FMI vê dívida pública global a disparar para nível mais alto desde a II Guerra Mundial se incerteza se intensificar

Fundo prevê subida progressiva da dívida ao longo da década, até 99,6% em 2030, superando os níveis da pandemia, mas no cenário severamente adverso pode atingir 117% do PIB até 2027.

O endividamento dos países está a disparar e o Fundo Monetário Internacional (FMI) alerta que poderá atingir o nível mais elevado desde a II Guerra Mundial se a incerteza internacional se agudizar. No cenário base, a instituição liderada por Kristalina Georgieva aponta para um rácio de cerca de 100% no final da década, mas no pior cenário pode chegar a 117% já em 2027.

No relatório sobre as previsões orçamentais, divulgado esta quarta-feira, no âmbito das reuniões de primavera da instituição com o Banco Mundial, o FMI considera que perante a crescente incerteza, os decisores políticos irão precisar de lidar com um cenário de dívida ascendente, crescimento mais lento e novas pressões sobre a despesa.

O departamento liderado por Vítor Gaspar assinala que a guerra comercial aumentou a incerteza mundial e enfraqueceram as perspetivas de crescimento, ao mesmo tempo que aumentaram a volatilidade financeira. “Estas alterações ocorrem no contexto do aumento dos níveis de dívida em muitos países e de finanças públicas já sobrecarregadas, que em muitos casos também precisarão de acomodar novos e permanentes aumentos na despesa, como os de defesa“, apontam.

Nas previsões divulgadas esta quarta-feira, o FMI prevê que o rácio da dívida pública irá subir de 92,3% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano para 95,1% em 2025 e para 96,7% em 2026, subindo progressivamente ao longo da década, até 99,6% em 2030, superando os níveis da pandemia. As projeções incluem o impacto dos anúncios de tarifas entre o início de fevereiro e 4 de abril.

Face à incerteza política substancial e a um cenário económico em transformação, os níveis de dívida podem aumentar ainda mais”, adverte. Neste sentido, destaca que a política orçamental enfrenta “dilemas cruciais“: equilibrar a redução da dívida, criar reservas contra incertezas e atender às necessidades urgentes de despesa perante perspetivas de crescimento mais fracas e custos de financiamento mais altos.

Se os riscos da dívida já eram elevados, o FMI admite que a fotografia poderá ficar mais cinzenta. Com base em dados até dezembro de 2024, calcula que, num cenário severamente adverso, a dívida pública global poderá atingir 117% do PIB até 2027, o nível mais alto desde a II Guerra Mundial, superando as projeções de referência em quase 20 pontos percentuais.

Neste sentido, alerta que os riscos para as perspetivas orçamentais “intensificaram-se ainda mais”. Entre estes aponta o risco de, perante o aumento das tarifas e redução do crescimento, as receitas e a produção económicas caírem mais do que o previsto.

O FMI recomenda assim que para a maioria dos países é necessário “um ajuste orçamental gradual dentro de uma estrutura crível de médio prazo para reduzir a dívida, ao mesmo tempo em que se criam proteções adicionais contra o aumento da incerteza“.

“Países com espaço orçamental limitado devem priorizar as despesas públicas dentro dos seus orçamentos planeados e permitir que os estabilizadores automáticos operem plenamente. Em contraste, nações com espaço orçamental que enfrentam pressões significativas de despesa — incluindo despesas com defesa (por exemplo, a Alemanha) — poderiam utilizar criteriosamente os recursos disponíveis dentro de estruturas orçamentais e médio prazo bem definidas”, refere.

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