Portuguesa BA Glass perde quase 60% dos lucros e fecha fábrica na Grécia
Integração das aquisições no México e Polónia pressiona rentabilidade da gigante nortenha das embalagens de vidro, que parou várias linhas de produção e encerrou uma fábrica nos subúrbios de Atenas.
Os lucros da BA Glass encolheram para 157,2 milhões de euros em 2024, quase 60% abaixo do resultado que tinha obtido ano no anterior, quando regressou em força às compras internacionais com aquisições no México, na Polónia e no Reino Unido.
Com o mercado global das embalagens de vidro em recuperação lenta e a integração das novas operações no estrangeiro a “pesarem negativamente” na rentabilidade, a gigante sediada em Vila Nova de Gaia alcançou um EBITDA de 402 milhões, com uma margem de 26,4%, significativamente abaixo dos 533 milhões (35,7%) em 2023.
Os dados financeiros consultados pelo ECO mostram que no último ano, o primeiro com Tiago Moreira da Silva na presidência executiva – substituiu Sandra Santos no cargo em fevereiro -, estas aquisições apresentaram margens EBITDA inferiores às da “velha” BA Glass e conduziram a custos mais elevados com amortizações e imparidades, baixando a margem de lucro operacional de 26,4% para 15,9%.
A dívida líquida aumentou em 380 milhões no espaço de um ano, com os resultados financeiros a avolumarem as perdas de 22,2 para 34 milhões de euros.

O chairman Paulo Azevedo assinala no relatório e contas do ano passado que a BA Glass “batalhou arduamente para encontrar maneiras de lidar com os níveis reduzidos de procura com o objetivo de evitar o fecho de fábricas, reduzir as paragens ao mínimo e encontrar eficiências nos custos para compensar a queda nas margens”.
Apesar dos “enormes esforços e do grande número de iniciativas que as equipas empreenderam, muitas das quais resultaram em conquistas significativas”, o antigo CEO da Sonae, que ocupa desde 2020 o papel de chairman na vidreira, admite que o grupo nortenho “não [conseguiu] atingir os volumes de vendas necessários ou os níveis de rentabilidade desejados”.
Apesar dos enormes esforços e do grande número de iniciativas que as equipas empreenderam, (….) não conseguimos atingir os volumes de vendas necessários ou os níveis de rentabilidade desejados.
Já com o contributo da mexicana Vidrio Formas (participação de 60%) e da unidade de reciclagem de vidro da britânica Recresco, pelas quais pagou 380 milhões de euros, além de uma terceira fábrica na Polónia (Oszesze) comprada à gigante Canpack, a quarta maior produtora mundial de embalagens de vidro registou um ligeiro crescimento homólogo (0,6%) nas vendas consolidadas, para 1.532 milhões de euros.
Esta performance ao nível das vendas assentou na subida da faturação com embalagens de comida e nos segmentos da cerveja — a nova unidade polaca diversificou o negócio na Europa central — e das bebidas espirituosas, em que “fortaleceu a posição no México apesar do declínio da procura no mercado da tequila”.
Num ano que começou com elevados níveis de stocks, a multinacional de origem portuguesa refere que um dos maiores desafios continuou a ser a manutenção das linhas de produção em operação. Pressionada sobretudo pela nova operação no México, que alargou a presença industrial ao continente americano, contabilizou que, pelo segundo ano consecutivo, voltou a reduzir a capacidade produtiva: -4,5% em 2024.
Tiago Moreira da Silva descreve que “a maioria das fábricas enfrentou dificuldades” no arranque do exercício e “as condições de mercado complicaram ainda mais as operações”, o que levou à “paralisação temporária” das linhas de produção em algumas unidades industriais e ao encerramento definitivo da fábrica na Grécia.

Situada na localidade de Egaleo, nos subúrbios de Atenas, esta que era a última fábrica de embalagens de vidro no país estava nas mãos da BA Glass desde 2017. Nessa altura, o grupo português pagou cerca de 500 milhões de euros à família Voulgarakis para ficar com o Yioula Group, num negócio que incluiu outras duas unidades na Bulgária (Sofia e Plovdiv) e uma na Roménia (Bucareste).
Segundo relatos na imprensa grega, com o fecho desta fábrica, que Paulo Azevedo diz ter sido um “momento extremamente difícil para todos”, perderam o emprego 140 funcionários permanentes, além de dezenas de contratados a prazo e outros colaboradores externos envolvidos em atividades de transporte e fornecimento.
No relatório e contas, a BA Glass assegura que teve o “máximo cuidado e consideração pelos colaboradores na Grécia, garantindo total transparência e envolvimento durante todo o processo”. Já o encerramento é justificado com a “crise do mercado, aliada ao investimento significativo que seria necessário para modernizar uma instalação com limitações estruturais”.
Precisamos de ser frugais para termos mais hipóteses de lidar com surpresas que podem vir das tarifas, direta ou indiretamente, mas também da escalada da guerra que temos na fronteira da UE.
Após ter fechado o último exercício com uma “posição financeira e económica sólida” e “preparada para melhorar a rentabilidade” se se confirmar a recuperação do mercado das embalagens de vidro na Europa e na América do Norte, a BA Glass adverte no mesmo documento que “os desafios pela frente são substanciais”.
“Precisamos de ser frugais para termos mais hipóteses de lidar com surpresas que podem vir das tarifas, direta ou indiretamente, mas também da escalada da guerra que temos na fronteira da UE. É importante sermos conservadores, mas ousados; pacientes, mas reativos; e consequentes nos esforços para melhorar a cada dia”, resume o CEO, que ingressou na empresa em 2008 e comandou as operações na Ibéria e na Europa Central.
Frascos para comida já valem um terço das vendas
Fundada em 1912 como Barbosa & Almeida, Lda. pelos sócios Raul da Silva Barbosa e Domingos de Almeida, e controlada desde 2004 e em partes iguais pelas famílias Silva Domingues e de Carlos Moreira da Silva — uma divisão que aconteceu na sequência de um MBO ao capital da empresa que pertencia ao universo Sonae —, sem a Grécia soma agora 13 fábricas de vidro distribuídas por sete países e ainda cinco unidades de reciclagem em Portugal, Espanha, Reino Unido e México.
Além das três unidades industriais em território nacional (Avintes, Marinha Grande e Venda Nova), tem três na Polónia (Sieraków, Jedlice e Oszesze), duas em Espanha (León e Villafranca de los Barros), duas na Bulgária (Sofia e Plovdiv) e uma na Alemanha (Gardelegen), Roménia (Bucareste) e México (Lerma).
Com vendas registadas em mais de 70 países, durante o ano passado, a BA Glass produziu mais de 11 mil milhões de garrafas e frascos: 34% para comida, 26% para cerveja, 13% para vinho, 13% para refrigerantes e 13% para bebidas espirituosas.
No final de 2024, o grupo dava emprego a tempo inteiro a 4.869 pessoas (vs. 4.107 em 2023) de 40 nacionalidades. Mais de 80% são homens e metade está na empresa há menos de uma década. Um em cada quatro (24%) trabalha em Portugal, sendo a Polónia (20%) o segundo país onde tem mais trabalhadores.

Se a estreia no México ficou marcada por interrupções de produção durante todo o ano por causa da “desaceleração da procura” no mercado da tequila e pelo facto de os clientes americanos terem os armazéns cheios dos volumes comprados no ano anterior, a incorporação da Recresco (Nottinghamshire), comprada à família Gent, contribuiu para aumentar em cinco pontos percentuais, para 40,6%, a taxa de incorporação de vidro reciclado na produção de novas garrafas e frascos.
O volume de investimento, que tinha atingido um recorde de 203 milhões de euros em 2023, no ano passado baixou para 178 milhões. Mais de 60% foi aplicado na reconstrução de fornos, sobretudo na Bulgária e em Portugal (Avintes), para reforçar a eficiência das operações e otimizar os consumos energéticos. No campo da inovação, para renovar o portefólio e seguir oportunidades de negócio, desenvolveu 381 novos projetos e duplicou o lançamento de novos modelos (136).
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