Ronda pelos ministérios, jantares e almoços. Como se prepara o debate do Estado da Nação?
Quase quatro horas de debate. O ano político termina esta sexta-feira e só regressa em setembro. Governo e partidos fazem balanços e começam a lançar escadas para 2019. Como se preparam?
Quando a campainha tocar esta sexta-feira pelas 9 horas e 30 minutos, o Governo e os deputados vão caminhar para a sala do plenário para debater o Estado da Nação. O momento é usado normalmente para um balanço do ano político, mas desta vez o Governo vai traçar já prioridades para os próximos tempos. O debate que dura até à hora do almoço exige alguma preparação. É preciso ter um ponto de situação de vários temas na ponta da língua. E, por isso, o trabalho de preparação começa antes.
Foi no final da semana passada que chegou aos gabinetes dos ministérios o pedido para que fizessem um ponto de situação sobre as áreas que tutelam, sabe o ECO. O procedimento não é muito diferente daquele que é usado para os debates quinzenais, onde é preciso estar a par do que marca a agenda. A ideia é munir o primeiro-ministro de dados, informações e argumentos para a sua intervenção inicial e para as respostas aos deputados.
O trabalho é centralizado pela equipa de António Costa, com a secretária de Estado Adjunta do primeiro-ministro, Mariana Vieira da Silva, a coordenar o trabalho.
O chefe do Executivo não tem de usar toda a informação que recebe dos ministérios, mas ela ajuda a tornar mais densa a abordagem que Costa quiser fazer no debate.
Em quase quatro horas fará um balanço que será uma espécie de fecho de ano político — a Assembleia entra em férias e os trabalhos retomam em agosto -, mas segundo disse o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos, à TSF, Costa também “irá enunciar prioridades para os próximos tempos”.
Com a Cimeira da Nato, a decorrer entre quarta e quinta-feira à hora do almoço em Bruxelas, Costa só regressa a Lisboa depois de terminado este encontro. Antes disso, o Governo teve a habitual reunião semanal, que terá acontecido na terça-feira de manhã, explica outra fonte.
A ronda pelos ministérios é uma prática comum a todos os primeiros-ministros. Era assim com José Sócrates, era assim também com Passos Coelho, relatam membros dos governos anteriores. O antigo primeiro-ministro que governou entre 2011 e 2015 seguia um guião. Na segunda-feira antes do debate do Estado da Nação — este era o dia habitual para reunir o núcleo duro do Governo onde estavam os ministros com mais peso político — o encontro era mais alargado, com mais pessoas a participar. Entre as questões abordadas nestas reuniões estavam os temas que marcavam a atualidade e as informações que chegassem dos ministérios.
Ao ECO, uma fonte conta que estes encontros começavam à tarde e houve vezes em que se prolongaram para depois do jantar. Por vezes interrompiam para jantar e depois regressava à reunião um grupo mais pequeno.
Apesar de não terem um ritual para a véspera do debate, era quase “de praxe” o núcleo duro almoçar junto depois do debate. Por vezes, no Comilão, em Campo de Ourique, e noutras alturas no Moamba, que ficava em Alcântara — Passos é apreciador de comida típica portuguesa e africana.
Para a oposição, o debate do Estado da Nação também exige uma preparação especial — mas em tudo na linha do que é feito nos debates quinzenais. A articulação entre o grupo parlamentar e a direção do PSD — Rui Rio não está no Parlamento — é feita como nos debates quinzenais, ou seja, na reunião da comissão permanente que aconteceu quarta-feira. Este é o órgão do partido onde está o núcleo duro, que inclui o líder da bancada parlamentar, Fernando Negrão.
Ao mesmo tempo, conta fonte do partido, o debate do Estado da Nação é discutido na reunião da direção do grupo parlamentar, que aconteceu esta quinta-feira. Já com diretrizes da São Caetano à Lapa, os responsáveis máximos pela bancada laranja afinam o discurso. Negrão vai também ouvindo pessoas no Parlamento.
Os temas não vão fugir daquilo que o PSD considera ser incontornável: o estado da saúde – nos últimos meses têm sido várias as notícias de má qualidade na prestação do serviço público neste setor -, mas também os incêndios, que já marcaram o debate do Estado da Nação de 2017, mas que os sociais-democratas querem recuperar para salientar “o que está por fazer”.
O debate acontece numa altura em que a geringonça vive um período de alguma tensão depois de o PS ter vencido as autárquicas de 2017, o PSD ter um novo líder que assinou dois acordos com o Governo e o grosso do trabalho dos parceiros políticos do Executivo estar feito. Com eleições europeias e legislativas em 2019, o Estado da Nação promete ser mais quente.
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