Via Verde vai quase duplicar postos de carregamento elétrico. Primeiro hub vai ser em Oeiras

Aposta na internacionalização vai permitir à Via Verde dar um salto na faturação, chegando este ano aos 100 milhões de euros, prevê o CEO, Eduardo Ramos.

A Via Verde vai fazer um forte investimento no aumento da sua rede de postos de carregamento para carros elétricos. Além de quase duplicar o número de postos este ano, de 180 para cerca de 350, vai construir hubs nas cidades. O primeiro avança em Oeiras, com 20 postos de carregamento super-rápido, seguindo-se Trofa e Maia.

“Estamos a trabalhar com os nossos parceiros, num investimento que, acumulado, são mais de 20 milhões de euros. Estamos a falar de muito, muito montante investido”, afirma Eduardo Ramos, CEO da Via Verde, em entrevista ao ECO.

O gestor afirma que “começa a existir uma tendência para o percurso casa-trabalho e trabalho-casa não ser suficiente para o processo de carregamento”, pelo que “vai ser necessário existirem hubs mais urbanos que permitam o carregamento elétrico dentro das cidades“. A Via Verde vai, por isso, abrir um destes centros em Oeiras “com 20 postos de carregamento super-rápidos”, seguindo-se, no próximo ano, Coronado, no concelho da Trofa, e Águas Santas, em Maia.

Eduardo Ramos afirma que a internacionalização torna a Via Verde uma empresa “diferente”. A Via Verde arrancou em dezembro a cobrança de portagens numa autoestrada na zona de Roterdão. O ano passado deu mais um passo significativo, com a vitória no concurso para a implementação de um sistema de cobrança eletrónica de portagens via satélite nos Países Baixos, um contrato de nove anos superior a 200 milhões de euros.

“O crescimento internacional e o ganho de concursos vai-nos levar a crescimentos superiores, porque estamos a acrescentar perímetro às nossas operações. Este ano e daqui para a frente, estimamos que a receita comece a passar os 100 milhões, porque os contratos são maiores“, diz Eduardo Ramos.

A cobrança por geolocalização é uma tendência que vai crescer, até porque além dos pesados, também “os ligeiros acabarão por ter também esta mesma tecnologia incorporada”, antecipa o CEO da Via Verde, que defende que as portagens devem manter-se, mesmo nas autoestradas cuja concessão vai terminar nos próximos anos, de forma a assegurar o financiamento da manutenção. “O princípio do utilizador-pagador/poluidor continua a fazer todo o sentido“, defende.

A Via Verde ganhou em outubro o concurso para implementar um novo sistema de cobrança eletrónica de portagens para pesados nos Países Baixos, em parceria com a Ascendi e a alemã Yunex. Em que ponto está este projeto?

Sim. É uma parceria muito importante, que também inclui uma empresa alemã chamada Yunex, que tem uma tecnologia muito importante de geolocalização. É um projeto que vai entrar em produtivo em julho de 2026. Estamos agora em fase de execução plena, com todas as equipas em elevada rotação.

Qual o valor desse contrato?

O contrato é superior a 200 milhões de euros, na totalidade, dividido obviamente por todo o consórcio, e tem a duração de nove anos, com mais dois possíveis de extensão, em que nós, no fundo, vamos trabalhar para o Estado holandês para que eles consigam cobrar as portagens de pesados em toda a rede holandesa, autoestrada e não autoestrada, para pesados holandeses e não holandeses. A Via Verde tem uma percentagem de 50% do consórcio.

A ideia é aproveitar a conquista deste importante contrato para concorrer a outras concessões na Europa?

Sim. Sendo muito competitivos em Portugal, a inovar já há quase 35 anos, sempre muito apostados em nova tecnologia e em perceber quais são as tendências da mobilidade, percebemos que existia aqui uma tendência forte dos países europeus de liderar a mobilidade sustentável. A descarbonização dos transportes é uma inevitabilidade. Os pesados cruzam muitos territórios e precisam de ter um preço pela utilização desses mesmos territórios rodoviários. Fomos a concurso, fomos competitivos perante concorrência bastante feroz, e apercebemo-nos que outros países estavam a pensar nisto também, como os nórdicos. Há países que já os têm em funcionamento e que vão renovar os seus próprios concursos, desde a Alemanha, a Bélgica, entre outros. A ideia é continuarmos o processo de expansão e de crescimento desta tendência.

Os ligeiros acabarão por ter também esta mesma tecnologia incorporada. Hoje já existe muita conectividade nos veículos ligeiros e, mais cedo ou mais tarde, a geolocalização trabalhará também nesse sentido [da cobrança de portagens via satélite].

Já estão em novos concursos, neste momento?

Estamos a olhar para novos concursos, sim. Ainda não podemos falar muito sobre elas, mas estamos a olhar para novas operações, noutras geografias. O mercado europeu é prioritário, é o que está no nosso plano estratégico e é esse que vamos continuar a endereçar. Para já é uma tendência muito europeia, até pelo próprio desenho da Europa, que tem os portos na zona oeste e depois tem muita necessidade de viagem para este, para o norte e para o sul. Para já a Europa, mas é uma tendência que, na nossa opinião, vai estar noutras geografias, muito ligada à geolocalização, muito ligada à desmaterialização da cobrança da mobilidade e, por outro lado, os ligeiros acabarão por ter também esta mesma tecnologia incorporada. Hoje já existe muita conectividade nos veículos ligeiros e, mais cedo ou mais tarde, a geolocalização trabalhará também nesse sentido.

Passarmos a ter esse modelo de cobrança de portagens também nos veículos ligeiros.

Há uma tendência cada vez maior da geolocalização e, aliás, já se vê nos carros mais recentes a geolocalização estar imbuída dentro do próprio veículo.

Mas vê um país como Portugal a adotar este tipo de lógica de cobrança de portagens?

Ainda é cedo para dizer, até porque o nosso tráfego de pesados é bastante menor do que noutras geografias. Mas, claramente, a descarbonização do tráfego de pesados é uma tendência. Não estamos a falar do nível de pesados que tem o centro da Europa e o norte da Europa, mas parece-nos uma tendência inevitável até para o próprio funding destes Estados. Estamos a falar de estruturas rodoviárias que precisam de muitos milhões de euros anualmente para serem mantidas. E estes veículos têm um peso muito grande na manutenção das autoestradas e os Estados precisam de se financiar para controlar os seus défices anuais.

É difícil justificar que infraestruturas não sejam pagas [através de portagens], nomeadamente na sua manutenção anual, mais a mais quando nós temos cada vez mais preocupação com a segurança rodoviária, com uma boa ligação entre cidades e intra-cidades.

Em Portugal, o Parlamento aprovou no ano passado, e entrou em vigor no início deste ano, o fim da cobrança de portagens em sete autoestradas, uma delas só em dois troços. E temos também várias concessões que vão terminar nos próximos anos, notando-se já uma pressão para que, findas essas concessões, também se deixe de cobrar portagens. Este movimento, esta pressão, preocupa-o?

Preocupa, porque não é isso que estamos a assistir, sobretudo em países mais desenvolvidos. O princípio do utilizador-pagador é um princípio que outros países, até para o seu próprio financiamento, estão a adotar cada vez com maior equidade, e ligando à própria mobilidade sustentável e descarbonização dos transportes. É difícil justificar que infraestruturas não sejam pagas, nomeadamente na sua manutenção anual, mais a mais quando nós temos cada vez mais preocupação com a segurança rodoviária, com uma boa ligação entre cidades e intra-cidades. É fundamental que esse modelo continue a ser válido e outras geografias estão a demonstrá-lo.

Mesmo depois de acabarem as concessões atuais.

Parece-me que sim. Mais uma vez, o dinheiro tem que vir de algum lado. São opções que têm que ser tomadas e, na nossa opinião, o princípio do utilizador-pagador/poluidor continua a fazer todo o sentido.

Eduardo Ramos, CEO da Via Verde, em entrevista ao ECOHugo Amaral/ECO

Via Verde aposta em hubs de carregamento elétrico nas cidades

A Via Verde tem feito também uma aposta na mobilidade elétrica e nos carregamentos elétricos. Quantos postos é que neste momento têm na rede?

Nós desde muito cedo percebemos que tínhamos que ser líderes no movimento de mobilidade elétrica, porque a ansiedade do carregamento poderia, de facto, levar à menor adoção da mobilidade elétrica em Portugal. Começamos a dotar a nossa rede com postos. Hoje temos, aproximadamente, 180 a 190 pontos de carregamento em funcionamento. Os eixos fundamentais são aqueles em que existe maior capilaridade, mas vamos acelerar muito a implementação durante este ano.

A ideia é crescer para quantos postos?

Para cerca de 350. Estamos a trabalhar com os nossos parceiros, num investimento que, acumulado, são mais de 20 milhões de euros. Estamos a falar de muito, muito montante investido.

Vai ser necessário existirem hubs mais urbanos que permitam o carregamento elétrico dentro das cidades e mais próximo das cidades, com carregamentos super-rápidos. Vamos abrir já um este ano, em Oeiras, com 20 postos de carregamento super-rápidos e temos previsto, para o próximo ano, no norte, Coronado, no concelho da Trofa, e Águas Santas, em Maia.

E os parceiros são?

A Galp, EDP, a BP, a Ionity — os nossos parceiros tradicionais. Dotar a rede de cada vez mais capilaridade de carregamento, até para que os nossos clientes se sintam confortáveis nesse caminho. Mas, ao mesmo tempo, decidimos apostar também no carregamento em mobilidade mais urbana. Como também se vê noutras geografias, começa a existir uma tendência para o percurso casa-trabalho e trabalho-casa não ser suficiente para o processo de carregamento. Vai ser necessário existirem hubs mais urbanos que permitam o carregamento elétrico dentro das cidades e mais próximo das cidades, com carregamentos super-rápidos. Vamos abrir já um este ano, em Oeiras, com 20 postos de carregamento super-rápidos e temos previsto, para o próximo ano, no norte, Coronado, no concelho da Trofa, e Águas Santas, em Maia.

Falou de 350 postos de carregamento até ao final deste ano, mas e mais para a frente já há alguma meta?

Não temos números fechados, mas vamos continuar a crescer de acordo com a adoção de carros elétricos. Já ultrapassamos os 100.000 em Portugal, totalmente elétricos, e este número vai continuar a crescer. Nós não vemos que a tendência de adoção de carros elétricos diminua, até pelas próprias políticas que as que as organizações estão a adotar de descarbonização e de controlo de emissões de nível um e dois. E os próprios incentivos à mobilidade elétrica também têm surgido, felizmente, e esperemos que continuem a surgir no estabelecimento de políticas.

O Conselho de Ministros aprovou recentemente uma liberalização e simplificação do regime de mobilidade elétrica, que inclui medidas como deixar de ser necessário ter um contrato com um fornecedor de energia elétrica, eliminar a figura do comercializador de mobilidade elétrica, o que permitirá eliminar taxas que agravam o custo. Concorda com este caminho que foi aprovado?

Está em consulta pública. A Mobi.E teve aqui um papel importante no estabelecimento do modelo de mobilidade elétrica, no seu início. Compreendemos que, à luz da legislação europeia, é importante existir aqui alguma flexibilidade adicional, até do ponto de vista de meios de pagamento. Vemos com naturalidade que isto aconteça. A Via Verde Eletric também está no mercado para estabelecer parcerias com todos os players que existem para que funcione bem este novo modelo. Está em consulta e nós, obviamente, estamos a ser envolvidos nesse processo.

Isso significa que a Mobi.E já é redundante neste processo?

É importante na interoperabilidade que agora, de uma forma natural, acabará por passar para os operadores. Mas foi muito importante para dar o push inicial a essa interoperabilidade.

Foi chumbada a moção de confiança apresentada pelo Governo. Teme que a queda do Governo acabe por arrastar este processo de liberalização e de simplificação do regime mobilidade elétrica?

Aparentemente seguiremos para novas eleições [já marcadas para 18 de maio]. Temos de ter alguma paciência, mas achamos que o caminho é de flexibilidade e de conseguirmos estabelecer boas parcerias.

Os atores do sistema devem organizar-se melhor para que a capacidade elétrica esteja disponível, que continua a ser um estrangulamento.

Espero que o próximo Governo retome esta agenda que foi agora iniciada?

É importante não perder a mobilidade elétrica da agenda estratégica dos transportes. Acho que este Governo fê-lo bem. Este é um assunto crítico para o futuro da mobilidade e achamos que era importante o próximo Governo, seja ele qual for, não perder esta agenda estratégica.

Estava a falar da infraestrutura de carregamento. Considero que devia haver mais apoios para essa infraestrutura?

Para a infraestrutura não tanto. Os atores do sistema devem organizar-se melhor para que a capacidade elétrica esteja disponível, que continua a ser um estrangulamento. Os nossos parceiros e colegas que trabalham mais na energia têm este desafio pela frente, de dotar a rede de capacidade suficiente. Parece-nos fundamental que ainda exista algum nível de incentivos à adoção da mobilidade elétrica pelos cidadãos, como outros países fizeram.

O preço do carregamento ainda precisa aqui de alguma capilaridade e concorrência, que vai surgir naturalmente. Quando existir mais oferta e mais disponibilidade, vai ajustar naturalmente.

Que tipo de incentivos?

Incentivos fiscais, incentivos à adoção de aquisição. Os carros elétricos ainda são bastante mais dispendiosos do que os carros a combustão fóssil. Parece-nos importante que ainda existam algum tipo de incentivos para que as pessoas façam esse primeiro salto. A experiência que existe noutros países é que depois desse primeiro salto é mais fácil inclusive a rotação no mercado secundário. Isso facilita bastante e talvez ainda seja necessário em Portugal, porque 100.000 carros, se formos a ver no total da frota, é muito baixo.

Os preços do carregamento também são demasiado elevados?

O preço do carregamento ainda precisa aqui de alguma capilaridade e concorrência, que vai surgir naturalmente. Quando existir mais oferta e mais disponibilidade, vai ajustar naturalmente.

Eduardo Ramos, CEO da Via Verde, em entrevista ao ECOHugo Amaral/ECO

Receitas acima de 100 milhões a partir deste ano

Os resultados da Via Verde este ano foram novamente de crescimento, quer no número de transações, quer no valor total dessas transações. Pode detalhar-nos essa evolução?

Tem estado a crescer em transações de forma bastante regular ao longo dos anos, pós-pandemia, quer ao nível das transações rodoviárias, onde temos crescido à volta dos 6% a 7%, mas depois também temos crescido bastante na mobilidade não relacionada diretamente com o carro. Estacionamento, aumento da malha que tivemos no país com mais municípios com a facilidade de estacionamento de superfície, e o que chamamos o estacionamento mais fechado, novos parques. Carregamentos elétricos também, através da nossa aplicação. A nossa receita no ano passado atingiu cerca de 70 milhões e temos tido um aumento de receita muito ligado ao aumento das transações. Naturalmente, o crescimento internacional e o ganho de concursos vai-nos levar a crescimentos superiores, porque estamos a acrescentar perímetro às nossas operações. Este ano e daqui para a frente, estimamos que a receita comece a passar os 100 milhões, porque os contratos são maiores.

Passar os 100 milhões já a partir deste ano?

A partir de 2025, já. E depois 2026, 2027. Fica uma empresa diferente, porque o perímetro mais uma vez deixa de ser só Portugal. Portugal é muito importante, é a nossa casa de partida, mas os mercados internacionais têm outra dimensão.

A ideia é também levar outras áreas de negócio nessa exposição internacional?

É. A ideia passa sempre por fazer o mesmo caminho que acabámos por fazer em Portugal, que é sermos sempre muito eficientes nas nossas operações de base, neste caso a cobrança eletrónica de mobilidade de base rodoviária, e depois adicionar outros serviços que o cliente veja como como vantajoso, desde o estacionamento ao carregamento, o drive-thru, a mobilidade urbana que agora começámos com alguns pilotos e queremos também que as pessoas comecem a utilizar cada vez mais transportes públicos, mobilidade suave. Sempre adicionar outros serviços que, de acordo com os nossos estudos de mercado, mais ligado à mobilidade urbana ou mais ligado à mobilidade intra-urbana, os clientes adotem.

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