Há poucos bebés. Well’s, Galp e outras empresas querem ajudar a resolver o problema

Espera ter um bebé em 2018? As estatísticas dizem que há cada vez menos a sair das maternidades, mas algumas empresas estão a lançar campanhas que vêm dar uma mãozinha.

Em Portugal, enquanto os óbitos crescem, o número de nascimentos é cada vez mais pequeno. A diferença entre os dois extremos do ciclo da vida é a maior desde 2000, diz a Associação Portuguesa de Demografia. As empresas não estão alheias a este problema e, da Galp à Well’s, há campanhas acabadas de nascer que vêm dar uma ajuda aos pais de 2018.

No ano passado, a diferença entre o número de mortes e de recém-nascidos chegou aos 24 mil — uma fasquia sem par desde 2000, nota a Associação Portuguesa de Demografia, que acaba de lançar os dados provisórios, avançados pelo Público esta segunda-feira. A tendência não é novidade, mas a dimensão surpreende.

No dia em que surgem estes dados, a Galp reage com uma nova campanha: “Durante todo o ano de 2018, os bebés nascidos no dia 1 de cada mês podem receber um mês de eletricidade“. A “cegonha” traz esta oferta no bico e leva-a não só até àqueles que já são clientes, mas também de quem agora se queira juntar a esta casa.

A nossa intenção principal com esta medida é promover uma reflexão conjunta sobre este problema. As empresas podem e devem ter um papel ativo na discussão de medidas que promovam uma melhor sociedade e sustentabilidade para todos”, justifica, em comunicado, a diretora de marketing e comunicação da Galp, Joana Garoupa.

O universo da responsabilidade social empresarial tem vindo a crescer, reconhece Ana Paula Araújo, professora no Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM). A questão coloca-se “sobretudo nas organizações de maior dimensão”, explica ao ECO. O objetivo, como em qualquer ação de marketing, “é sempre conquistar mais consumidores e aumentar as vendas”, garante.

O objetivo é sempre conquistar mais consumidores e aumentar as vendas.

Ana Paula Araújo

Professora no IPAM

Os profissionais destas áreas estão sempre atentos às oportunidades de comunicação“, diz, e nada melhor do que aproveitar as temáticas que estão na agenda do dia, como é o caso da natalidade. Os clientes vão “agradecer e ter melhor vontade para com a marca”, esclarece, pois tendo em conta a falta de incentivos da parte do Estado, “qualquer mecanismo que venha facilitar o corte das despesas é bem-vindo”. Isto, ressalvando que “não é um chamariz deste tipo que convence os consumidores a ter filhos”, conclui a professora.

Mas a Galp não é a única que começou o ano a dirigir-se às famílias. “A Well’s vai oferecer a cada bebé nascido em 2018 um conjunto de seis produtos Baby Well’s e uma surpresa para a mãe“, anuncia a marca. Uma vez que tenham o rebento nas suas mãos, os novos pais só têm de se registar no site e ir até à loja mais próxima receber o presente.

“Queremos falar ao coração dos portugueses, através de uma mensagem simples que tem como objetivo fazê-los pensar sobre a natalidade. Queremos incentivá-los, celebrando todos os nascimentos de 2018”, explica Marta Casto, responsável de marketing da Well’s, em comunicado. Para o Diretor Geral, João Cília, “este é um tema fundamental para o país” e, portanto, justificará o investimento, que ultrapassa o um milhão de euros se chegarem apenas a metade dos bebés que nascem por ano em Portugal.

Esta campanha cresce, mas não cresce sozinha. Faz parte de um projeto de responsabilidade social mais alargado, que vai também dar apoio a cinquenta famílias carenciadas, cobrindo todas as necessidades de alimentação, puericultura e higiene no primeiro ano de vida dos bebés, e que custará à marca mais cerca de 300.000 euros. Estes custos deixam de fora o investimento em comunicação, também significativo.

Lá fora, as campanhas ligadas à natalidade vão mais longe. A IKEA convida as grávidas a urinarem numa página do catálogo… e, caso o teste imbuído no fundo da folha comprove a gravidez, o berço ilustrado na mesma pode ser adquirido com um desconto. Basta mostrar o catálogo — com a prova — na loja.

Para já, esta iniciativa ainda não chegou a Portugal. Ana Paula Araújo diz desconhecer o impacto da campanha, mas sublinha que os consumidores portugueses são bastante diferentes dos suecos. “Não sei se Portugal aderiria. Somos mais conservadores”, comenta.

Já na perspetiva da secretária-geral da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas (APFN), Ana Cid Gonçalves, as campanhas que promovem a natalidade são importantes na medida em que “estão a lançar o tema” e “dão sinais positivos” às famílias, diz ao ECO. Contudo, avisa que “tem de haver uma ação concertada” para que estas iniciativas surtam o efeito desejado. “Têm de ser acompanhadas por políticas e também por benefícios das próprias empresas para os colaboradores. Há cada vez mais empresas a adotarem práticas internamente”, realça. Isto é importante numa altura em que “as famílias em Portugal desejam ter mais filhos“, garante, “em média mais um”, e um dos maiores obstáculos à natalidade é conciliar a vida profissional e pessoal.

A própria APFN tem algumas parcerias com empresas que pretendem dar colo às famílias. “São cerca de 700”, informa a associação, “e vamos acrescentando”. A iniciativa vem tanto de uma parte como da outra, mas a APFN procura, sobretudo, alianças nas áreas que considera terem maior relevância para os associados.

[Estas campanhas] têm de ser acompanhadas por políticas e também por benefícios das próprias empresas para os colaboradores

Ana Cid Gonçalves

Secretária-Geral da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas

Uma das mais antigas e de “maior significado”, segundo Ana Cid, é a aliança com os supermercados Recheio, disponível para os sócios. Se fizer uma compra superior a 250 euros (excluindo o IVA) o supermercado devolve 35 euros, que serão descontados na primeira compra a partir de 15 de janeiro do ano seguinte. 35 euros é precisamente o preço da quota anual de sócio desta associação. O único critério para fazer parte desta família é ter três ou mais filhos — anteriormente, a fasquia estava nos quatro, mas já desceu.

Outro dos requisitos para usufruir destas promoções é, geralmente, aderir aos cartões da loja em questão. A Fnac também faz parte do pacote de descontos da ANPF, e, neste caso, os benefícios vão da secção de papelaria à secção de brinquedos. Ser sócio dá 20% de desconto em Cartão Fnac em compras de papelaria, aos quais se somam 10% de desconto imediato. Na secção dos brinquedos, os sorrisos são espoletados nos rostos dos mais crescidos, com 10% de desconto em Cartão Fnac que acumula com os 5% do Programa de Fidelização.

Curiosamente, a Galp também figura na lista dos parceiros da APFN. “A empresa procurou-nos”, recorda Ana Cid. Os descontos oferecidos pela petrolífera variam consoante o número de litros abastecidos. Abastecimentos até 30 litros terão um alívio de quatro cêntimos por litro e, no caso de igualar ou superar esta fasquia, o desconto é de seis cêntimos por cada litro. Se, no mês anterior, o tanque tiver consumido mais de 120 litros carregados nestas bombas, o desconto chega aos sete cêntimos.

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