Portugal Exportador: empresas “investem” no Magrebe e na América Latina
A participação de empresas no Portugal Exportador aumentou 30%, segundo o presidente do Novo Banco, António Ramalho. À procura de novos mercados como o Magrebe e na América Latina.
A 12.ª edição do Portugal Exportador acolheu, este ano, cerca de 1.500 visitantes, mais de 90 expositores e mais de 120 oradores. Organizada pela Fundação AIP em parceria com a Aicep e o Novo Banco, esta ‘feira’ não só quis mostrar o que de melhor sai de Portugal, mas também reunir os principais decisores e os empresários, abrindo um espaço de cooperação, crescimento e reflexão. A participação deste ano representa um aumento de 30% em termos de novas inscrições de empresas, participantes e exportadores.
Os dados foram apontados por António Ramalho, presidente executivo do Novo Banco, que, na cerimónia de encerramento do evento apontou: “Este ano registámos um crescimento significativo dos contactos, das relações e dos resultados. Tivemos 30% mais de contactos do que tivemos no ano passado”. Um número que, para o mesmo, representa um compromisso mantido, mesmo com as dificuldades que o banco atravessou.
Os números da 12ª edição não ficam por aqui: houve um interesse renovado na iniciativa já que 50% dos empresários que participaram no evento estão a iniciar-se nos mercados de exportação e 30% participam pela primeira vez no evento.
Com as exportações a aumentarem 5,8% em setembro, o interesse dos empresários assenta em diferentes mercados, para além dos tradicionais. Segundo a organização do Portugal Exportador, houve particular interesse “em alargar ou iniciar a suas exportações para zonas como o Magrebe ou América Latina”.
Por outro lado, uma auscultação realizada durante o evento revelou que a maior preocupação das empresas é o aumento das taxas de juro. Com a Zona Euro a registar boas perspetivas de crescimento, vão aumentando as pressões para o Banco Central Europeu atenuar a política de estímulos que tem adotado — reduzir o programa de compras de dívida pública — e aumentar a taxa diretora. Uma opção que Mario Draghi afasta para já, mas que deixa os empresários portugueses nervosos com a possibilidade de aumento dos custos do crédito.
Uma manhã de incentivos
O evento começou logo com novidades. Ainda na cerimónia de abertura, Manuel Caldeira Cabral, ministro da Economia, anunciou que o Governo tenciona criar uma linha de financiamento para ajudar as empresas portuguesas a exportarem mais, num montante total de 600 milhões de euros, este a juntar-se ao programa Capitalizar.
O objetivo é que as exportações possam valer metade do PIB nacional em 2025, uma meta bem presente em muitos dos discursos nesta edição do Portugal Exportador. “Queremos que [as empresas] encontrem em casa instrumentos de financiamento às exportações para se afirmarem nos mercados externos ainda mais e melhor”, disse o ministro.
O ministro, sob o olhar atento de Vítor Fernandes, administrador do Novo Banco, falou ainda da venda do banco privado, considerando que “o Novo Banco, depois de um período de ajustamento, terá um período de estabilização.” Vítor Fernandes lembrou ainda que, mesmo durante os três anos de transição, “foi possível continuar a apoiar as empresas”.
Cerimónia aberta, debates iniciados. A primeira indústria exportadora a ser analisada foi a do desporto, com os empresários de equipamento desportivo a mostrarem que nem só de Ronaldos vive a exportação nacional. “Há muita matéria-prima para desenvolver, excelentes cientistas que andam a viajar pelo mundo, excelente conhecimento, excelentes empresas”, apontou Luísa Lino, da Aicep. “É importante envolver os atletas no desenvolvimento de novos produtos, trabalhar em rede com as universidades, laboratórios e empresas, apostar nas novas tecnologias”.
A darem provas de sucesso estiveram três empresários, Hélder Rosendo, diretor da PR Têxteis, Madalena Albuquerque, responsável pelo marketing da SAK Project e Pedro Fraga, presidente executivo da F3M, todos a somarem pontos no exterior.
E quais são os segredos? Hélder Rosendo considerou que é preciso “perceber onde se consegue ir buscar o dinheiro para investir e ter juízo” na medida em que todos os negócios têm de estar prontos para as mudanças de planos. A ponderação também foi sublinhada por Madalena Albuquerque, que relembra que antes de pensar nos apoios é preciso ter em conta todos os fatores. “Ao nível dos apoios e do financiamento, é preciso referir que os apoios chegam a posteriori“, alerta a marketeer, considerando que no caso de uma startup é necessário “criar um músculo financeiro” antes de apostar nos fundos comunitários.
O embaixador da China em Portugal, Cai Run, rematou a manhã no Portugal Exportador, salientando que as relações bilaterais entre ambas as nações estão “no seu melhor momento histórico”. Num discurso, traduzido do mandarim, Cai Run indicou que, até setembro deste ano, o investimento chinês em Portugal já alcançou os nove mil milhões de euros. E enalteceu o estreitar das relações com a inauguração do primeiro voo Lisboa-Pequim no último verão, operado pela companhia aérea Beijing Capital Airlines, com três frequências por semana.
Uma tarde de avisos
O mundo está cada vez mais incerto, mas é irreal crer que é possível viver sem incerteza. Ela está lá sempre e tem de ser encarada de frente. Em mais um ECO Talks, o comentador Luís Marques Mendes e o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros socialista, Luís Amado, debateram geopolítica e geoestratégia.
Entre as principais ideias transmitidas pelo comentador estão: as exonerações levadas a cabo pelo novo Presidente da República de Angola são “naturais” num contexto em que o novo chefe de Estado quer tomar pleno partido do poder; o país não está a dar a devida atenção ao “problema sério da dívida pública”; a partir de 2018, Portugal vai entrar em dois anos de pré-campanha, um período demasiado longo para Marques Mendes.
Quanto a Luís Amado, defendeu: apesar de a economia global estar a assistir a algumas tendências protecionistas, “ainda não há um fechar de portas ao comércio internacional”; o maior problema europeu está na “periferia” e não em si propriamente, pelo que uma guerra no Médio Oriente, por exemplo, teria consequências sérias para a economia europeia e traria novas vagas de refugiados.
No auditório 2, discutia-se a necessidade de “Inovar para Exportar”, numa mesa composta por Paulo Santos, diretor do Instituto Pedro Nunes (IPN), Duarte Mineiro, da Armilar Venture, Carlos de Jesus, da Amorim & Irmãos, e João Vasconcelos, antigo secretário de Estado da Indústria. E se a inovação será um dos fatores que levará Portugal a consolidar-se como uma marca forte, os portugueses terão de mudar a maneira como falam do seu país.
Portugal é muito bom. É o melhor país da Europa para montar uma empresa digital. E quem diz isto não somos nós, é a Mercedes, a Siemens, que estão a investir milhões.
“Portugal é muito bom. É o melhor país da Europa para montar uma empresa digital. E quem diz isto não somos nós, é a Mercedes, a Siemens, que estão a investir milhões”, sublinhou João Vasconcelos. “As pessoas que falam pior de Portugal são os portugueses e isso tem de mudar”. A afirmação foi apoiada e reiterada pelos membros do painel, que consideram também que falta autoestima aos portugueses para que o país possa assumir uma posição de liderança em vários setores de produção.
Para encerrar o dia de debate e networking, foi a vez de dois países darem o exemplo de cooperação económica, com os Presidentes de Portugal e Cabo Verde a apelarem a necessidade de estreitar relações, começando na circulação de pessoas.
Jorge Carlos Fonseca, que está em Portugal para uma visita de Estado que teve início na tarde desta quarta-feira, quis deixar claro que Cabo Verde é um bom parceiro para os empresários portugueses. “Estamos aqui para vos dizer que Cabo Verde não é só um pequeno país que alberga meio milhão de pessoas”, garantiu o Presidente. “Cabo Verde pode oferecer estabilidade politica ancorada numa boa governação”, apontando os acordos de cooperação internacional como uma boa porta de entrada para outros países.
Marcelo Rebelo de Sousa aproveitou também para afirmar que “a sensatez orçamental é fundamental” e que essa mesma sensatez tem de estar presente “na concertação social, não trocando a ilusão mirífica de um instante por aquilo que é estruturante e consistente”. “A consistência no controlo do défice, na redução da dívida pública, é essencial para o investimento, para a exportação, para o crescimento e para o emprego”, defendeu ainda.
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