Caixa, BPI, BCP e Santander: o que dizem os banqueiros sobre o Novobanco?
Caixa confirmou que está a analisar. BPI diz que a decisão é do acionista. BCP dá as boas-vindas se vier para a bolsa. Santander “estranha” se for comprado pelo banco público. Quem quer o Novobanco?
Além dos lucros elevados, a ronda de apresentação de resultados dos bancos nas últimas semanas teve outro ponto em comum: o Novobanco. Nem todos abriram o jogo como Paulo Macedo o fez ao assumir abertamente que a Caixa está a analisar “essa hipótese”. Mas a troca de farpas entre os banqueiros permite perceber que está muito em jogo e que o negócio poderá mudar estruturalmente o mercado. A favor de quem?
“Estamos a analisar essa hipótese”. Paulo Macedo foi o mais claro dos banqueiros quando questionados pelo Novobanco, que se prepara para entrar na fase mais decisiva do seu processo de venda.
“Interessam-nos operações que possam ter sinergias com a Caixa, acrescentar valor e que o total seja maior do que o somatório das partes”, acrescentou o líder do banco público na passada quinta-feira depois de ter anunciado lucros recorde de 1,74 mil milhões de euros.
Maio poderá ser o mês do IPO do banco da Lone Star, mas esse caminho poderá ser interrompido se alguém se chegar à frente e passar o cheque com o número certo ao fundo americano.
A Caixa poderá não estar sozinha nesta corrida. Do lado do BPI também se manifestou interesse, ainda que de uma forma menos declarada. O CEO João Pedro Oliveira e Costa deixou o tema nas mãos do Caixabank. “Será sempre o movimento do acionista, e não do BPI, porque o BPI não teria capital para esse movimento”, afirmou o gestor, lembrando que os espanhóis têm um “importante” historial no que toca a processos de consolidação.
“A consolidação não é estranha ao Caixabank. (…) Estes movimentos foram feitos com enorme racionalidade, têm de criar valor para o acionista, melhorar a vida dos trabalhadores e o serviço dos clientes. Foi com essa linha de consolidação que tomou a posição no BPI. E se olharmos para os resultados do BPI nos últimos oito anos, esse movimento demonstra que é uma linha de atuação possível”, afirmou o presidente do BPI.
Também o BCP poderá ser um candidato. Miguel Maya foi mais esquivo nas respostas que deu aos jornalistas. “Não estamos em nenhuma corrida pelo Novobanco. De cada vez que há uma operação no mercado é nossa obrigação analisar”, referiu. Mas não deixou de lançar farpas e avisos, mostrando que o negócio do Novobanco não é completamente indiferente ao BCP.
Novobanco público ou espanhol?
Quem comprar o Novobanco arrisca a tomar ou reforçar a liderança do mercado com praticamente um terço de quota de mercado em Portugal.
Por outro lado, se o comprador for espanhol, irá acentuar o domínio de nuestros hermanos no sistema nacional – sendo que atualmente os bancos em Portugal com capital espanhol representam quase 30% do total.
Recentemente, o governador do Banco de Portugal alertou para as implicações sistémicas de um eventual processo de consolidação com o banco público. “A Caixa é um banco muito importante, mas isso traz também responsabilidade. É uma decisão de negócio com consequências sistémicas que têm de ser analisadas”, alertou.
Nesse sentido, Mário Centeno mostrou-se mais favorável a um IPO, embora frisasse que o desfecho final será determinado pelo mercado: “Gostava de ter mais bancos na bolsa”.
“Não sei muito bem o que [o governador] quererá dizer, mas não deixa de ser estranho, no panorama europeu, um banco público, que é o maior banco, poder comprar um outro banco, o quarto player e ficar com mais de um terço do mercado”, atirou Pedro Castro e Almeida, CEO do Santander Totta há cerca de um mês.
As declarações mereceram resposta do líder da Caixa: “Se me preocupa que o Novobanco vá parar a mãos estrangeiras? Eu vi o presidente do Santander preocupado que o Novobanco venha parar à Caixa. Eu fico preocupado se a banca espanhola passar a ficar com 45% de quota de mercado”.
Miguel Maya avisou que é “desejável que haja uma apreciação da concorrência se houver uma operação de consolidação”. “Não me passaria pela cabeça que não haja uma avaliação”, considerou o CEO do BCP.

Vale cinco mil milhões?
Em relação ao valor potencial do Novobanco, na ordem dos cinco mil milhões de euros, os líderes da Caixa e do BCP mostraram-se céticos. “Se aplicássemos os múltiplos que tenho visto nos jornais, a Caixa teria um valor entre nove mil milhões e 16 mil milhões de euros”, respondeu Paulo Macedo. “Se vale este valor? Fico mais entusiasmado com o que vale o BCP”, referiu Miguel Maya.
Ambos também comentaram a possibilidade de o Novobanco acabar na bolsa. Paulo Macedo assumiu que esse desfecho não representará um obstáculo a um processo de consolidação: “Se entrar em bolsa, não vejo que se torne impeditivo de alguma coisa. Há vários pressupostos. E não me parece que a Lone Star avance para bolsa se não tiver o destino final do comprador”.
Já Miguel Maya, líder do único banco nacional cotado, dá as boas-vindas: “Se o Novobanco for para o mercado, ficamos entusiasmados, não tira valor ao BCP. Estamos sozinhos no mercado, será bem-vindo na bolsa”.
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