Inovação é fator-chave para os mercados abastecedores
As empresas presentes no maior mercado abastecedor do país consideram que o aumento do número de pessoas é um desafio para as distribuições. Assim, a inovação é um fator-chave.
Abriu portas em julho de 2000 e hoje é o maior maior mercado abastecedor do país. O MARL (Mercado Abastecedor da Região de Lisboa) é encarado pelas empresas como uma “boa aposta”, em parte devido à sua localização, em Loures. Mas, para que esta dinâmica funcione e seja obtida rentabilidade, “a inovação deve fazer sempre parte do processo”, explica Joaquim Vale, da Santos e Vale.
“O MARL é uma estrutura profundamente ligada à região e à atividade económica”, diz Bernardino Soares, presidente da Câmara Municipal de Loures, esta quarta-feira durante a conferência “Influência dos Mercados Abastecedores no Tecido Empresarial e no Crescimento Económico”, acrescentando que se pode “continuar a apostar no mercado abastecedor como um instrumento importante para o desenvolvimento da economia local“.
Fernando Torres representa uma das três transportadoras presentes no debate — a Torrestir. Presente no MARL há mais de 15 anos, o administrador explica que tem acompanhado a evolução do mercado e que a escolha desta plataforma se deveu “àquilo que poderia proporcionar em termos de negócio”. “Sem dúvida alguma que a localização é importante, daí a nossa escolha. Estamos muito próximos de Lisboa o que, para nós, é importante no que toca à distribuição“, disse. Da ótica da Torrestir, “isto faz crescer as empresas, faz com que evoluam e o trabalho feito tem sido bastante positivo”.
Logística urbana é um problema? Empresas dizem que sim
Nuno Rangel, CEO do grupo Rangel, concorda com as afirmações ditas anteriormente, refutando que quanto “à localização, à estrutura e à organização de serviços [do MARL], dificilmente haverá alguém que consiga competir”. No entanto, alerta para um desafio que está cada vez mais presente: a logística urbana. “Com um aumento cada vez mais rápido do número de pessoas, especialmente em Lisboa, há uma dificuldade na distribuição, que vai piorar. E teremos de criar soluções para isso“.
"Com um aumento cada vez mais rápido do número de pessoas, especialmente em Lisboa, há uma dificuldade na distribuição que vai piorar. E teremos de criar soluções para isso.”
Para o administrador da transportadora Rangel, uma das soluções passa por “criar alguns grupos de trabalho”, tendo sempre em conta que o “custo de uma entrega está cada vez mais apertado, e isso é o grande desafio”. Da parte da Torrestir, Fernando Torres acredita que, primeiro, “é fundamental perceber o que é a logística urbana”. “Vamos ter de reduzir o número de camiões em Lisboa e, logicamente, vamos tirar partido das questões ambientais“. O CEO esclarece que as transportadoras representam apenas 10% do movimento de veículos na capital, o que significa que “90% dos carros são os causadores do elevado número de veículos na cidade”.
Também por isso, do lado da Santos e Vale, há outra proposta em cima da mesa. “Estamos a apostar nos veículos a gás, que emitem cerca de menos 20% do dióxido de carbono que os normais. Dentro das cidades vai haver um processo de transição entre combustíveis fósseis e elétricos, e acredito que daqui a cinco anos, os construtores dos automóveis estarão reparados para construir veículos elétricos. Em termos de preço é mais barato”, disse Joaquim Vale.
“Mercado interno não vive só das exportações, mas também do consumo”
As três transportadoras reconhecem o bom desempenho do país o ano passado, em que se verificou um crescimento do PIB de 2,7%. Contudo, ainda que reconheçam o papel fundamental que as exportações desempenham nestes resultados, ressalvam que o consumo é um ponto ainda mais importante. “O mercado interno não vive só das exportações, vive do consumo. E se o consumo for muito bem gerido, Portugal é um país interessante para se viver”, disse Joaquim Vale.
Neste sentido, e para que haja essa gestão e reaproveitamento das mais-valias do mercado interno, os empresários consideram que há um fator-chave a ter em conta: a inovação. “Sem dúvida alguma que a inovação, no nosso ramo, deve acompanhar a empresa“, defende Fernando Torres, da Torrestir. “Temos de evoluir diariamente, sem dúvida que os sistema de informação no importantes no negócio, assim como a rentabilidade. Mas temos de tentar todos os dias fazer mais e melhor, e oferecer aos nossos clientes o melhor serviço que eles possam ter“, continuou.
"Sem dúvida alguma que a inovação, no nosso ramo, deve acompanhar a empresa.”
Para o administrador, “o mais difícil não é gerir cinco ou dez plataformas mas gerir as pessoas”. “Tentamos estar muito próximos das pessoas, acima de tudo para perceber aquilo que elas querem e tentar ajudá-las no que for preciso. Porque não podem ser um número, tem de ser o Manuel, ou a Maria. O negócio depende delas, sozinhos não fazemos nada”, diz Fernando Torres.
Do lado da Vale e Santos, “a inovação deve fazer parte do processo”, mas questionado sobre a forma como a transportadora põe esse desafio em prática, Joaquim Vale responde, entre risos: “É segredo”. “A rentabilidade da empresa é uma coisa importante mas, no final do dia, as empresas servem para criar valor. Para além da melhoria dos processos e das infraestruturas, a inovação deve ser feita no trabalho com as pessoas“, explica.
Câmara de Lisboa prepara plano para revitalizar mercados municipais
De forma a dar mais vitalidade aos mercados municipais de Lisboa — que são atualmente 25 –, a Câmara Municipal tem em mãos um plano de requalificação dos mesmos. Durante a conferência desta manhã, Duarte Cordeiro, vice-presidente da Câmara, expôs os principais pontos desta medida que, se tudo correr como o esperado, “resultará no aumento do impacto económico, social e cultural dos mercados na cidade”.
“A estratégia passa por tornar os mercados municipais mais competitivos, mais abertos e aproximá-los da cidade“, explicou. Assim, está a ser elaborado um “plano muito ambicioso”, que inclui, entre vários pontos, capacitação dos comerciais, melhoria dos serviços, criação de parcerias, modernização dos mercados e apoios na identidade da marca.
"A estratégia passa por tornar os mercados municipais mais competitivos, mais abertos e aproximá-los da cidade.”
Para o vice-presidente, “é fundamental ter o MARL robusto, com capacidade de intervenção, porque vamos ganhar todos com isto. Trabalhar a relação emocional das pessoas com os mercados é muito importante e se encararmos os mercados como espaços com diversidade, vamo-nos manter fortes e com impacto”, concluiu.
Rui Paulo Figueiredo, CEO da Sociedade Instaladora De Mercados Abastecedores (SIMAB), falou nos “desconhecimentos que há muitas vezes sobre os mercados abastecedores na economia do país”. Neste sentido, destacou o impacto que estes mercados têm a nível económico, adiantando que, nos últimos tempos, a estratégia passou a ser “muito mais agressiva”. “Só assim se consegue modernizar e crescer em termos de negócios”. No futuro, está prevista a construção de uma área de 5.000 m2 na unidade de Braga, que vai “aumentar em 60% os rendimentos operacionais”.
No entanto, Rui Paulo Figueiredo reconhece que “ainda há muita coisa a melhorar”, nomeadamente a “relação com o cliente, que tem de melhorar muito”. “Queremos que todos aqueles que interagem connosco estejam abertos e aptos a sugestões e críticas”.
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