A nova presidente executiva da Sonae é tímida e reservada. Parecida com o pai, herdou de Belmiro alguma teimosia e a intuição: talvez por isso seja rápida a decidir e dificilmente muda de opinião.
Julho é, por tradição, um mês importante para a Sonae, uma vez que é a altura em que a empresa realiza a sua reunião de quadros de topo, envolvendo os mais de 150 colaboradores nestas posições. A reunião deste ano, realizada esta terça-feira no Terminal de Cruzeiros de Leixões e a primeira em que Belmiro de Azevedo não esteve presente, foi bastante emotiva e simbólica. E foi ainda o momento escolhido por Paulo de Azevedo para anunciar que, quer ele, quer Ângelo Paupério, estavam de saída de funções executivas e que começava agora uma nova fase dentro da Sonae. Cláudia Azevedo, a filha mais nova de Belmiro, tomará as rédeas do grupo e sucede as dois gestores, que até agora repartiam a gestão executiva do grupo.
A decisão, comunicada agora mas que só entra em vigor no próximo mandato, é mais um passo em prol dos valores da Sonae. E Cláudia, por ser da família, assume os valores do “homem e mulher Sonae” na perfeição. Aliás, os valores que a própria Cláudia evoca na primeira declaração, por escrito, já depois de serem conhecidas as suas novas funções dentro do grupo, atestam isso mesmo.
“A nova responsabilidade é aceite com a convicção de quem olha para o futuro e tem a confiança de ter nos valores Sonae a determinação e otimismo necessários para enfrentar os desafios que seguramente surgirão“, diz Cláudia Azevedo.
De resto, estes meses — que separam o anúncio da tomada do poder — são considerados essenciais dentro da Sonae para a nova CEO ir conhecendo os — poucos — dossiês que ainda não conhece.
Aos 48 anos, a filha mais nova do clã Azevedo, divorciada e com dois filhos, é a mais parecida com o pai. Quem a conhece de perto diz que Cláudia Azevedo é muito rápida a decidir e que dificilmente muda de opinião. Licenciada em gestão de empresas, Cláudia herdou ainda a intuição do pai e até alguma teimosia. Talvez por ser a mais nova, foi a única que não seguiu as pisadas dos irmãos e estudou em Portugal. Anos mais tarde viria, no entanto, a tirar um MBA no INSEAD.
Tímida e muito reservada, Cláudia gosta ainda menos de exposição pública do que o irmão Paulo. E nem a passagem pela administração do Público a fez mudar de ideias. E é talvez essa reserva que leva a que muitos dos quadros da Sonae contactados pelo ECO não queiram para já manifestar-se sobre esta alteração. Mas, em off, vão dizendo que a decisão foi bem aceite.
Com um percurso profissional todo ele ligado à Sonae, nos últimos anos dedicou-se à gestão da Sonae Capital, holding do grupo que agrega os negócios na área do turismo, energia e ginásios, cargo no qual substitui o pai, e à Sonae IM, empresa que se tem destacado no investimento em empresas da área tecnológica. De resto, fontes próximas à Sonae adiantam que a experiência nessas duas empresas, gestoras de participações sociais, são um bom cartão-de-visita para gerir a Sonae, transformada cada vez numa gestora de participações sociais.
Os desafios de Cláudia
Apesar da mudança na comissão executiva da Sonae, não são de esperar grandes alterações estratégicas dentro do grupo. Pelo menos, nada de substancialmente diferente. A empresa, cujo volume de faturação atingiu, em 2017, os 5.710 milhões de euros, vai continuar a apostar na internacionalização, nas novas tecnologias e na inovação, tudo aspetos que agradam à nova CEO e que até, de algum modo, se aproximam do seu currículo. Cláudia Azevedo é administradora de várias tecnológicas que estão debaixo da alçada da Sonaecom e da Sonae IM. Todas elas inovadoras e com uma grande exposição internacional.
Outro dos diamantes da Sonae é a NOS, e aí não são esperadas grandes novidades, pelo menos enquanto se mantiver a parceria com Isabel dos Santos. Liderada por Miguel Almeida, Cláudia Azevedo já era administradora da operadora.
Ao nível dos centros comerciais, Cláudia Azevedo vai assumir uma pasta com mais poder, isto depois de a Sonae ter feito saber este fim de semana que tinha reforçado a participação no capital da empresa para os 70%, ao adquirir 20% do capital à Grosvenor, por 255 milhões de euros.
Também no retalho, onde a Sonae já fez saber que vai colocar em bolsa retalho alimentar e negócios imobiliário, o que espera Cláudia é substancialmente diferente do quadro atual. Porém, na altura da tomada de posse da nova presidente da Sonae, a empresa já deverá estar colocada em bolsa e a “rolar” confortavelmente.
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Cláudia Azevedo: assim é a primeira “mulher Sonae”
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