Fidelidade estuda vender solução interna de IA após receber “várias propostas de compra”

Programa de inteligência artificial (IA) que permitiu automatizar "uma parte extremamente expressiva" dos documentos submetidos à seguradora está a suscitar interesse no mercado.

O projeto GAMA da Fidelidade, que processa documentos com IA e está adaptado ao português europeu, já despertou interesse de outras empresas portuguesasHugo Amaral/ECO

A Fidelidade está a ponderar disponibilizar a terceiros uma solução de processamento de documentos com inteligência artificial (IA) que desenvolveu no ano passado para uso interno. A tecnologia chama-se GAMA e foi merecedora de várias distinções ligadas à inovação no ano passado.

“Recebemos várias propostas de compra do GAMA”, revelou Ricardo Gonçalves, diretor do Center for Artificial Intelligence & Analytics da seguradora, num evento promovido pela consultora CGI e moderado pelo ECO. Instado a facultar mais detalhes, o responsável admitiu que essa opção está a ser ponderada pela empresa de seguros, embora nenhuma decisão esteja tomada.

O GAMA (Generic Analytical Model Automation) foi desenvolvido internamente pelo polo de IA da Fidelidade, consistindo num programa capaz de “processar documentos de forma inteligente”, aplicando métodos de IA. Em dezembro, num comunicado, a Fidelidade disse que a ferramenta permitiu automatizar “uma parte extremamente expressiva dos processos documentais” submetidos pelos clientes.

No evento da CGI, que decorreu no dia 3 de abril em Lisboa, Ricardo Gonçalves exemplificou com as declarações amigáveis de acidente automóvel, que o programa é capaz de analisar, extraindo e processando a informação de forma automática. Ademais, quando surgem dúvidas na interpretação, o software solicita a intervenção de um colaborador humano, e aprende com o resultado, explicou o especialista.

“Não há muitas soluções eficazes para o nosso idioma”, lembrou o responsável de IA da Fidelidade, repetindo uma queixa transversal a muitas das empresas que tentam aplicar IA em português europeu. Essa é também uma das razões a suscitar o interesse do mercado na solução proprietária da Fidelidade, motivando Ricardo Gonçalves a apelar a uma maior colaboração das empresas portuguesas no campo da IA, em benefício de todos.

Apesar do potencial, também há desafios inusitados, como o facto de o programa ainda ter dificuldades no processamento de alguns documentos em papel que são tipicamente dobrados pelos segurados. É o que acontece frequentemente com as declarações amigáveis de acidente que a maioria dos condutores guarda no porta-luvas da viatura, e que submete à seguradora quando ocorre um sinistro, por vezes, através de fotografias captadas com o telemóvel.

“Achámos que a área seguradora tem grande vantagem em usar IA. Toda a nossa comunicação com clientes é hoje produzida por modelos de linguagem”, disse Ricardo Gonçalves, salientando que o GAMA já processa mais de metade das declarações sem intervenção humana e reduziu os tempos de resposta a sinistros.

O interesse de terceiros na solução de IA desenvolvida pela Fidelidade mostra como algumas empresas portuguesas estão a dar passos concretos na disponibilização deste tipo de tecnologia, vista pela Comissão Europeia como crucial para a competitividade económica. Mas é também um exemplo de como algumas apostas têm potencial para se tornarem negócios próprios.

Ao ECO, Ricardo Gonçalves detalha que, antes de uma eventual comercialização do GAMA, a Fidelidade dará prioridade às subsidiárias noutras geografias, incluindo uma na América Latina que já se mostrou interessada. “Estamos a fazer um estudo para perceber o que é que não temos e precisaríamos de ter para fazer isso”, afirma.

Em dezembro, a Fidelidade anunciou que o GAMA foi distinguido na 9.ª edição dos Portugal Digital Awards, da consultora IDC, nas categorias “Best Future of Work Project” e “Best Insurance Project”. O projeto também foi distinguido com o Prémio Nacional de Inovação 2024 na categoria de Transformação de Posto de Trabalho.

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