EthiFinance confirma estabilidade da dívida portuguesa, mas deixa alertas para a economia nacional
A avaliação da agência de rating francesa destaca Portugal como uma estrela europeia, mas avisa que as tarifas de Trump e a instabilidade política podem deitar por terra o otimismo nacional.
Portugal continua a destacar-se no panorama europeu ao ver confirmada a sua notação soberana em “A-”, com perspetiva “Estável”, pela agência de notação creditícia EthiFinance. No entanto, a agência francesa deixa um alerta: as políticas comerciais dos EUA podem travar o ritmo de crescimento da economia nacional, num contexto global cada vez mais incerto.
A decisão dos analistas da EthiFinance assenta no “desempenho favorável” da economia nacional, “que supera a maioria das economias europeias, com um crescimento do PIB projetado de 2,3% em 2025 e de 2% em 2026, impulsionado pelo consumo privado, dinamismo do turismo, investimento direto estrangeiro e execução dos fundos de recuperação da União Europeia”, lê-se no relatório a que o ECO teve acesso.
Esta avaliação positiva é reforçada por uma “tendência sustentada de crescimento económico” e pela “consolidação de uma política orçamental prudente, com excedentes previstos para 2025 e 2026”, destacam ainda os analistas da EthiFinance.
Contudo, a agência de rating sublinha que “as políticas comerciais da Administração Trump podem levar a uma revisão em baixa destas previsões”, reforçando esse argumento com as estimativas do Banco de Portugal, que apontam para que o PIB possa reduzir “em 1,1 pontos percentuais em três anos”, afetando sobretudo “os setores têxtil, produtos minerais não metálicos e bebidas”.
A instabilidade política, após a convocação das terceiras eleições legislativas para 18 de maio, e o seu impacto no futuro das políticas públicas, podem afetar a classificação de crédito num contexto global de elevada incerteza.
A EthiFinance assinala que “a notação continua limitada pelo elevado nível da dívida pública, prevista em 92,9% do PIB em 2025, segundo a Comissão Europeia, embora o governo mantenha o ambicioso objetivo de reduzir a relação dívida/PIB para menos de 80% até ao final da década”, o que, segundo o relatório, colocaria Portugal numa posição mais favorável em comparação com outros países europeus, como França ou Itália, cujas dívidas públicas poderão ultrapassar 120% do PIB.
No plano macroeconómico, os analistas da EthiFinance prevê uma manutenção da robustez do mercado de trabalho, com “uma taxa de desemprego prevista de 6,3% em 2025 e de 6,1% em 2026”, e destaca a “redução progressiva da taxa de inflação, já próxima do objetivo de 2% do Banco Central Europeu”. Ainda assim, persiste “um fosso estrutural ainda por resolver na convergência económica”, com o rendimento per capita (28.643 €) a situar-se abaixo da média da União Europeia.
A agência salienta também a melhoria da posição externa do país, com “um excedente da balança corrente esperado de 1,6% do PIB em 2025 e 2026, além de uma melhoria significativa da Posição de Investimento Internacional Líquida (-56% do PIB em 2024 face a -102% em 2020), o que contribui para reforçar a resiliência face a desequilíbrios externos”.
No setor bancário, o relatório aponta para “um aumento da eficiência e da rentabilidade, favorecidos por taxas de juro elevadas e pelo desalavancamento do setor privado”, com a taxa de incumprimento a descer para 2,4% em 2024 e a rentabilidade sobre ativos (ROA) a subir para 1,38%.
O perfil ESG nacional é considerado sólido pelos analistas da agência francesa, embora “a componente ambiental seja limitada pela elevada intensidade das emissões de gases com efeito de estufa, sobretudo nos setores dos transportes e da indústria”.
Por fim, a EthiFinance não ignora o ambiente político, marcado por uma crise política desencadeada pela queda do governo, referindo que “a instabilidade política, após a convocação das terceiras eleições legislativas para 18 de maio, e o seu impacto no futuro das políticas públicas, podem afetar a classificação de crédito num contexto global de elevada incerteza”.
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