Quem tem razão nos depósitos: Centeno ou os bancos?

- Alberto Teixeira
- 7:07
O governador voltou a tecer duras críticas aos bancos por pagarem tão pouco pelos depósitos. Os banqueiros justificam que se trata de um tema de concorrência de mercado. Centeno discorda.
Quem tem razão nos depósitos: Centeno ou os bancos?

- Alberto Teixeira
- 7:07
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O que disse o governador do Banco de Portugal?
Diante de uma plateia onde estavam presentes os líderes dos principais bancos nacionais, nesta quarta-feira, Mário Centeno foi muito claro: deve-se exigir à banca que “reflita no rendimento que dá às poupanças dos portugueses aquilo que é a remuneração que obtém nos bancos centrais dos depósitos que lá tem”.
E prosseguiu: “Não é muito compreensível que haja diferença significativa na remuneração dos depósitos da banca junto do banco central pelo Banco de Portugal e a remuneração dos depósitos que a banca faz aos seus clientes”, segundo declarou no Fórum Banca, organizado pelo Jornal Económico.
Proxima Pergunta: Os números sustentam a afirmação de Centeno?
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Os números sustentam a afirmação de Centeno?
Há 13 meses que os bancos estão a cortar as taxas de juro das novas aplicações a prazo, que em janeiro baixaram para menos de 2% em termos médios, o valor mais baixo desde agosto de 2023.
Mas os bancos, dentro da sua gestão diária de liquidez, podem (e fazem-no) guardar fundos junto do banco central, sendo remunerados com base na chamada taxa de facilidade permanente de depósito, que é definida regularmente pelo Banco Central Europeu (BCE). Em janeiro, essa taxa situava-se nos 3%, mas já sofreu dois cortes de 25 pontos base, entretanto, estando atualmente nos 2,5%.
Em termos práticos, a “diferença significativa” entre o que os bancos pagavam aos depositantes e o que recebiam do banco central era superior a 1 ponto percentual no arranque do ano.
Proxima Pergunta: Como é que os banqueiros se defendem das críticas?
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Como é que os banqueiros se defendem das críticas?
Na verdade, não foi a primeira vez que o governador do Banco de Portugal criticou abertamente o comportamento dos bancos no tema dos depósitos. Os banqueiros defendem-se sobretudo com as condições de mercado, seguindo sobretudo duas linhas de defesa:
- a primeira é a de que se encontram numa posição de elevada liquidez, apresentando um rácio de transformação de depósitos em crédito na ordem dos 75%. Por cada 100 euros de depósitos, 25 euros não estão a ser aplicados na economia. É uma questão de falta de incentivo do mercado. Ou seja, não precisam de mais depósitos para poder conceder crédito.
- a segunda é a que, mesmo com as taxas de juros dos depósitos em queda, os bancos continuam a captar poupanças e no fundo a apresentar uma remuneração competitiva para o dinheiro das famílias (ou que estas assim o consideram). Em janeiro, o stock de depósitos ascendia a 112,5 mil milhões de euros, o valor mais elevado de sempre.
Como referiu João Pedro Oliveira e Costa, CEO do BPI, na mesma conferência: “O mercado é aberto, é livre, há muitas alternativas de investimento e boas. Os bancos têm crescido nos depósitos. Não há muito mais a dizer”.
Proxima Pergunta: Mas é apenas uma questão de concorrência? Centeno diz que é uma "responsabilidade social"
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Mas é apenas uma questão de concorrência? Centeno diz que é uma "responsabilidade social"
Na sua intervenção, Mário Centeno sugeriu que remunerar adequadamente os depósitos não é apenas uma questão de concorrência de mercado, “é uma responsabilidade social” em que essa gestão é feita com base num sistema em que a palavra confiança deve ser respeitada.
O governador quis lembrar que, sem os depósitos das famílias, os bancos não tinham como financiar a sua atividade principal. Nesse sentido, afirmou Mário Centeno, “a banca tem uma obrigação de respeitar o contrato social que lhe é atribuído fiduciariamente pelo Estado na gestão das poupanças dos portugueses”.