Maioria dos negócios de private equity faz-se em conversas ‘a dois’
Sociedade Cuatrecasas analisou o mercado de investimento ibérico e mais de 40 transações que apoiou em Portugal e constatou que dominam as negociações bilaterais e garantias como fiança e seguro W&I.
Depois de em 2023 experienciar o pior ano desde 2016, o mercado de private equity recuperou em 2024 e atingiu novos patamares, inclusive em Portugal. O investimento de sociedades privadas (private) que têm participações no capital (equity) de empresas atingiu os 3,7 mil milhões de euros e 108 transações, o número mais alto da década.
O número de transações de private equity em que a empresa-alvo (target), o comprador (bidder) ou o vendedor (seller) tinha Portugal como geografia dominante cresceu 8% em volume e 6% em valor face a 2023, segundo a Mergermarket. E como é que se processam essas transações? Normalmente, estão à mesa das negociações apenas duas empresas.
A sociedade de advogados Cuatrecasas foi ao arquivo para analisar à lupa 45 operações de private equity que assessorou em 2023 e 2024 (30 em Espanha e 15 em Portugal) e concluiu que a maioria das transações nacionais (77%) teve negociações bilaterais, embora todas as superiores a 100 milhões de euros foram realizadas no âmbito de processos de venda competitivos.
O relatório “Market trends in Iberian private equity transactions” demonstra ainda que o tipo de transação mais comum continuou a ser a aquisição de 100% do capital social da sociedade, a fiança e o seguro W&I [Warranty & Indemnity] foram as garantias mais utilizadas pelos compradores e mais de metade das operações incluiu condições suspensivas, principalmente devido à necessidade de obter waivers [renúncias] das contrapartes em contratos materiais.
Outra das conclusões da Cuatrecasas é que, apesar da incerteza global em 2023 e 2024, a utilização de earn-outs diminuiu em comparação com anos anteriores. Ou seja, as empresas recorreram menos a um mecanismo típico das fusões e aquisições (M&A) em que parte do preço depende da performance, portanto uma parcela do valor (variável) a ser recebido pela empresa comprada.
“Apesar das flutuações, ao longo da última década, o mercado português tem apresentado tendências positivas, com uma taxa de crescimento anual composta de 17,8% em volume e 7,9% em valor. Embora os valores tenham atingido o pico em 2020 e depois tenham caído para níveis pré-pandemia (2021 e 2022), têm apresentado uma tendência ascendente desde então”, explicam os autores do relatório. Isto porque o número de negócios caiu em 2018 e novamente em 2020 (-5%), mas desde aí triplicou de 36 para 108 negócios.
Numa análise a partir das bases de dados da TTR Data e da Mergermarket, os advogados constataram que, no ano passado, registaram-se 19 operações de saída (exit) e o seu valor agregado aumentou dez vezes, passando de 0,2 mil milhões de euros para 2,6 mil milhões de euros.
Embora o rácio do volume de saídas-investimento se tenha mantido inalterado de um ano para o outro (18% de exits para 82% de investimentos), o do preço alterou-se significativamente, dado que em 2023 o valor dos exits representava apenas 6% do capital envolvido, mas 2024 passou a 71%, enquanto os investimentos menos de um terço (29%).
Os negócios além-fronteiras mantiveram-se em destaque. As transações transfronteiriças foram 73% do número total em Portugal e representaram quase todo o valor (98%) devido aos 3,6 mil milhões de euros em 79 transações, o que demonstra que os investidores estrangeiros continuam a alavancar os negócios mais caros. É uma tendência que persiste no mercado português há vários anos e assim deverá continuar, de acordo com a opinião generalizada dos assessores.
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