Sogrape antecipa envio de encomendas para os EUA para ‘fintar’ tarifas de Trump

A dona do Mateus Rosé, Barca Velha, Sandeman e Porto Ferreira reforçou o stock para prevenir possíveis perturbações. EUA são o segundo maior mercado dos vinhos portugueses.

Desde que Donald Trump tomou posse como Presidente dos EUA, os empresários estão em alerta com as eventuais tarifas às importações que possam surgir. O setor dos vinhos não é exceção, atendendo ao peso do mercado americano: 102 milhões de euros no ano passado. A gigante Sogrape já tomou medidas ao reforçar o stock para garantir cerca de seis meses de encomendas, antecipando possíveis perturbações.

Com as exportações para os EUA a representaram cerca de 20% do total de exportações da Sogrape o ano passado, a dona do Mateus Rosé, Barca Velha, Sandeman e Porto Ferreira confirmou ao ECO que “adotou uma abordagem preventiva ao reforçar o stock no importador nos EUA, a Evaton, para minimizar eventuais perturbações no mercado”.

Sem confirmar a quantidade enviada para os EUA, a maior empresa portuguesa de vinhos adiantou que “reforçou o stock para garantir cerca de seis meses de disponibilidade, antecipando possíveis perturbações”.

Reforçámos o stock para garantir cerca de seis meses de disponibilidade, antecipando possíveis perturbações.

João Gomes da Silva

Administrador executivo da Sogrape

João Gomes da Silva, administrador executivo da Sogrape, não tem dúvidas que “antecipar encomendas em períodos de incerteza permite à empresa assegurar a continuidade do fornecimento e responder da melhor forma às necessidades dos clientes”.

Contrariamente à maior produtora de vinhos nacional, que viu em 2023 o volume de negócios encolher para 333 milhões de euros, a Symington Family Estates “ainda não antecipou encomendas”. A direção comercial de uma das maiores produtoras mundiais de vinho do Porto premium diz ao ECO que “tendo em conta a imprevisibilidade do que poderá acontecer, prefere aguardar”.

Barreiras burocráticas ou tarifas podem ameaçar exportações

Embora ainda não estejam confirmadas as tarifas sobre o setor dos vinhos, Frederico Falcão, presidente da ViniPortugal, assegura ao ECO que “qualquer dificuldade, sejam barreiras burocráticas ou tarifas, terão impacto negativo nas exportações”.

O administrador executivo da Sogrape corrobora a ideia do líder da ViniPortugal e refere que “qualquer medida que gere incerteza no comércio internacional representa um desafio para o negócio”. No entanto, acredita “que a solidez das marcas do grupo, aliada ao crescente interesse pelos vinhos portugueses nos EUA, permitirá a Sogrape ultrapassar eventuais obstáculos e continuar a crescer neste mercado”.

A Symington que detém marcas como a Graham’s e Cockburn’s (Porto) ou Altano (DOC Douro), também “receia” eventuais tarifas, justificando que os “EUA são um mercado importante para as categorias de vinho do Porto premium, que tem vindo a ganhar mais peso em função do aumento de turismo americano em Portugal”.

De acordo com dados da ViniPortugal, o ano passado os EUA reforçaram a posição como o segundo maior mercado dos vinhos portugueses com um crescimento de 2%, atingindo 102,1 milhões de euros. França manteve-se como o principal destino dos vinhos portugueses.

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Bernardo Gouvêa, presidente do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), diz ao ECO que “existe claramente uma preocupação do setor“, tendo em conta os Estados Unidos é neste momento o segundo maior mercado para as exportações nacionais.

Existe preocupação no setor, claramente, pois o mercado dos Estados Unidos é neste momento o segundo maior mercado para as exportações nacionais (logo a seguir a França.

Bernardo Gouvêa

Presidente do IVV

“É um mercado muito importante para Portugal, cada vez mais importante“, diz ao ECO o líder da ViniPortugal. “Tinha expectativa que em 2024 os EUA se tornassem o mercado número 1, não foi o ano passado, mas será certamente em 2025 que o mercado norte-americano vai ser o principal destino das nossas exportações“, prevê Frederico Falcão.

Em novembro e dezembro do ano passado, as exportações de vinho para EUA cresceram 4,5% em volume e 4,7% em valor, quando comparado com o período homólogo. Atendendo a estes valores, o líder da ViniPortugal considera que “não houve influência da nova administração dos EUA (ou das ameaças públicas sobre tarifas) nas exportações em 2024.

Dados do IVV mostram que os Estados Unidos cresceram, neste último trimestre, 11% em volume e 10% em valor. No entanto, o presidente do Instituto da Vinha e do Vinho realça que os dados “não permitem concluir, à priori, qualquer tipo de “antecipação” de compras neste mercado devido à ameaça de imposição de novas tarifas”.

Bernardo Gouvêa, presidente do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV)

A nível global, as exportações portuguesas para os Estados Unidos têm vindo a aumentar e o país liderado por Donald Trump já é o quarto principal cliente, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).

Para além do setor do vinho, as tarifas de Trump estão a ser encaradas como um balde de água fria com os produtores de milho, os empresários do alumínio e aço e a indústria farmacêutica a anteciparam tempos difíceis.

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