Like & Dislike: Mário Centeno, o Ronaldo das Finanças
Ronaldo fez o jogo da vida dele contra o Manchester em 2003 porque sabia que podia ser contratado. E assim foi mal acabou o jogo. Mário Centeno também está a jogar e já só pensa na Liga Europa.
Estávamos em agosto de 2003, no jogo da inauguração do atual estádio de Alvalade. O Sporting tinha um miúdo a jogar de seu nome Cristiano Ronaldo, com a camisola 28 e com um enorme potencial.
Ronaldo sabia que nesse jogo estava a ser observado por Alex Ferguson e todos os que gostam de futebol ainda se lembram do jogão que Cristiano fez nesse dia, ajudando à vitória de 3-1 do Sporting frente a um colosso do futebol europeu. Mal acabou o jogo, os responsáveis do Manchester United convidaram o craque português a assinar contrato.
Isto tudo para falar de execução orçamental. O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, — que no mundo das finanças tem um estatuto parecido com o de Alex Ferguson no futebol, — há tempos terá dito numa conversa descontraída que Mário Centeno era “o Ronaldo das Finanças”. Na altura, o nome de Centeno já aparecia como um dos sondados para ocupar o lugar de Jeroen Dijsselbloem.
Mário Centeno tem a simpatia de Wolfgang Schäuble (como tinha por Gaspar) porque a Alemanha precisava de um caso de sucesso da austeridade corretiva na Europa e porque o atual ministro, mesmo estando num governo com as características da Geringonça, conseguiu controlar as contas públicas.
Por isso é que lhe entreabriu a porta da presidência do Eurogrupo. Mas Mário Centeno sabe que não será escolhido se o défice derrapar e, por isso, está a fazer o “jogo da sua vida” na frente orçamental para que possa conseguir a tão almejada transferência para um cargo de prestígio.
Por isso é que no ano passado deitou mãos a tudo o que mexia e não mexia — cativações, perdões fiscais, reavaliação de ativos e espremeu o investimento público — para fazer um brilharete e levar o défice para um valor histórico de 2%.
Para este ano prometeu 1,5% e, ainda o jogo vai a meio, Mário Centeno já veio dizer esta sexta-feira que está em condições de garantir que os números da execução orçamental lhe permitem cumprir o objetivo anual do défice. “A melhoria do saldo orçamental é por demais evidente”, diz o ministro com um ar de satisfação de quem acabou de marcar um golo do meio campo.
Os números até julho confirmam que, agora que se diluiu o efeito dos reembolsos do IRS, o défice regressou à trajetória descendente e o ritmo de crescimento das despesas baixou para 0,5% em julho, quando em junho tinham acelerado 1,6%. A economia está a ajudar, os estabilizadores automáticos — nomeadamente as contribuições para a Segurança Social — estão a funcionar e Mário Centeno vai bem encaminhado para fazer um bom jogo e impressionar Wolfgang Schäuble.
Pode-se dizer que não é muito inteligente estar a ufanar sobre as contas públicas na véspera da negociação do Orçamento do Estado. A esta altura do campeonato estão Jerónimo de Sousa e Catarina Martins a esfregar as mãos e a pensar… “se as coisas estão a correr assim tão bem, vais ter de abrir os cordões a bolsa”.
Mas Centeno não está sequer a falar para dentro, para a Liga Portuguesa ou para a Liga de Honra. Mário Centeno já só pensa na Liga Europa. E se baixar o défice é condição para chegar à presidência do Eurogrupo, Mário Centeno vai bem lançado. Por isto merece um Like.
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