De Harvard ao basebol, quem são os novos acionistas da Benfica SAD?
Investidores americanos já controlam 5,24% da Benfica SAD e prometem potenciar receitas. Mas a legalidade da transação já está a ser contestada pelo clube, deixando sócios e rivais a ferver.
A empresa de investimento norte-americana Lenore Sports Partners (LSP), co-gerida por Jean-Marc Chapus e Elliot Holton Hayes, estreou-se no futebol português há poucos dias ao comunicar à CMVM o controlo de 5,24% do capital da Benfica SAD, tornando-se assim no terceiro principal acionista da SAD benfiquista — apenas superado pela posição de 67% do clube e dos 16,4% detidos direta e indiretamente por José António dos Santos, dono do grupo Valouro.
A construção desta posição acionista foi feita através da compra, em leilão, das 753.615 ações penhoradas ao ex-presidente Luís Filipe Vieira (cerca de 3,28% do capital da SAD benfiquista) por 7,07 euros, num investimento total de 5,33 milhões de euros, e ainda pela aquisição de cerca de 450 mil ações em bolsa até essa data.
A operação de entrada no capital da Benfica SAD foi concretizada através da LSP Lisbon (Scotland) Limited, uma sociedade criada em julho de 2024 na Escócia, com sede em Edimburgo, e controlada a 100% pela LSP Lisbon LLC, sediada em Delaware, nos EUA.
Os documentos oficiais da constituição desta empresa consultados pelo ECO revelam que Jean-Marc Chapus e Elliot Holton Hayes, ambos de nacionalidade norte-americana, detêm cada um entre 25% e 50% do capital e dos direitos de voto da LSP Lisbon (Scotland) Limited. Além disso, são também sócios do clube da Luz desde o final do ano passado com os números de sócio 378.435 e 375.730, respetivamente.
O histórico dos investimentos realizados pelos sócios da LSP na área do desporto mostra que tanto Chapus como Hayes têm procurado promover o crescimento das receitas e a internacionalização das marcas desportivas em que investem.
Jean-Marc Chapus, de 66 anos, é cofundador e managing partner da Crescent Capital, uma das maiores gestoras de crédito privado e público dos EUA, com presença global e ativos sob gestão de mais de 40 mil milhões de dólares. Formado em Economia e detentor de um MBA pela Universidade de Harvard, Chapus tem uma carreira na banca de investimento e no grupo TCW antes de criar a Crescent Capital. No seu percurso, destaca-se o envolvimento em operações de private equity, financiamento estruturado e investimento em empresas de vários setores, incluindo desporto.
Já Elliot Holton Hayes, de 54 anos, também formado em Harvard, tem experiência em investimentos desportivos, tendo integrado o consórcio que adquiriu o OGC Nice, em França, em 2016, e participado em operações de private equity na Europa.

O portefólio de investimentos dos sócios americanos
A Lenore Sports Partners apresenta-se como uma empresa especializada em ativos desportivos, com uma abordagem que cruza experiência em finanças, imobiliário, media e marketing, procurando ser “um parceiro produtivo” dos clubes onde investe, sem interferir na gestão desportiva. É assim que também encara o investimento na Benfica SAD, segundo um comunicado enviado à CMVM.
“O único objetivo da LSP é apoiar a comunidade benfiquista, com profundo respeito pelos valores fundadores do clube”, refere a empresa, sublinhando ainda que “não temos qualquer intenção de nos envolvermos nas decisões desportivas da Benfica SAD.”
O histórico dos investimentos realizados pelos sócios da LSP na área do desporto mostra que tanto Chapus como Hayes têm procurado promover o crescimento das receitas e a internacionalização das marcas desportivas em que investem, aproveitando a sua rede de contactos e know-how em mercados competitivos.
- Futebol: Hayes fez parte do consórcio que em 2016 comprou 80% do clube francês OGC Nice, numa operação pioneira de entrada de capital estrangeiro no futebol gaulês. O clube foi posteriormente vendido à INEOS, do milionário Jim Ratcliffe, que também detém participações no Manchester United e na Fórmula 1, patrocinando a equipa da Mercedes-AMG Petronas. A LSP tem também ligações indiretas ao Norwich City, clube inglês onde Mark Attanasio, cofundador da Crescent Capital, detém uma posição relevante. Esta ligação demonstra o interesse da rede da LSP em clubes com potencial de valorização e internacionalização.
- Basebol: Chapus, através da Crescent Capital, esteve envolvido em operações financeiras com a equipa de basebol norte-americana Milwaukee Brewers Baseball, nomeadamente no financiamento de infraestruturas e na gestão de ativos ligados ao clube. Mark Attanasio, cofundador da Crescent Capital com Chapus, é desde 2005 presidente e principal proprietário do Milwaukee Brewers Baseball, após um investimento superior a 220 milhões de dólares.
No núcleo de investidores da LSP surgem ainda dois nomes menos conhecidos, mas com trajetórias relevantes no setor financeiro e de investimentos internacionais: Omar Imtiaz e Alex Pomeroy.
Omar Imtiaz é um empresário britânico, com mais de duas décadas de experiência internacional em gestão de investimentos e imobiliário. Atualmente, lidera a Imtiaz Holdings, um conglomerado privado focado em investimentos alternativos, com operações em setores como imobiliário, private equity, turismo media e desporto com mais de 3 mil milhões de dólares em ativos de clientes, incluindo famílias de elevado património e entidades soberanas.
Os novos acionistas da Benfica SAD garantem não pretender envolver-se nas decisões desportivas, mas sim apoiar a liderança da empresa e do clube na expansão das receitas e na exploração de novas oportunidades de negócio.
No setor do desporto, foi acionista e membro do conselho consultivo do clube francês OGC Nice, experiência que partilha com outros sócios da LSP. Foi ainda managing director da Abu Dhabi Capital Partners, uma boutique de investimento associada a entidades soberanas dos Emirados Árabes Unidos, e tem experiência em operações de investimento em Cuba, nomeadamente no setor do turismo e imobiliário, onde liderou projetos de investimento estrangeiro direto superiores a mil milhões de dólares.
Alex Pomeroy é um investidor norte-americano, atualmente managing partner da Quail Hill Holdings, uma sociedade de investimento sediada em Dallas e West Hollywood, nos EUA, com enfoque em investimentos com impacto social e sustentabilidade.
Pomeroy tem uma carreira marcada pelo envolvimento em private equity e pela aposta em setores como imobiliário, desporto, turismo e impacto social. É também cofundador e sócio da AGO Partners, um fundo com presença em múltiplos investimentos internacionais, e um dos principais investidores da Aspiration, uma das primeiras instituições financeiras centradas na gestão e investimento em numerário socialmente responsável.
Capital estrangeiro, promessas e polémicas
A entrada da LSP no capital da Benfica SAD surge após tentativas de aquisição de uma posição maior junto do empresário José António dos Santos, o “rei dos frangos”, que em conjunto com a sua empresa, o grupo Valouro, controla 16,4% do capital da SAD.
Recentemente, em entrevista ao Negócios, José António dos Santos revelou que a última vez que foi abordado para vender a sua participação foi no final do ano passado por investidores norte-americanos (mas que não chegaram a acordo) e que só está disponível para vender a sua posição se lhe comprarem todas as ações por pelo menos 12 euros — cerca de 70% acima do preço que a LSP adquiriu o bloco de ações de Luís Filipe Vieira que estava penhorado.
A LSP não divulga publicamente contas consolidadas nem resultados financeiros detalhados, sendo o seu modelo de negócio focado na valorização de ativos desportivos e na captação de investidores institucionais. No entanto, a ligação à Crescent Capital, onde Chapus é figura central, garante acesso a financiamento e a uma rede de investidores internacionais de grande dimensão.
Os novos acionistas da Benfica SAD garantem não pretender envolver-se nas decisões desportivas, mas sim apoiar a liderança da empresa e do clube na expansão das receitas e na exploração de novas oportunidades de negócio, nomeadamente em mercados internacionais e setores adjacentes ao futebol.
A aposta passa por potenciar o valor da marca Benfica, reforçar a sustentabilidade financeira e criar sinergias com outros ativos e parceiros do universo LSP. Contudo, a entrada destes investidores no capital da Benfica SAD não está isenta de polémica.
O Sport Lisboa e Benfica, acionista maioritário da SAD, requereu cautelarmente a nulidade da venda das ações de Vieira, alegando não ter sido notificado do seu direito de preferência, e procura ainda esclarecer se a entrada da LSP viola as disposições estatutárias relativas à aquisição de ações por entidades concorrentes.
Entre promessas de respeito pelos valores encarnados e polémicas judiciais que ainda pairam sobre a legalidade da transação, uma certeza emerge: o futuro do Benfica joga-se agora também nos bastidores da alta finança, onde cada decisão poderá ditar não só o rumo das contas, mas também o prestígio e a sustentabilidade de um dos maiores emblemas do desporto português.
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