Montenegro e Pedro Nuno Santos entram em campanha em modo “passa culpas” pela crise política
O presidente do PSD vai usar os trunfos da governação e pedir à oposição para o "deixarem trabalhar". Já o líder do PS joga a cartada da polémica em torno empresa da família do líder do PSD.
Em contagem decrescente para as eleições legislativas antecipadas de maio, Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos partem para a campanha em modo passa culpas pela crise e instabilidade, com trunfos e fragilidades que se vão jogar na arena política, segundo vários politólogos consultados pelo ECO.
O líder do PSD vai defender as conquistas do seu Governo e o secretário-geral do PS irá usar a cartada do potencial conflito de interesses entre a empresa familiar Spinumviva e o cargo de primeiro-ministro.
“A grande questão será verificar quem vence a narrativa da responsabilização sobre a crise política e o cenário de eleições antecipadas”, conclui Bruno Costa, professor de Ciência Política da Universidade da Beira Interior. Alinhando pelo mesmo diapasão, Carlos Jalali, da Universidade de Aveiro, considera que “a campanha também vai ser dominada pelo passa culpas de quem provocou uma nova ida às urnas”.
O presidente do PSD e primeiro-ministro demissionário vai explorar ao máximo a “irresponsabilidade” do líder do PS por ter provocado umas eleições antecipadas que ninguém quer, forçando a interromper “o sucesso da sua governação”, como Luís Montenegro já repetiu diversas vezes.
Mas Pedro Nuno Santos irá rebater essa tese, acusando o social-democrata de ter tomado a iniciativa de avançar com uma moção de confiança que sabia que estava condenada, porque o PS nunca a iria viabilizar, para fugir a uma comissão parlamentar de inquérito. A irresponsabilidade, na ótica dos socialistas, é somente de Luís Montenegro.
No meio deste pingue-pongue, Montenegro e Pedro Nuno Santos apostam todas as fichas nas áreas em que podem ter mais a ganhar e isso “vai depender das mensagens que quiserem passar”, salienta António Costa Pinto. “Do debate da moção de confiança, já se percebeu qual é a estratégia do Governo. O primeiro-ministro respondeu a tudo no fundamental e o que esteve em marcha foi a oposição a querer derrubar o Governo. Da parte de Luís Montenegro, a mensagem será: Deixem-nos trabalhar”, de acordo com a análise do politólogo. A expressão foi popularizada por Cavaco Silva, no seu último Governo (1991-1995), como resposta à oposição, que classificou de ‘forças de bloqueio’.
Luís Montenegro usará ainda “os dados do crescimento económico, da descida do desemprego e os diversos acordos com setores da administração pública como principais trunfos”, aponta Bruno Costa. A campanha será uma espécie de “referendo à governação de Luís Montenegro dos últimos 11 meses”, acrescenta Carlos Jalali.
“A estratégia do Governo será ainda aproveitar as próximas semanas, ainda em funções, para tomar decisões, avançar com inaugurações”, segundo António Costa Pinto. Ainda esta quinta-feira de manhã, Luís Montenegro e Miguel Pinto Luz inauguram o programa habitacional do Alto da Montanha, em Carnaxide, Lisboa, que vai entregar as chaves de 64 fogos às novas famílias residentes.
E “a vantagem” do social-democrata “será tanto maior quanto conseguir afastar o seu caso”, ligado à empresa Spinumviva, “da campanha“, indica o mesmo politólogo. “No entanto, o líder do PSD dificilmente se livrará do caso e de todas as decisões pessoas e profissionais que tomou nos últimos anos”, sublinha Bruno Costa. A existência de eventuais conflitos de interesse, de falhas nas declarações relativamente a impedimentos ou mesmo a violação da exclusividade de funções a que o primeiro-ministro está obrigado serão exploradas ao máximo pelo líder do PS.
“A vantagem de Pedro Nuno Santos será tanto maior quanto a campanha for centrada nos conflitos de interesses e no caso de Montenegro”, frisa António Costa Pinto. Também Bruno Costa considera que o secretário-geral socialista pode marcar pontos se centrar o discurso na “fragilidade do primeiro-ministro”. O PS irá montar a campanha de modo a “fazer um referendo ao caso Spinumviva, às questões éticas e legais que podem afetar Luís Montenegro”, reforça ainda Carlos Jalali.
Para além do caso Spinumviva, Montenegro “terá dificuldade em defender a atuação na área da saúde e o caminho face à política de habitação adotada”, sublinha Bruno Costa. Contudo, “os ataques do PS à governação podem não colher frutos”, conclui o professor da Universidade da Beira Interior.
Já “o calcanhar de Aquiles de Pedro Nuno Santos é a dificuldade em se afirmar na liderança do PS e como líder da oposição”, considera o mesmo politólogo. “A sua prestação em campanha e debates demonstra muitas fragilidades”, aponta.
O rumo da campanha ainda vai “depender de outros factos”, alerta Costa Pinto. E exemplifica: “A Procuradoria-Geral da República resolveu abrir um inquérito de averiguação preventiva. E se saísse daqui por um mês? No meio de uma campanha seria pior”. “Há questões externas que podem contaminar a campanha”, avisa. De igual modo, se Luís Montenegro for constituído arguido antes das eleições, a imagem do líder do PSD poderá ficar ainda mais manchada.
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