AD e PS levam “piropos” e “mistura explosiva” à feira de Espinho

No arranque da última semana de campanha, os dois principais candidatos coincidiram na feira de Espinho. Pedro Nuno continua a espalhar o “medo” dos liberais e Montenegro a ignorar a Spinumviva.

Já se sabia que Espinho ia ser presença constante nesta campanha eleitoral, por estar no nome e ser a sede da empresa familiar de Luís Montenegro que acabou por provocar estas eleições antecipadas. Mais curioso é que a feira semanal da cidade seja também alvo de ‘disputa’ nas ações de propaganda ao ser esta segunda-feira o destino das arruadas da AD e do PS – além do PAN, do Partido Popular Monárquico (PPM) e de comitivas do Chega ou do ADN -, que por lá passaram esta manhã separadas por poucos minutos.

E se a primeira semana de campanha terminou com Pedro Nuno Santos a tremer com o “perigo terrível para o país” de uma coligação entre a AD e a Iniciativa Liberal (IL), e Luís Montenegro a reviver um trauma com uma década quando o PS se aliou aos partidos à sua esquerda para formar a geringonça depois de perder as legislativas para a direita, esta semana decisiva arrancou com uma espécie de prolongamento desse debate.

Esta manhã, questionado sobre um eventual acordo pós-eleitoral entre AD e IL – os liberais disseram no fim de semana ter sido desafiados pelas “lideranças do PSD” para uma coligação pré-eleitoral –, Pedro Nuno Santos disse a coligação de direita está “completamente de cabeça perdida”. Voltou a dramatizar que “o PSD com a IL é uma mistura explosiva do ponto de vista do radicalismo e do ataque ao Estado Social”, confiando que “o povo vai travá-los” e dará a vitórias nas urnas aos socialistas.

Sabemos agora que a AD já tinha tentado antes [da campanha] juntar-se à IL. A AD sozinha já faz estragos. Temos bem a memória do que fizeram quando tivemos uma crise económica e financeira a seguir a 2010: atacaram os trabalhadores e os pensionistas. E o 12º ministro desse Governo era Luís Montenegro [era então líder parlamentar do PSD], que defendeu sempre aquelas políticas. As pessoas não esqueceram”, acrescentou o secretário-geral do PS.

Poucos minutos depois, igualmente na feira de Espinho, de onde é natural, Luís Montenegro disse confiar que o eleitorado, sobretudo os pensionistas e reformados, não vai ligar aos “piropos de campanha eleitoral” lançados pela candidatura socialista, que está a “atirar o medo” para cima dos eleitores. Pelo contrário, completou, “confiam na palavra deste primeiro-ministro (…) e sabem que que há trabalho feito e decisões tomadas e em execução, e outras que se estão a projetar para os próximos anos”.

Numa alusão ao período da troika, a que se tinha referido Pedro Nuno Santos, o candidato da AD garantiu que o país “está a crescer do ponto de vista económico, tem tranquilidade financeira e não esta sujeito a nenhuma pressão por parte dos mercados financeiros e, portanto, habilitado a encarar, enfrentar e superar uma crise que se vai sentido na Europa e no mundo”. “Naturalmente, não estamos imunes ao que se passa fora do país, mas não estamos aqui para nos lamentar, mas para superar os obstáculos que temos pela frente”, sublinhou.

A jogar em casa, Luís Montenegro recusou-se a prestar declarações sobre a Spinumviva – “Querem voltar a fazer as mesmas perguntas de há dois e três meses? Estou muito tranquilo sobre isso”, disse apenas — e preferiu denunciar “manobras da oposição para tentar distrair os portugueses de uma avaliação serena e baseada na realidade”. Recusou “distrair os portugueses com mexericos políticos”, em resposta ao pré-acordo proposto à IL, e voltou a apelar aos eleitores para lhe darem “condições de governabilidade e estabilidade para continuar o trabalho” como primeiro-ministro.

Do lado da IL, Rui Rocha disse apenas que “não ficou nada combinado” sobre eventuais acordos eleitorais com a AD e atirou: “Não existimos para passar certificados de bom comportamento à AD, existimos para modificar o comportamento da AD2”

Já questionado pelos jornalistas sobre se tem receio de que a esquerda possa ter uma solução governativa depois de 18 de maio, reeditando a geringonça. Luís Montenegro optou, desta feita, por desdramatizar essa possibilidade. “Não estou com receio de nada. Observo que os partidos que o PS tem disponíveis e que convictamente constituem a possibilidade de fortalecer a sua representação são o BE, o PCP e eventualmente o Livre. Acho isso natural. Nós estamos empenhados por lutar por cada voto e os votos não são de ninguém”, rematou.

Também esta manhã, em declarações citadas pela Lusa no final de uma viagem de autocarro entre a Pontinha e o Arco do Cego, em Lisboa, para alertar para os problemas da mobilidade, o porta-voz do Livre defendeu que o partido será “determinante” numa eventual solução governativa à esquerda, com Rui Tavares a alegar que poderá dar as “propostas de trajeto e mostrará o caminho que se pode fazer”.

Por sua vez, em Évora, André Ventura recusou esclarecer como se posiciona o Chega face a diferentes resultados eleitorais. Questionado sobre o que fará num cenário em que o PS seja o partido mais votado, mas a direita tenha maioria, traçou outro cenário: “O Chega a vencer, a liderança do PSD [a] mudar e nós vamos dar uma maioria à direita”.

Também a porta-voz do PAN foi esta segunda-feira à feira de Espinho, no distrito de Aveiro, apelar aos eleitores para que, desta vez, “votem com o coração, votem útil” no seu partido para lhe permitir voltar a ter um grupo parlamentar, depois de ter sido deputada única na legislatura agora interrompida.

“As pessoas sentem que as suas vidas foram postas em causa e que passam mais tempo a discutir, em tricas políticas, do que propriamente a falar dos problemas dos portugueses”, disse Inês de Sousa Real, que ouviu “emocionada” os desabafos de algumas idosas preocupadas com a causa animal.

Quem também passou pela feira semanal de Espinho foi Gonçalo da Câmara Pereira, líder do PPM, que nas eleições do ano passado até tinha integrado a coligação que levou Luís Montenegro ao poder.

Em declarações à RTP, o líder do partido de inspiração monárquica disse que está “à espera de ter entre 2 e 3 deputados” e voltou a falar em “fraude eleitoral” por contestar que a AD esteja a “usar os símbolos” que também são dos monárquicos.

Mortágua ‘namora’ eleitores do Chega no Algarve

Ainda durante esta manhã, a coordenadora nacional do BE foi a Loulé para realçar que o seu partido “é o único que dá a cara” pelo direito à habitação, numa tentativa de captar eleitores que no ano passado votaram no Chega – o partido liderado por André Ventura ultrapassou mesmo a AD e o PS neste distrito.

“Chegam ao Algarve e vêm falar sobre a habitação, mas na Assembleia da República andaram a votar os vistos gold que sobem o preço das casas e andaram a votar os benefícios fiscais para estrangeiros ricos que compram as casas no Algarve e a proteger a especulação imobiliária”, referiu.

Durante as declarações da coordenadora, chegou a ouvir-se uma vez um grito “Chega”, sintoma da implantação do partido de Ventura neste território, onde o BE candidata como número um José Gusmão, antigo eurodeputado. Os bloquistas ambicionam recuperar a representação perdida neste círculo em 2019.

Já em Lisboa, falando aos jornalistas no final de uma visita à Escola António Arroio, o secretário-geral do PCP afirmou, em declarações reproduzidas pela Lusa, que tem como objetivo “mínimo” nestas legislativas voltar ao resultado das eleições de 2022, com seis deputados eleitos, ao contrário dos quatro conseguidos em 2024.

Para Paulo Raimundo, a repetição desse resultado implicaria “sensivelmente mais 100 mil votos” que a CDU não obteve em 2024, acreditando que, mesmo assim, este não é um objetivo ambicioso e é até “insuficiente” para aquilo que precisa a coligação que junta comunistas e Partido Ecologista “Os Verdes” (PEV).

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