suas casas no leste da Ucrânia devido ao aumento dos ataques”, acrescentou o responsável, sublinhando que “o sofrimento humano continua” e é cada vez mais necessário “prestar assistência imediata”.
Lembrando que três anos depois, “a guerra em grande escala na Ucrânia ceifou milhares de vidas, causou uma destruição incalculável, separou famílias, infligiu traumas psicológicos significativos e devastou a economia e as infraestruturas do país”, Philippe Leclerc destacou que o conflito provocou milhões de refugiados e deslocados que precisam de ajuda. No entanto, frisou, “o financiamento tem sido um desafio há muito tempo” e “agora, é mais incerto do que nunca”, tendo em conta os cortes decididos pela nova administração dos Estados Unidos.
“Os recém-deslocados são cada vez mais vulneráveis – idosos e pessoas com deficiência – e enfrentam frequentemente desafios adicionais no acesso aos serviços de que mais necessitam”, lamentou Philippe Leclerc, adiantando que muitos continuam a procurar segurança em abrigos coletivos.
Para os 3,7 milhões de desalojados e 6,9 milhões de refugiados que continuam a receber proteção no estrangeiro, o regresso a casa enfrenta dificuldades muito além das bombas.
Há “mais de 2 milhões de casas na Ucrânia – 10% do parque habitacional – danificadas ou destruídas”, além de que “os repetidos ataques às infraestruturas energéticas continuam a mergulhar as pessoas no frio e na escuridão, ao mesmo tempo que interrompem ainda mais os serviços locais deficientes”, explicou o responsável do ACNUR.
A juntar a isto, lembrou ainda o representante, há que contar que “até um terço do território da Ucrânia terá sido exposto à contaminação por minas terrestres e munições” e que “os centros agrícolas e industriais no leste foram devastados” o que significa que cerca de 30% dos empregos pré-guerra foram perdidos.
“Enfrentar estes desafios – referidos pelos refugiados como impedimentos ao regresso – deve ser uma prioridade coletiva”, alertou o ACNUR. Um outro desafio provocado por três anos de guerra intensa é o estado da saúde mental. “O impacto na saúde mental também foi profundo no meio da ameaça incessante de mísseis e ‘drones’, longos períodos de separação familiar e traumas cumulativos”, referiu Philippe Leclerc.
As crianças são particularmente vulneráveis a estas dificuldades, pelo que se estima que 1,5 milhões estejam em risco de ter problemas de saúde mental a longo prazo.
“Nos últimos três anos, o ACNUR levou assistência vital a milhões de pessoas afetadas” e continua a responder a novos ataques e novas deslocações, garantiu a agência da ONU, acrescentando que proporciona, entre outras coisas, locais quentes para dormir imediatamente após um ataque, primeiros socorros psicológicos e dinheiro para as necessidades básicas.
Juntamente com outros agentes humanitários da ONU, o ACNUR também entregou ajuda a 800.000 pessoas que vivem em comunidades de difícil acesso na linha da frente. Mas a ajuda e a recuperação do país estão mais incertas e as vítimas “correm o risco de perder ajuda vital quando mais precisam”, alertou a agência.
Por isso, sublinhou a organização, “o apoio de uma série de doadores é crucial para garantir que o ACNUR possa continuar a prestar ajuda de emergência, abrigo e segurança a quem deles necessita”.
“Agora não é altura de desistir do povo da Ucrânia”, concluiu a agência da ONU.
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